Que ironia do destino e que original da parte do destino me colocar para dormir com Miranda em uma situação dessas novamente. É inevitável não recordar da transa que tivemos, é inevitável não recordar das suas mãos em me corpo, da sua boca. Engulo em seco e observo ela afastar seu cobertor, colocando o meu travesseiro ao lado dos seus. Deitamo-nos e mais trovoadas foram ouvidas, arregalei os olhos tentando conter o medo que apossou meu ser.
—É só uma...garoa, Andréa! – Reviro os olhos com sua fala. — Não revire os olhos para mim.
Olho assustada para ela, mas, minha expressão suaviza ao notar um quase imperceptível sorriso em sua boca.
— Você se incomoda do abajur ficar aceso? – Ela para o movimento que estava fazendo para desliga-lo e volta a deitar.
— Você não pensa em fazer terapia para lidar com esse trauma, Andréa? – Ela pergunta deitada de costas para mim.
— Eu já fiz por anos, logo depois do...
— Não é desse que me refiro. – Miranda vira-se para mim.
Suas orbes azuis me deixam desnuda. Pelada? Sério, eu preciso aprender a dormir de calcinha, meu rosto esquenta ao me dá conta que novamente estou sem calcinha.
— Não, a minha vida tá uma bagunça, e sinceramente, isso nem passou pela minha cabeça.
Outro trovão, outro susto, mais uma vez o coração quase pela boca, mais uma vez o medo. Por que tudo tá tão incontrolável dentro de mim?
Miranda eleva seu braço, abrindo o cobertor, me convidando para me aconchegar a ela. Meu coração que já bate acelerado pelo medo do trovão, agora segue batendo acelerado por eu tá de conchinha com ela. Sinto meu corpo tenso. Seus dedos começam a fazer cafuné na minha cabeça, e depois da estranheza, por fim, começo a aproveitar a sensação de calmaria que seu afago me causa.
Aos poucos meu corpo vai acalmando, o barulho da chuva e trovão vão para segundo plano, me permitindo respirar mais calma, permitindo relaxar melhor e aproveitar a sensação de proteção que ela passa.
Depois de longos minutos, seus dedos param os movimentos, sua respiração já não bate mais carregada em mim, provavelmente ela tenha pegado no sono. Respiro fundo, virando-me de frente para ela. Seus lábios estão relaxados. Levemente pendido para o lado que sua cabeça repousa no travesseiro. Sua pálpebra fina me permite que eu veja o desenho dos vasos sanguíneos. As marcas de expressões desenhando raios em sua faca. Que ironia, mais uma vez da vida. Eu que tenho tanto medo deles, o encontro em seu rosto. Levo minha mão para seu rosto, e com cuidado e delicadeza o toco e no primeiro contato. Suas orbes se abrem, me invadindo a alma.
— Não queria te acordar, desculpa. – Proferi como uma criança sendo pega no flagra.
Ela nada diz, apenas segue me encarando talvez tentando entender o que eu estava fazendo. Mas nem eu sei exatamente o que estou fazendo. Volto minha mão para seu rosto, e traço com as pontas dos dedos um caminho da sua têmpora até seu queixo. Miranda fecha os olhos e respira fundo. Atrevo-me a tocar seus lábios com os dedos. Sua boca é tão linda, tão única. Aproximo meus lábios aos dela. Ainda com a mão pousando em seu rosto, a beijo, sem língua, apenas lábios movimentando. Meu corpo pede por mais contato com ela. Mas, ela afasta sua cabeça, e me afasta dela.
— Por que não? – Sussurro ainda movida pelo desejo de sentir novamente seu beijo.
— Depois você não terá para onde correr arrependida. Melhor dormirmos, Andréa, Boa noite! – Ela se vira para o outro lado.
— Eu não fugi arrependida do que fizemos. Eu fugi porque fiquei confusa em relação às coisas que o Nate falava sobre mim, em relação a você. – Confessei depois de um longo silêncio. Acreditando que ela já estivesse adormecida.
— E o que ele teria para falar de você, em relação a mim? – Ela interpela depois de um tempo.
— Que eu me deitava com a minha chefe, que eu mudei porque tenho um caso com você, e depois que transamos, eu entrei em muitos conflitos, porque ele estava certo quando dizia que eu me apaixonei por você. Eu corri porque nunca me vi como lésbica, e de repente tinha percebido que o que eu pensei que fosse admiração, na verdade é paixão, e que eu não consegui te abandonar em Paris porque eu sou completamente apaixonada por você. Mas, em nenhum momento foi por não ter gostado, ou me arrependido, pelo contrário. – Silencio-me percebendo que eu falei muito.
Percebo Miranda virar. Nossos olhos se encontram como imã. Ficamos ali, apenas trocando olhar em uma noite chuvosa de Milão.
— Por quê? – Ela pergunta tentando passar calmaria.
— Por que eu fugi? – Pergunto e ela movimenta a cabeça em negação.
— Você se apaixonou por mim.
As falas de Stephen me vêm na memoria e isso rapidamente me faz entender sua pergunta. Ofereço um sorriso sem mostrar os dentes.
— Eu gostaria de ter uma resposta sólida sobre isso, mas nem eu sei exatamente, Miranda. Eu te vejo como uma mulher tão extraordinária e inalcançável que coloquei na cabeça que tudo o que eu sentia por você fosse admiração. Mesmo que eu sentisse necessidade de agradar você, mesmo que fizesse tudo para me sobressair, mostrar que eu era boa, mesmo sempre que sem querer a gente resvalasse uma na outra, e meu corpo arrepiasse e muita vez esquentasse; mesmo quando eu tinha seu olhar sobre mim, e eu sentia frio na barriga por ser observada por você, mesmo quando eu me pegava te observando por longos minutos. Ou quando sua voz me causa arrepio. Com todos esses sinais. Eu me recusei a perceber que fosse paixão e então eu colocava essas reações apenas como respostas para a admiração que eu tenho sobre você, porque você é você. Dona de uma beleza surreal, de uma inteligência sem igual. É tão forte, linda, tão misteriosa e única que eu me apaixonar por você, por mais clichê que pareça, seria o obvio. Acho que a pergunta certa seria: Como não se apaixonar por alguém como você? Eu vejo como você é doce com suas filhas, como você consegue resolver qualquer problema, como você se desdobra em várias para ser quem eis, como você arruma seu cabelo, ou como faz bico e revira os olhos quando algo não lhe agrada. O quanto você é sensual. Tudo isso despertou meu íntimo e eu me recusava aceitar se apaixonada por você, por saber que eu jamais teria chance. Só aconteceu, me apaixonei...
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Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.