— Mas, você não acha que você já deveria se abrir para conhecer alguém? – Ele me pergunta de maneira natural.
— Claro que não, tá louco? Preciso focar no meu trabalho.
— Andréa! Pensei que você já havia chegado onde almejou chegar. Editora-chefe da BBC. Não era esse seu sonho?
Semicerro os olhos para meu analista balançando a cabeça em negação. Detesto quando ele faz isso. E ele faz para irritar.
— Sabe o que eu acho Andréa? – Ele tira os óculos após olhar para o relógio. — Que nesses cinco anos, você tentou fugir, focando no trabalho, e olha que coincidência, você me trouxe aqui, queixas sobre alguém que também fugia dessa maneira, não é? Nas primeiras sessões você estava desorganizada, não só mentalmente, e você se reconfortava de que pelo menos ela lhe deu uma recomendação. Mas, você consegue observar, que mesmo depois que sua vida entrou no eixo, você se fechou completamente para conhecer uma nova pessoa?
— Isso não é verdade. – Exclamou para ele revoltada.
— Me diz qual foi à única pessoa que você saiu para um encontro amoroso, ou a ultima pessoa que você dormiu.
— Eu estava focada na minha vida profissional, estava com divididas, trocando de apartamento, e demorei a me estabilizar, e estava com traumas pelo que Nate me fez, eu sofri violência doméstica.
— Não foi sobre isso que perguntei.
— Ela, a última pessoa foi ela. – Respondo irritada.
— Por que você ainda a ama?
— Claro que não, porque eu estava focada no meu trabalho.
— Então o que te impede em se abrir para conhecer alguém? Saia à noite, vá para um bar, se permita se abrir novamente.
— Eu não tenho tempo para isso.
— Não tem tempo, ou não consegue se abrir porque até hoje não aceitou a maneira em que ela lhe tirou da sua vida?
— Ela não me tirou da vida dela porque eu nunca estive, John, eu apenas fui uma aventura em meio a um furacão.
— Então por que até você guarda a carta? Até hoje não tem coragem de ir para o aniversario do seu melhor amigo por medo de reencontrá-la?
— Eu não vou ficar aqui. – Me levanto e sigo para saída.
— Você não consegue, e acha que saindo daqui assim, você vai ficar bem, sendo que você sabe que só ficará bem quando falar para ela tudo que guardou até hoje.
Eu realmente não tenho tempo para ficar voltando em uma situação que eu quero fazer de contar que nunca existiu. Talvez eu precise trocar de analista, John tem me irritado muito nos últimos meses. Ainda mais essa agora. —EU NÃO TENHO nada para falar para aquela pessoa. Não mesmo. — Entro no meu carro, e assim que fecho a porta, meu celular toca, olho para tela e vejo que é ligação de Nigel. Sorrio já sabendo o que ele quer.
— A resposta é não, Nigel. – Nem espero ele falar.
— Nem ela, e nem você vem já faz três anos, Six.
— E vou continuar não indo para não ter o risco de encontrar com ela, Nigel.
Fecho os olhos sentindo um gosto amargo na boca ao recordar da festa de aniversario do Nigel em que ele me deu certeza de que ela não iria, e eu fui, e bem, ao chegar lá, a primeira pessoa que dei de cara foi com a dela. Foi horrível. A primeira vez que nos víamos depois de Milão, ali, assim, sem preparo.
Liguei para John, devastada, tudo havia voltado à tona, a raiva, a tristeza, a dor, meu Deus, como eu sofri por aquela filha da p. maldita. Como aquele maldito par de olhos azuis me fez sofrer em tão pouco tempo.
E ver ela ali, esplendida, vestida em toda sua arrogância me desestabilizou. Ainda sou capaz de recordar o vestido preto, a taça de champanhe em mãos, seu sorriso frio e mecânico, os cabelos não havia mudado nada, nem sequer o comprimento. Ela estava exatamente à mesma Miranda. Seus olhos me fitaram dos pés a cabeça, como ela fazia sempre quando eu trabalhava para ela. Na mesma hora virei de costas e sai, e jurei que nunca mais iria para nenhum tipo de festa que Nigel preparasse, incluso seu aniversário.
— Pensei que você havia dito que tinha superado.
— Você e John resolveram voltar com força nesse assunto? – Pergunto ainda irritada.
— Não é como se eu pudesse voltar nesse assunto, já você nunca me deixou tocar nesse assunto, não é, Six? Afinal, você chegou de Milão apenas dizendo que queria que a Miranda Priestly morresse. Que ela era uma cretina, e que você não queria nunca mais tocar no nome dela.
— E continuo não querendo, por favor, Nigel, respeite. Continuaremos fazendo como fizemos nos últimos anos. Você faz sua festa, curte, e depois a gente curte juntos.
— Fazer o que se esse velho amigo não merece um esforço?
Sorrio do drama dele, mas, logo encerro a ligação, preciso trabalhar e pelo andar da carruagem, hoje meu dia será estressante.
— Mabel, ligue para Douglas e pergunte se ele já terminou a matéria, pois quero ver como está. – Falo assim que entro em minha sala.
— Andréa, o cronograma...
— Não está aceitável, preciso de algo que cause impacto na chamada, acho que Briana pode fazer melhor. – Abro meu notebook para enfim começar realmente meu trabalho.
Mas, poucos minutos de trabalho, e novamente Nigel me liga, me fazendo revirar os olhos. Tem três dias que ele vem insistindo nisso.
— Nem eu confirmando a não ida dela? Eu preciso de você, Andy, é um dia especial, não só por causa do meu aniversário.
— O que você está me escondendo?
— Era surpresa, mas, eu e Afonso vamos dar mais um passo na nossa relação.
— Até que enfim, Nigel. Vocês praticamente já moram juntos.
— E por isso, seria importante a presença da madrinha.
— Quem vai ser a madrinha?
— Andréa? – Sinto o timbre da sua impaciência.
— Wow, pensei que... eu, Nigel? – Não escondo a surpresa.
— Você acha mesmo que Miranda seria madrinha depois do que ela fez comigo em Paris?
— Ora, ora, parece que mais alguém tem dificuldade de superar a rainha de gelo.
— Na verdade, o convite é para as duas, mas, Miranda está viajando a trabalho e não poderá está presente hoje, mas no dia da cerimonia, estará.
Encerro a ligação com Nigel e mais uma vez me pego nos conflitos. Por que o único amigo dela tem que ser justo o Nigel?
Eu sei que eu cheguei depois na vida dele, mas... Eu não posso aceitar ser madrinha junto com ela, não mesmo. Eu não quero vê-la. Mesmo que eu ame muito Nigel, eu não posso aceitar estar no mesmo ambiente que ela.
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Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.