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Quatro noites de amor, e confesso que por mim, o tempo aqui não melhoraria por várias outras quatro noites. Sorrio ainda de olhos fechados, espreguiçando-me na cama.

Não a sinto ao meu lado, diferente do primeiro dia aqui, depois de fizermos amor, que acordei pensando que ela havia ido embora, apenas sorrio novamente. Miranda sempre pula da cama primeiro que eu.

Olho para os quatro cantos do quarto sentindo-me nostálgica das memórias que criamos nesse quarto. Cada detalhe desse lugar é testemunha do que estamos vivendo. Pena que teremos que ir partir.

Pulo da cama indo direto para o banheiro. Nosso voo é à tarde, isso significa que podemos curtir o restante da manhã, e almoçarmos juntas. Saio do banho vestida. Enxugando os cabelos, sigo para outro cômodo em busca da minha megera favorita.

— Miranda? – Questiono ao perceber o quanto está silêncio.

Nenhuma resposta. Tento lembrar se ela havia dito que faria algo pela manhã, mas não disse. Ao virar para voltar para o quarto, percebo um envelope com meu nome escrito. Com curiosidade o pego e me sento no sofá.

Andréah! Querida Andréah, assim, com o H carregando o final. Se eu fechar os olhos, consigo sentir o desespero que meu peito sentiu ao perceber que você não me seguia para o último desfile em Paris, a sensação de desprezo tomou conta de mim, e eu não quis enxergar o quanto aquela atitude sua me desestabilizou, eu não quis ver, eu tentei me apegar em não poder ficar sem uma assistente, mas, não era isso. E no fundo, eu sempre soube que não fosse. A ideia de não ter seus olhos brilhantes sobre mim, ou seu sorriso nervoso quando eu lhe analisava me invadiu causando-me sensações patéticas para uma mulher experiente como eu.

E diferente de todas as assistentes que já me abandonaram, com você eu me importei, no momento em que a sensação do abandono me invadiu, eu não queria seu abandono, e foi por isso que, quando você voltou para mim, meus olhos se prenderam aos seus de uma maneira que até hoje não encontro explicação. Gravaram em mim, seus olhos assustados e arregalados, seu nervosismo, mas no fundo um pedido para lhe deixar voltar. Você tem uma péssima mania de se deixar ler. Mas o que você não sabia, é que meus olhos também pediam silenciosamente por sua volta. E estranhamente, fizemos um pacto, eu não sei se você pensou dessa maneira, mas eu pensei que ordenando algo, seria uma resposta da minha aceitação da sua volta, e confesso que foi difícil conter a felicidade em lhe ter de volta. Questionava-me a todo o momento o porquê dessa súbita felicidade em lhe ver. Eu não costumo ficar assim pelo não abandono de um empregado, pelo contrário, é algo que me acostumei e definitivamente eu não me importo, e nunca me importei, até você. Então varri para os confins da minha mente, essa situação e emoções que despertaram em mim, a sua volta.

É ridículo como nossa cabeça funciona ás vezes, o obvio é completamente transparente, não no sentido claro, mas sim, no sentido invisível de se ver, ou eu recusava-me a dá atenção a essa coisa... Vestir-me do que costumam dizer que eu sou, é mais fácil. Então apenas agi como eu mesma, mesmo sentindo o fel de saber o quanto você se recusava em querer parecer comigo. Nunca imaginei que aquela minha fala pudesse afastar você de mim. O que eu quis dizer é que você, assim como eu, almeja a ascensão, e faria o possível para agarrar os seus sonhos, pois você tem o brio que há muito eu não via em ninguém, você é visionária assim como eu sou, você tem a garra que eu tive para chegar aonde cheguei, e ouvir que você não queria ser como eu, me doeu. Tive meu ego ferido, quem ousaria dizer que não me tinha como inspiração?

Mas, depois eu percebi que como uma garota visionária e esperta, você também foi capaz de ver em mim, coisas que os outros não viram e nem veem, e por isso, pensei que fosse isso que você não queria para você. Mas, você voltou, bagunçando toda a conclusão que eu tirei naqueles longos e doloridos minutos do seu abandono, e isso me fez tentar seguir sendo eu, com você, e tentar ignorar aquele diálogo; aquele abandono. Confesso que fora fácil, eu acostumei a fingir muitas coisas, o que não foi fácil, foi não me abalar pelo seu olhar sobre meu corpo quando eu dividi o elevador com você. Outra concessão que só você fora capaz de me fazer dá. E, mais uma vez, eu tive que controlar e continuar sendo eu, até a gente pegar o voo de volta para casa. Sorrio a fechar os olhos e lembrar aquele curativo patético da docinho, e pensar que você escolheu aquela personagem, significava que você me conhecia o suficiente para saber que entre as três garotinhas, a docinho é a que mais se aproximava do meu ser. É! Eu conheço as meninas superpoderosa, tenho duas crianças em casa... Eu achei aquele ato ridiculamente terno, seu beijo no machucado que você causou me despertou de uma maneira que eu jamais imaginaria que poderia sentir, você despertou em mim, uma onda de eletricidade que me deixou em completa inércia, Andréah. Seu toque delicado, seu olhar assustado, seus lábios macios, seu atrevimento em me tocar. Tudo, mais uma vez me desconsertou de tal maneira que eu apenas me silenciei e silenciei meus pensamentos para não chegar à conclusão do obvio. Então me peguei percebendo o quanto estava aflita e preocupada com a sua crise de ansiedade, me perguntava mentalmente se você sabia que o que você estava sentindo era ansiedade, se você sempre teve isso, o que você fazia para se acalmar, se tomava remédio, eu senti vontade de te pegar no colo e te acalmar, e me dá conta desse pensamento foi tão aterrorizante. Mas, eu engoli, me recusei a enxergar, me recusei mais uma vez a perceber quantas barreiras minha você já havia quebrado e eu apenas me importava em saber se você conseguiria melhorar. Não importei no que você pensaria quando pedi para aeromoça lhe entregar o chá, ou passar os gelos em seus pulsos, eu só queria que você não sentisse medo. Já tinha tantos indícios... E percebo o quanto sou patética.

Mas, em casa, sozinha, para variar, mesmo casada, eu percebi que você já não era apenas uma assistente sem significância, eu percebi o apresso que tinha por você, eu percebi mais coisas que preferi esconder de mim quando na segunda-feira, após a viagem, lhe chamei em minha sala para lhe dá aquele falso sermão. Dentro de mim, eu só queria dizer obrigada por voltar e perguntar se você já havia melhorado. Minha querida doce Andréah, é só lhe mantive distante por ter certeza que caso você estivesse muito presente, perceberia quão não decepcionada com você eu estava. 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora