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— Vem! – Ela me chama!

— E suas filhas?

— A casa é grande, tem lugar suficiente para conversamos. – Ela dar de ombros.

Eu pensei que iríamos para algum restaurante. Se bem que eu tentando estapeá-la, duvido muito que arriscaria conversar comigo em local público. Respiro fundo e a sigo.

— Olha quem tá aqui! – Pelo timbre de voz, sei que é Cassidy, e antes que retribua seu deboche, Miranda me olha e eu recordo do seu pedido.

— Oi Andy! – Caroline aparece passando pela sua irmã e vindo me cumprimentar.

— Meninas! Irei conversar com Andréah, e não quero ser incomodada. – Miranda profere vendo o aceno positivo de suas filhas.

Adentramos em seu escritório, ela fecha a porta passando a chave, segue até a mesa com bebidas e me oferece, eu recuso com a cabeça, então ela se serve de whisky.

— Eu não queria lhe causar tanta confusão, Andréah, até pensei que você já tivesse amando outro alguém. – Ela encara o copo como se ele fosse seu refúgio para evitar meus olhos.

— Miranda, eu só quero entender, por que você fez isso com a gente! – Meus olhos já se enchem novamente de lágrimas.

— Eu pensei que estivesse fazendo o certo. – Ela toma mais um gole e senta-se, ainda recusando me olhar.

É tão surreal vê-la evitando contato visual, logo ela que atravessa a carcaça do outro apenas com seu olhar penetrante.

— Ainda não vejo como de todo errado, minha decisão. Talvez a maneira covarde de como fiz. Mas, eu estava ainda me desligando de um casamento, a mídia cairia em cima de você caso descobrisse. Você vinha de um processo de separação traumático, com violência inclusive, e o nosso envolvimento em cima disso, em cima de vulnerabilidade nossa... e se a sua paixão não fosse paixão e sim uma válvula de escape? Você é jovem, era ainda mais jovem há cinco anos, seu caminho ao meu lado, seria mais difícil, não pense que seria fácil, profissionalmente, você conseguiria o emprego que quisesse, mas por trás, todos duvidariam da sua capacidade e diriam que você só alcançou o sucesso por estar comigo. – Ela por fim me encara. – E eu sempre soube que você conseguiria voar tão alto por méritos próprios, eu sempre soube e te estimulei a isso. Não foi só pensando em minhas covardias que tomei aquela decisão, eu sabia que o meu mundo lhe faria mal, eu não quis arriscar acabar ainda mais com o seu psicológico que já estava pedindo tanto por socorro.

— Ninguém precisava saber Miranda, eu sempre deixei transparecer o quanto eu não me importava de ficarmos as escondidas.

— Eu sou uma pessoa pública Andréah, eu tenho muitas inimizades. Um passo em falso e no dia seguinte é várias matérias na página 06, falando sobre minha incompetência. Você acredita mesmo que conseguiríamos disfarçar nossos olhares, esconder nossos encontros? – Suas sobrancelhas comprimem. — Nossa diferença de idade é gritante, Andréah, e não pense que eu não me julgo por isso. Eu me julgo desde o momento que te olhei como mulher, desde o momento em que meu corpo despertou por sua causa, eu me julgo, eu me sinto pecaminosa por lhe tirar o direito de você ter alguém jovial como você. Eu me julguei quando aceitei que você voltasse para mim, lá em Paris, eu me julguei por sentir alivio ao te ver voltando, eu me julguei por deixar você segurar minha mão naquele avião, eu me julguei por me preocupar com você, a todo o momento eu julguei, porque há tanto tempo eu não me permitia ser eu com outras pessoas além das minhas filhas, e eu me julguei por me sentir atraída por alguém tão jovem.

E quando fizemos amor a primeira vez, eu me senti tão completa, tão viva, mais mulher, que quando vi que você não estava ao meu lado, me culpei ainda mais, e quis afastar você de mim, pois, eu sempre soube o quanto eu sou difícil e o quão para mim, é fácil machucar as pessoas. Só que em Milão, nos vimos refém de apenas um quarto e um furacão, e ali, tão distante de tudo e todos eu cai na armadilha que o meu coração tanto pedia silenciosamente.

Eu queria saber como era viver um romance puro e leve, eu queria saber como é se sentir mulher amada, como é ser um casal normal e feliz, porque em todos os meus casamentos, apenas o começo era bom, mas mesmo assim eu via o interesse oculto em quem eu sou, e com você, eu sabia que você não estava interessada na Miranda vestida em grife e sim apenas na Miranda, e você conseguiu Andréah, você me deu o que sempre sonhei clandestinamente em ter. – Ela sorrir irônico. — Eu esqueci que não sou completa, eu esqueci até o quão frígida sou na cama e o quanto não me importava com sexo, pois, com você, eu me senti desperta. Com você eu me senti desejada como nunca nenhuma outra pessoa me desejou, com você eu me senti curada de todas as dores que carrego desde a minha difícil gestação, com você eu me senti verdadeiramente amada e me permiti viver naquele mundo perfeito de quatro dias.

Ela se levanta e volta a servir bebida. Vira o copo todo de uma vez e serve mais uma dose.

— Não pense que eu fiz tudo arquitetado pela mente, talvez tenha sido pelo coração, pois se fosse pela razão, eu nunca permitiria compartilhar a cama com você. – Ela sorrir. — Eu acordei como sempre, cedo, e naquele momento a nostalgia já tomava conta de mim, tomei meu banho, preparei meu café, e voltei para o quarto para lhe acordar como em todos os outros dias anteriores, senão você não acordava. Você estava tão linda, relaxa na cama, eu fiquei ali velando o seu sono, e me lamentando por ter que voltarmos para cá. E então as lembranças dos meus casamentos frustrados me vieram em mente, às falas de Stephen sempre me colocando como culpada por não ser capaz de manter um relacionamento, a fala do pai das minhas filhas dizendo que eu nunca conseguiria fazer ninguém feliz porque eu só penso em trabalhar e permanecer no topo me acertou em cheio e a realidade me veio à mente. Em primeiro momento pensei apenas em fugir, sem dizer nada, você seguia com seu trabalho e eu fingindo que não vivemos nossa curta historia, mas você não merecia isso, e eu não me sentia corajosa suficiente para lhe acordar e dizer que nossa historia acabaria ali. Eu nunca fui boa com explicações, principalmente no âmbito pessoal... no âmbito amoroso, mas eu queria, e eu me esforcei para tentar transmitir tudo o que eu sentia por você naquela carta, eu não queria que você se sentisse usada, por isso eu me desnudei em punho para você, mas, nem isso eu soube fazer. – Seus olhos estão vermelhos. — E nesses cinco anos, meu bem, não teve uma noite que eu não pensasse em você e em como teria sido se eu não tivesse me acovardado. Eu tentei me afundar em trabalho, eu tentei distrair a minha mente. Até conseguia ás vezes, afinal, tentava enxergar apenas como uma aventura, mas, quando eu te vi naquela festa de aniversario, que nossos olhos se encontraram, eu me dei conta que você é a minha primeira paixão. Parece ridícula para uma pessoa tão velha falar isso, mas realmente eu me dei conta que nunca antes havia me entregado e me apaixonado por outra pessoa.

Eu não sei o que dizer. Vejo-me completamente perdida em seu olhar vermelho, e tanta sinceridade em sua fala, em uma Miranda tão crua em minha frente, meu olhos estão aturdidos. Perdida!

— E diferente do que pensei; o tempo não me ajudou a te esquecer, Andréah, o meu desejo apenas aumenta cada vez em que eu vislumbro a sua magia que possui o avesso do meu ser profundo.

Eu nem vi quando ela chegou tão perto de mim. Suas mãos assim como as minhas, tremulas, tocam-me, entrelaça nossos dedos, eles se conectam como se fossem encaixe perfeito, feitos para isso.

— Olhe nos meus olhos e você verá o que você significa para mim.

Como se mais uma vez ela me hipnotizasse, meus olhos obedecem a seu comando, eu olho naqueles olhos azuis revoltos em mar vermelho. E como se em cima de nós houvessem fagulhas de estrelas magnetizadoras, nossas cabeças se movem lentamente em busca da união que só nossos lábios permitiriam que acontecesse.

E os lábios que no meu tocou, fez-me curinga desse momento sublime e especial que és o nosso beijo atemporal. 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora