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Ela esvazia seu copo apenas em um gole. Olha-me com resquícios de melancolia escondida em uma imensidão sombria.

— Eu vim me desculpar por todo constrangimento que elas lhe causaram, Andréah. E garanto que isso que vinha acontecendo, não irá se repetir, inclusive, as deixei um mês sem mesada.

— Não precisava ser tão radical, Miranda. – Me sinto responsável por isso.

— Não é por ter tentado contato com você, e sim por mexer nas minhas coisas. – Miranda coloca o copo em cima da mesa de centro, ao levantar. — Elas gostaram de você... Você pode ter ódio de mim, Andréah, mas elas não precisam receber respingos desse ódio. Sei que não tenho esse direito em lhe pedir isso, mas... Não as trate mal enquanto tivermos que ter contato até o casamento de Nigel.

— É só isso? – Pergunto levantando-me também e indo em direção à porta.

Miranda corre seus olhos pela sala e caminha até mim. Pego o seu casaco e em um ato falho, faço como todas as vezes que ela pedia o casaco na Runway. Só percebo isso quando meus dedos resvalam em seu pescoço.

A gente se perde no olhar novamente. São tão azuis! Sua mão gélida e macia toca a minha face, e meus olhos rebeldes, fecham-se submisso a ela. Nostalgia!

— Quer me dizer alguma coisa? – Ele segue tocando a minha pele que sucumbe a ela. Respiro fundo!

— Não! Você já falou por nós duas naquela carta. – Abro os olhos encarando seu semblante penitente.

Ela faz menção de falar algo, ela tenta, e eu não sei, mas talvez eu queira ouvir o que ela tenha para falar. Meu corpo estremece ainda sentindo sua mão macia em minha face, mas uma vez ela movimenta sutilmente os lábios e nada fala, apenas abandona minha face que agora reclama pelo frio causado pelo seu abandono.

— Boa noite, Miranda!

Ela apenas meneia a cabeça, girando nos calcanhares. Fecho a porta e percebo agora o quão acelerado meu coração estar. Permito-me escorregar lentamente para o chão, deixando toda lágrima cair de mim. Eu choro por odiar amá-la. Maldita seja essa mulher que me enfeitiçou.

(...)

— Não somos feitos apenas de razão, Andréah! O que você fala, é o que a sua razão deveria fazer, mas você também é movida por sentimentos, e você sabe que você a ama por tantas confusões, sua cabeça diz como você deve agir, e seu coração também.

— Por que eu não consegui falar tudo que tá entalado aqui, John? – Deixo minhas lágrimas caírem. — Eu... Ela disse que as filhas dela pensavam que ela ainda fosse apaixonada por mim, isso quer dizer o quê, que ela já foi apaixonada por mim, e que não é mais?

— E como você se sente com essa possibilidade?

— Ela nunca foi, não é mesmo?

— Não sei. Diga-me você o que você acha?

— Ela é complicada, ela não fala com clareza, e ela disse que cinco anos é muito tempo para voltar atrás.

Pego minha bolsa e me despeço de John, eu preciso trabalhar, eu quero trabalhar para esquecer toda essa bagunça que minha vida se transformou.

Adentro minha sala torcendo para que haja contratempos que me façam ficar atolada de trabalho, para assim, tirar os malditos conflitos internos que querem dominar a minha mente.

Mas, não consigo. Não me concentro em nada, tudo parece insignificante demais perto das minhas questões pessoais. Eu bufo. Levanto da minha cadeira pegando minha bolsa e chaves. Ordeno que Mabel desmarque todos meus compromissos e dirijo até lá, até a Runway, até ela.

Aquele corredor não parece mais tão intimidador quanto minhas questões entaladas prontas para saírem. Emily me olha confusa, a outra que eu não sei quem é também olha sem entender nada, nem eu entendo.

— Ela tá ocupada! – A estranha segunda assistente fala convicta.

— Eu não me importo. – Adentro sua sala vendo que ela não estar só, paro no meio da sala.

— Miranda... – A garota é interrompida pela mão de Miranda a mandando calar.

— Saiam! – Miranda levanta indo até a porta.

Vejo todos confusos, Joyceline que ainda é da minha época, é a que mais parece incrédula, todos saem e ouço a porta sendo fechada.

— Qual direito você pensa que tem para tirar a minha paz, Miranda? – Questiono com toda minha magoa, rancor, ojeriza e despeito. — Eu estava bem, estava feliz, por que você apareceu para me deixar confusa assim? – Aproximo dela, empurrando-a com fúria.

Miranda segura meus braços, eu só ordeno que ela me solte enquanto tento debilmente transmitir através de minhas mãos toda a raiva que eu tenho dela.

— Vamos conversar em outro lugar. Estão nos observando, Andréah! – Miranda profere ainda me segurando pelos braços, me impedindo de mostrar o quanto eu a odeio. — Por favor! – Só agora percebo seus olhos nervosos.

Acalmo-me sentando na cadeira, me dando conta do papel ridículo que estou fazendo. Eu não tenho direito de expô-la assim, e nem de me expor. Miranda dar a volta na mesa, pega o telefone, ordena que desmarque seus compromissos e prepare seu carro imediatamente. Vejo-a pegando sua garrafa d'água e despejando no copo que logo é me ofertado. Com minhas mãos tremulas e me sentindo envergonhada, pego de sua mão.

— Eu só queria te amar, Miranda! – Não consigo ficar nesse silencio torturante ouvindo minha mente gritar. — E você não deixou. Você fugiu como uma covarde, e agora do abismo do inferno ressurge?

— Não fala assim! – Seus olhos estão agitados.

— Você amou a minha carne, se alojou em meu coração e por capricho corrompeu minha alma, e agora como um suspiro morto, quer ressurgir, ou só quer se divertir mais uma vez, Miranda? – Eu não controlo as copiosas lágrimas que passeiam em meu rosto.

— Eu sabia que iria te fazer sofrer, Andréah, mas não queria você sofresse por ter decido tentar algo comigo.

— Para, não me venha com essa de não querer que eu sofresse. Porque eu sofri, eu sofri demais por você, eu me senti usada e descartada no final. Eu me senti um lixo. Senti-me pequena demais para entrar na sua vida. Mas, o que mais doeu, é que você me usou durante quatro dias, você me deixou sonhar, você me mostrou o paraíso e me sentenciou logo depois para o inferno.

O telefone toca e imediatamente ela o atende, logo em seguida o desligando. Ela se levanta, aproxima de mim que ainda estou sentada, oferece sua mão e com o olhar suplicante me pede silenciosamente para pegá-la. Eu pego, sinto novamente aquela mão macia que teve tantas vezes estimulando minha intimidade.

Ainda segurando minha mão, ela me guia até a porta, e assim que abre; eu percebo a tensão que eu causei no ambiente diante dos olhares confusos e amedrontados em nossa direção.

Ela solta minha mão para vestir o casaco, eu não ouso olhar para Emily, ela agarra sua bolsa e minha mão novamente e me guia até onde seu carro estar. Não pergunto onde ela pretende conversar, e eu já nem sei o que conversar apenas me permito ir para encerrarmos logo essa infernal furacão em que me coloquei. 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora