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— Como assim só um quarto? – Pergunto para a recepcionista, com os olhos arregalados.

— Ligue para Emily e resolva isso. – Miranda profere sem reação alguma.

Meu coração bate acelerado, sinto minhas mãos suando gradativamente. Trêmula, pego o celular e ligo para saber o que aconteceu. Emily se desespera, tem a certeza absoluta que não cancelou a reserva em seu nome, e sim, apenas passou para o meu. E após isso, semicerro meus olhos recordando das fala do Nigel e que ele ficou até tarde na revista. Encerro a ligação com Emily e respiro fundo tentando me acalmar.

— Algum quarto vazio? – Pergunto a recepcionista.

— Lamento, mas, o quarto que vocês dispensaram foi reservado logo em seguida, nessa época a procura é muito grande.

Miranda ainda me olha de uma maneira indecifrável, e antes que eu planeje alguma desculpa para ela, que não comprometa Emily, e tampouco Nigel, ela revira os olhos.

— Essa virose de Emily só pode ter acabado com seus neurônios. Vamos! – Ela coloca os óculos na cara e segue em direção ao elevador.

Entramos juntas ao elevador, e o nervosismo já toma conta completamente do meu ser. Ela entra jogando suas coisas em cima da primeira mesa que encontra, em seguida abre seu casaco e o joga em cima de mim.

— Você fica com o sofá. – Ela afirma indo em direção a outro cômodo que deduzo ser o quarto.

— Eu vou procurar outro hotel, Miranda.

— Ira encontrar em lugar muito distante, não seja idiota.

— O sofá parece confortável. – Falo a primeira coisa que me vem em mente para quebrar o silêncio constrangedor que fica.

— Me passe à agenda!

Balanço a cabeça em concordância, mas, quando abro a agenda para falar com ela, sua presença já não é mais vista por mim. Comprimo os lábios.

Acabamos de chegar, provavelmente ela foi tomar banho, deduzo, andando pelo quadrilátero. Sala grande com cozinha acoplada e em todas as junções das paredes detalhes em gesso. Lembrou-me o hotel que ficamos em Paris.

— Andréa! – Ela me chama e eu sigo em direção a sua voz.

Estanco na porta ao ver Miranda com os cabelos molhados, vestida em um hobby azul, contrastando com o tom dos seus olhos. Escapa uma gota de água de seu cabeço molhado, e essa gota trilha caminho do seu pescoço até o vão entre seus seios. Levanto meu olhar para os olhos de Miranda quando já não dá mais de acompanhar até onde a gota irá. Sinto minhas bochechas esquentarem ao vê-la me pegando no flagra. Ela pigarreia.

Ainda sem jeito, passo a agenda do dia para ela, enquanto ela se arruma. Eu tento não olhar tanto para seus gestos, e movimentos que ela faz enquanto se maquia, mas é quase impossível, e em muitos desses momentos ela me flagra pelo espelho fazendo com que eu sinta meu rosto cada vez ainda mais quente.

O dia se resumiu a encontros e apresentações, eu já me sinto exausta e é só o primeiro dia. No segundo dia, quase não nos vimos. Miranda me liberou bem mais cedo do coquetel que ela estava e como me sento cansada demais, volto para o hotel e adormeço sem ouvi-la chegar.

No terceiro e último dia, Milão não está com o céu tão lindo como costuma tá. Sinto calafrios ao perceber que virá chuva.

Entramos no salão de mais um desfile que acontecerá. Miranda fotografa com vários estilistas, e é entrevistada por vários jornalistas, e após isso, segue para sua cadeira na primeira fila. Ao final do desfile me permito curtir um pouco o ambiente.

E então, no final do nosso último dia, a cidade começa a ser agredida por fortes rajadas. Entramos no carro e se eu pudesse me ver, diria que meus olhos assustados entregam o quanto estou nervosa. Minha respiração fica mais rápida.

— Nosso voo amanhã será que horas? – Ela parece pausar a bolha de medo que cresce dentro de mim.

— As nove, Miranda.

Vejo pessoas correndo de um lado para o outro, árvores balançando fortemente, algumas envergando e automaticamente começo a estalar os dedos das minhas mãos.

— Já se mudou Andréa? – Ela mais uma vez me tira de dentro de mim.

— Ainda não. – Respondo sem jeito, estranho sua pergunta. Miranda não costuma jogar conversa fora.

— Precisa de algo em relação a isso?

— Não! – Assusto-me tentando tampar a boca com o clarão que deu no céu escuro. — Desculpa Miranda.

Ela nada diz. Eu sinto como se estivesse suando frio. Chegamos ao hotel e o chuvisco já havia se tornado uma chuva grossa e contínua.

Ela segue direto para o seu quarto, e eu para o banheiro social, tomar um banho quente para tentar me acalmar. Eu não entendo por que estou sentindo tanto medo assim, é como se eu tivesse voltado para os primeiros anos depois do que me aconteceu por causa daquela tempestade. Eu me acostumei com o medo e sabia controlar melhor, agora, parece que qualquer ventania aflora tudo de novo. Choro debaixo do chuveiro sentindo como se estivesse regredindo em relação a isso. Eu não quero voltar a ter medo de qualquer chuva, eu não quero voltar a não ter domínio dessa situação. Eu não quero me sentir uma fracassada que tem medo até de uma tempestade.

Olho no espelho me sentindo uma patética por ter chorado no banho por não querer ter medo da chuva, meus olhos estão vermelhos e inchados, reviro os olhos e saio do banheiro, já vestida no pijama, pronta para dormir.

Cogito em perguntar se Miranda precisa de alguma coisa antes de deitar para dormir, mas, desisto, nas duas noites anteriores fora assim, o dia acaba a gente chega, ela se tranca evitando contato, hoje não seria diferente. Arrumo minhas coisas, deixando o sofá livre, pego o travesseiro e cobertor, me cubro da cabeça aos pés tentando ignorar as rajadas que causam forte barulho nas janelas.

A gente nunca percebe de fato quando dorme, só percebe que dormiu quando acorda, e eu acordei assustada, não sei se tive um pesadelo, ou se foi algum trovão, pois a sala, mesmo com ás luzes apagadas está ficando clara por causa dos raios.

Olho atrás do sofá com a sensação de que tinha alguém em pé, ou sei lá. Sento no sofá sentindo um medo absurdo tomando conta de todo o meu ser. Não sei se é da chuva, ou é por pensar que estou sendo observada, eu não sou capaz de explicar meu corpo todo treme.

— O que você faz aí? – Vejo sua mão branca esticada para mim.

Olho tomando consciência de que estou debaixo de uma das mesas da sala, encolhida e assustada. Eu sinto vergonha. Nem sei em que momento e como vim parar nesse lugar, apenas do forte medo que estava tomando conta de mim.

Seguro sua mão sem dizer uma só palavra, Miranda não pergunta mais nada, apenas me ajuda a sair dali, ainda segurando minha mão, ela pega meu travesseiro e cobertor, e guia para o quarto.

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora