— Eu não acredito. Mas o que é isso? Virou bagunça a minha redação? – Questiono adentrando a minha sala pisando forte.
— Elas... Desculpa Andréa! – Mabel pede nervosa.
— Ela é mesmo bonita, bem que você falou. – Ouço o espelho de Caroline falar como se eu não estivesse ali. —Você tem quantos anos?
Percebo que a que pergunta é Cassidy. Caroline tem os olhos mais brilhosos e o rosto levemente mais afilado e parece menos atrevida que essa garota que acaba de perguntar a minha idade com um tom de voz mais grave que a irmã.
— Eu tenho trinta, vai me cadastrar em algo que eu não saiba? – Sento na minha cadeira.
— Sim, vendo se você é capacitada para entrar na minha família, mas com essa arrogância, acho improvável passar pela peneira, pois, o papel de arrogante já é da minha mãe.
Meu queixo cai. Eu simplesmente bugo, não consigo acreditar no que acabo de ouvir, meu cérebro recusa a processar tanta audácia.
— Olha garota, quem disse que eu quero entrar para sua família? – Sorrio nervosa. — Agora faça o favor de se retirar, preciso trabalhar.
— Andy, essa é minha irmã, Cassidy, Cassy, essa é Andy? – Caroline fala com voz doce e receosa elevando os ombros.
A garota atrevida vai até minha porta, fecha, passando a chave, volta com o nariz empinado, senta-se novamente, cruza as pernas e mais uma vez me analisa. Miranda não ensinou bom senso para essas garotas não?
— Você e minha mãe tiveram algo, por que terminaram?
— Pergunte para sua mãe, agora façam o favor de sair da minha sala.
— Ah, então vocês tiveram mesmo algo. – Caroline fala eufórica olhando para a irmã, e eu percebo que acabei de cair no verde que Cassidy jogou.
Elas trocam olhares surpresos e travessos, e eu sinto minha alma saindo do meu corpo. Miranda vai me matar quando descobrir que eu contei que a gente teve algo.
— Quando eu disse para perguntar a mãe de vocês, referi a qualquer duvidas que vocês queiram tentar tirar comigo. – Tento corrigir. — Agora dar licença que realmente estou ocupada e já tem pessoas querendo entrar para a reunião extremamente importante. – Aponto para porta de vidro, e elas acompanham o olhar, vendo que realmente tem pessoas esperando elas saírem para entrarem.
Caroline é a primeira a levantar, ela vem até mim, me abraça me pegando de surpresa.
— A gente pode lanchar mais tarde, Andy? – Ela pergunta doce.
— Claro, ou eu vou dizer para mamãe que você contou que vocês tiveram um caso enquanto você trabalhava para ela. – Cassidy profere cruzando os braços em desdém.
— Foda-se o que você vai falar para sua mãe, ou não, não é da minha conta. – Retruco e ela tenta me fuzilar com os olhos. Eu faço o mesmo.
— Você não deveria falar palavras de baixo calão.
— E você não deveria estar aqui. – Me levando e sigo até a porta, abrindo para elas saírem.
Caroline me dar tchau e antes que eu feche a porta depois que os diretores para reunião entram, ouço Cassidy dizer que gostou de mim. Não sou capaz de conter o franzir das minhas sobrancelhas e o balançar em negação de minha cabeça. Garotas atrevidas!
(...)
— Eu não entendo por que agora todo mundo deu para falar que eu estou imitando a Miranda em algo, primeiro, Nigel, disse que eu me transformei em uma copia mal feita dela, depois as gêmeas, as gêmeas não, a Cassidy, disse que arrogância só cabia à mãe, querendo dizer que eu estava tentando ser arrogante como Miranda.
— E você mesmo disse a ela que não queria ser como ela, não é mesmo? – John me faz revirar os olhos com sua fala. — Faça uma comparação de quem você era, e de quem você é. Sem esquecer que todos nós passamos por processos de mudanças e ás vezes, precisamos tomar decisões e ter comportamentos impopulares até para nós mesmos.
— Você não sabe como é difícil ser mulher John, e ser mulher a frente de algo para comandar. Os homens sempre nos olham como se fossemos cometer erros a qualquer momento, e que estão prontos para resolvê-los, como se fossemos incapazes e se a gente não estiver sempre de cara fechada, e sendo direta, e firme, eles dificilmente nos levam a sério. Se eu falar assunto A, todos os homens tem dificuldade em levar em consideração, caso eu fale em tom maleável, e se qualquer homem, também falar o mesmo assunto A, em tom maleável, eles levam em consideração e a sério, na mesma hora, mas, para eu ser levada a sério, eu tenho que impor, "fechar" a cara, tenho que ser firme, direta e muitas vezes até grossa.
— Imagina para Miranda Priestly que deve ter começado com sua idade e até hoje precisa se impor e condicionou a agir assim. – Ele levanta as duas sobrancelhas.
— Imagina para Miranda Priestly. – Repito mais para mim.
Assim como na cozinha, o mundo da moda é extremamente machista, algo controverso, levando em consideração que as duas coisas são consideradas coisas de mulher.
— Não estávamos falando das demonias filha? – Tento voltar ao assunto ao perceber que voltamos a falar apenas da Miranda.
— E você pretende se encontrar com elas?
— Se eu não aceitar, elas vão me infernizarem ainda mais do que já estão desde quando foram no meu trabalho.
— Você pode impedir a entrada delas no jornal. – Ele me entrega a solução.
Mas, eu olho para o relógio e percebo que deu minha hora, tenho uma reunião que não posso me atrasar. Despeço-me dele e sigo para meu trabalho tentando não transparecer a minha ansiedade de que depois do expediente estarei no mesmo ambiente que Miranda e suas insuportáveis filhas.
Mas, a pergunta que martela durante esses dois dias que passaram desde que as meninas invadiram meu trabalho, é de onde elas tiraram que eu e Miranda tivemos algo?
Será que Miranda deixou escapar algo, e elas desconfiaram depois que descobriram que Miranda guarda recortes meu? Por que ela guarda recortes meu? O que ela pretende com isso? Foi ela quem terminou, foi ela quem me abandonou, foi ela que não quis arriscar, por que disso agora depois de tanto tempo?
— Eu não posso focar meus pensamentos nisso, eu preciso focar no meu trabalho. – Repito para mim, respirando fundo, sentindo um gosto amargo na boca.
Fazia tanto tempo que minha ansiedade não atacava com tanta frequência, sinto vontade de chorar e toda insegurança que escondo querer tomar conta da minha superfície.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.