— Ela tá ocupada, Mabel? – Ouço de minha sala, Nigel perguntar.
Desligo a ligação sabendo que não adiantaria minha secretaria dizer que eu estou ocupada, conto até três e o assisto ele entrando em minha sala.
— Nem que eu mande três brutamontes te arrastar, você vai, Andréa. – Ele me chamou de Andréa, realmente ele está bravo.
— Você tem todas as minhas medidas, Nigel, o combinado é de eu ser a madrinha e não ter que ir à Runway experimentar vestido.
— Chega desses surtos, se você não a superou. Tudo bem, apesar de já fazer tantos anos, Andréa, agora dificultar e complicar um momento importante para mim, que é de felicidade e comemoração já é demais. Você bate tanto na tecla que amadureceu, mas não consegue parar de olhar um minuto sequer para o seu umbigo, na verdade, você não amadureceu coisa nenhuma, só se transformou numa copia mal feita dela para esconder os sentimentos. Porque ela sabe lidar com essa situação muito bem e você não. E eu não vou mais ficar adulando e nem forçando nada. Você é peça fundamental na minha vida, foi o meu cupido com Afonso, somos íntimos, e eu quero muito, do fundo do meu coração, que você participasse de tudo Andréa, mas se você acha que não é capaz de guardar esse rancor que sente dela, e ir até a Runway para o provador da textura do tecido para o vestido que eu mesmo estou desenhando e irei costurar para vocês, saiba que não terá como você ser madrinha. Algo que você já não queria mesmo. Era isso que eu vim falar, tenha um bom trabalho.
— Nigel. – O chamo.
—É amanhã depois do expediente, não precisa ir maquiada. Se decida, pois preciso escolhe outra pessoa para se madrinha. – Ele fala da porta.
Sai sem me deixar falar nada, me deixando com a consciência pesada. Respiro fundo fechando o notebook. Pego minha bolsa e encerro o expediente por hoje.
Em casa me deito no sofá tentando não pensar muito sobre tudo, sobre como comecei a me perder novamente. Acabo dormindo ali mesmo.
(...)
— Em que você acha que ele tá errado no que falou? – Ouço John questionar e eu me afundo completamente no divã.
— Em nada, ele tem razão, estou agindo como uma garota mimada, como se eu tivesse o quê, vinte anos? Sabe John, talvez eu não tivesse culhão para ter uma relação com ela. Eu não superei nada, eu só finjo que superei que sou forte, mas eu não sou forte.
— O que você se refere quando diz que tá agindo como uma garota mimada!
— É uma data tão importante para Nigel, ele me escolheu para ser testemunha, madrinha de um momento tão único, eu sem pensar duas vezes, o escolheria para ser padrinho do meu casamento. E eu estou tirando todo o brilho que esse momento deveria ter, eu não quero ser essa pessoa, eu não quero ser essa amiga. Ele é mais que um amigo, ele me ajudou tanto, me deu um teto, me deu colo, eu o amo tanto, ele tá certo, eu preciso parar de olhar só para o meu umbigo.
(...)
Eu sei que deveria vir, mas, eu não sei... A vontade de fugir se apossou de um jeito em mim. Olho para o prédio da Elias-Clarke, a mesma fachada, a mesma cor. Fecho os olhos e imagens de mim há cinco anos vêm em mente. O quanto eu mudei trabalhando nesse lugar. Tento controlar a ansiedade que veio com força. Respiro fundo algumas vezes e tento não pensar tanto. Saio do carro com a bolsa em mãos, como se ela fosse algum escudo para que eu me sinta mais confiante.
Novamente a sensação nostálgica toma conta de mim. A cada passo que dou, é impressionante como me afeta. Sorrio balançando a cabeça em negação ao lembrar as minhas afirmações de nunca mais pisar os pés nesse lugar... e onde estou?
O elevador abre, e a vontade de vomitar vem forte de dentro de mim. Vontade de chorar também. Miranda segue gostando do ambiente claro. Nada mudou... Nada! Exatamente nada.
— Você ainda lembra qual a sala? – A voz de Emily me faz pular de susto.
— Olá, Emily! – Tento fingir não tá tão abalada com tudo isso.
— Sim, eu lembro. – Sorrio sem graça ao perceber que ela me olha dos pés a cabeça.
— Realmente passar pela Runway te fez bem.
— Você também tá ótima.
Ela agradece e se despede, e as recordações dela tentando não surtar me vêm em mente. Será que ela ainda repete com frequência que ama o seu trabalho?
Aproximo do Studio de Nigel, engulo em seco ao perceber que ele não tá só. E ao invés dele seguir olhando para mim, e vir me receber ao perceber minha chegada, ele corre os olhos para ela, que tá de costas, pelo que parece, analisando um dos tecidos. É impossível o meu olhar não acompanhar o dele.
— Desculpa o atraso, tive uns contra tempo no jornal. – Profiro e todos me olham, inclusive ela.
— Andy. – A adolescente demônio profere vindo sorridente em minha direção.
Eu faço um esforço tremendo para não olhar para Miranda enquanto sua filha me dá um abraço. Miranda odeia toque, porque ela não ensinou isso para suas demônias?
— Oi, Caroline, como está? – Sinto minha voz tremula.
— Estou feliz por ter vindo. – Nigel me abraça. — Obrigado, de verdade. – Ele sussurra em meu ouvido.
— Boa noite! – Falo para todos da sala.
Não consigo ouvir a voz dela respondendo. Eu tento não olhá-la. Mas não resisto e nossos olhos se encontram.
Aquelas imensidões azuis já estavam sobre mim. Miranda segura o tecido, mas segue imóvel. Mordo o interior da minha bochecha não conseguindo desviar o contato com ela. Ela sempre teve esse poder de prender o meu olhar ao dela.
É incrível como ela não mudou nada, o cabelo segue igual, a cor, o tamanho, a pele. Definitivamente os boatos de que ela dorme no formal, começa não parecer tão absurdo agora. A postura. O ombro sempre para trás, tão altiva. Como o roxo combina com ela, como cores forte combina com ela, como suas roupas transcendem seu ser... Eu preciso quebrar o contato.
— Onde coloco? – Olho para Nigel com pedido de socorro nos olhos, e ele percebe que o pedido é mais que simplesmente para onde guardar a bolsa.
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Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.