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Ouvir o barulho dos saltos de Miranda e sua voz imponente verberando pelo corredor da revista, me causou um frisson que me deixou um tanto encabulada, e sem entender o por que. Provavelmente a ideia de que com aquele meu surto em abandonar Miranda, isso significaria que eu nunca iria ouvir o barulho dos seus saltos, sua voz firma e suave, seu cheiro e jamais estaria novamente sentindo o calor energético que a atmosfera daquela revista totalmente clara me causa.

Ponho-me em pé, ainda habituada em receber seu casaco e bolsa para que eu guardasse, mesmo que essa tarefa já não seja mais minha desde semana antes de irmos a Paris. Então ela me olha sem esboça reação alguma, vira para a mesa de Emily e despeja suas coisas nela. Meus olhos automaticamente vão para suas mãos, e claro que ela não estava mais com o curativo da Docinho. Senti vergonha de mim por aquela situação e meu ato ridículo.

— Café! – Ela profere já dentro da sua sala.

Imediatamente sigo para a copa, já havia deixado esquentando no micro-ondas, calculando o tempo que ela levava do holl de entrada do prédio até o andar da revista.

— Seu café, Miranda! – Coloco em cima da mesa, e ela sequer olha para mim. — Deseja mais alguma coisa, Miranda?

Ela puxa o ar com força, tira os óculos lentamente, repousando-o na mesa, e me manda sentar. Meu coração nesse momento parece uma chuva de raios e trovões. Seria ali o meu fim?

Pelo menos eu estava bem vestida, toda trabalhada na sobreposição, com uma clássica camisa branca, e um suéter preto sobrepondo ela, ficando em evidencia apenas a gola e o punho, e calçada é claro, com scarpin do jeito que eu sei que Miranda aprova. Olho para ela com cara de quem já esperava o fim. Inocentemente pego meu bloco de anotações enquanto me sento tentando fazê-la pensar que eu realmente não faço ideia do que se trata o futuro assunto que ela tem para tratar.

Mesmo ela ainda não falando nada, desde o momento que ela me mandou sentar, eu sabia, apenas sabia que é relação a Paris que ela queria falar.

E então ela se levanta, segue para frente da mesa, bem próxima a mim, e eu consigo ver cada detalhe da sua roupa, seu blazer preto sobrepondo à camisa branca, um cinto vermelho quebrando um pouco do P&B na calça preta. — Já disse que estou nervosa? — Meus olhos analisa atentamente cada detalhe da roupa de Miranda. Tento fechar meus lábios tontos que mais parecem geleia enquanto olho para ela.

— Sabe por que te contratei, An-dre-ah? – Antes mesmo que eu tentasse falar algo, ela estende a mão ao alto, me fazendo calar. — Você apareceu com o seu ótimo currículo, com seu discurso sobre a chamada ética no trabalho, eu achei que você seria diferente, disse a mim mesma, vai tenta, contrate a garota esperta e gorda. Apesar da aparecia horrenda, eu me questionei, por que não? Tinha esperança. Meu Deus, como tinha. — Ela inclina seu corpo para frente, para olhar bem para meu rosto amedrontado e constrangido. — E você acabou me desapontando mais que qualquer um das outras. E sabe por quê? Porque Paris é a semana do ano mais importante para mim, preciso do melhor time comigo, e eu acreditei que você pudesse fazer parte.

— E-eu, eu fiquei assustada, Miranda. – Falei tentando engolir o choro que queria sair a todo custo. Queria muito não ter me abalado com as palavras de Miranda, mas é impossível. — O que você fez com Nigel, eu sei que foi o mesmo que fiz com Emily, em uma proporção menor, é claro, e eu fiquei com medo de voltar a repetir, eu não quero ser igual você.

— Então por que voltou Andrea? – Miranda cruzou os braços me olhando com uma das sobrancelhas arqueadas.

Enquanto tentava encontrar uma resposta dentro de mim, me pus em pé, e me arrependi no mesmo momento em que percebi que ficamos tão próximas. Seus olhos azuis brilhavam tanto, suas linhas de expressões que só eram visíveis de tão perto, porque a maquiagem escondia tão bem, seu lábio inquieto.

— Eu não sei Miranda. – Abaixei minha cabeça envergonhada. Realmente eu não sei. Minha mente não conseguia formular nada. — Eu pensei em você sozinha, precisando de alguém de confiança, principalmente depois do que descobri com Christian. O golpe que eles queria te dar e como mesmo diante de tudo, você conseguiu ficar intacta. Eu não, talvez por fora você estivesse mesmo intacta, mais por dentro... Eu não poderia deixar vo..

— Isso é tudo! – Miranda dar a volta na mesa, abre seu laptop, interrompendo minha fala.

Apenas balancei a cabeça em concordância, e pela primeira vez, saio sem perguntar se ela precisa de mais alguma coisa.

Meu coração está tão descompassado, eu estava com um nó na garganta. Decepcionar Miranda nunca foi minha intenção, e saber que eu fiz isso, me deixou tão mal, e o pior é que eu nem sequer sei o porquê, já que sabemos que ela é uma megera.

O restante do dia para mim foi péssimo, nem sequer consegui ir até sala de Nigel ver se ele estava bem depois de tudo que aconteceu. Miranda definitivamente queria dar o troco, me dando enumeras ordens o qual eu já não aguentava mais de tanto cansaço, praticamente fomos as ultimas a sair da revista, e para minha infortuna surpresa, Encontro Nate a minha espera do lado de fora da Elias Clarck.

— Até que enfim o dragão de gelo libertou a escrava. – Ele segurou meu braço com força. — Ou por esse horário você estava agradando a chefe de outra maneira?

— Nate, para! – Exclamei surpresa e nervosa diante de sua atitude. — Você ficou maluco? – Dei um sacolejo para que ele soltasse meu braço. – Não tive coragem de olhar para ver se Miranda havia ouvido e visto essa cena lamentável. Apenas acelerei meus passos querendo definitivamente sumir, morrer, desaparecer, sei lá.

— Eu venho aqui para te buscar para jantar e tenho que esperar a boa vontade daquela maldita chefe te liberar mesmo depois do expediente.

— Cala a boca, nunca mais dirija uma palavra sequer para mim. Quando chegar ao apartamento, eu só quero que você arrume suas coisas e vá embora.



 Espero que gostem, aguardo feedback de vocês nos comentários. 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora