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— Podemos conversar? – Ela mexe na corda do seu casaco.

— É meia noite, o que você faz aqui, Miranda, quer dizer, como você sabe onde moro? – Não escondo minha confusão e surpresa em meio à sonolência.

— Endereço de algo, ou de alguém, não é algo que eu não saberia Andréah. – Ela dar de ombros. — Vai me deixar entrar? – Sua marra pareceu vacilar agora.

Reviro os olhos dando espaço para ela entrar. Miranda tira seu casaco e o estende em minha direção. A chave do carro ela deixa em cima da mesa de centro. Miranda senta-se e me olha parada ainda com seu casaco em mãos. Ela arqueia uma das sobrancelhas. Saio da inercia balançando a cabeça em negação, vou até o cabideiro deixar o casaco e volto, sentando-me na outra extremidade do sofá.

— Então? – Incentivo ela a falar o que quer que seja que veio falar.

— Vim te pedi desculpas, Andréah! – Ela profere depois de pigarrear, arranhando a unha polegar, com a outra unha do dedo polegar. Sem me olhar.

— Desculpas? – Não escondo minha estranheza.

— Isso! Pelo o que minhas filhas fizeram, e como vem se portando até agora. – Miranda suspira e eu não sei... mas, me sinto decepcionada. — Depois das suas queixas, hoje mais cedo. Bem... – Miranda suspira novamente, prende seus olhos em uma pequena estátua do outro lado da sala. —Isso é tão embaraçoso. – Ela sorrir tensa. — Através de Nigel, eu descobri que você já sabe que eu guardo algumas lembranças suas. – Seu rosto está ficando vermelho e isso ainda é fofo para mim.

—É! Eu sei. Mas, aonde você quer chegar com isso, Miranda? Você colocando limites para elas não tentarem entrar na minha vida, tá ótimo. – Sai com mais rancor do que eu gostaria.

—Eu não sabia que elas tinham conhecimento sobre essas coisas. – Ela parece não ouvir o que eu falei. — E hoje, quando eu as confrontei em relação ao comportamento delas para com você, elas disseram que você contou a elas que tivemos um caso.

— Não é bem assim, eu não contei, elas agiram como se já soubesse.

— Não se preocupe, conheço as filhas que tenho. – Ela dar de mão. —Por um momento eu vi meu mundo desabando. Mas, então elas falaram que já desconfiavam que eu sentisse falta de alguém. Que não entendiam porque eu sempre fazia questão de assistir a nova ancora do BBC, sendo que eu odeio televisão.

— Você me assistia? – Pergunto surpresa, sentindo um frio no estômago.

Querendo, ou não, é a Miranda Priestly, a pessoa mais influente não só no mundo na moda, e uma crítica dela, é de ditar o destino de qualquer pessoa que pensa em entrar para o ramo de comunicação.

— Nunca duvidei do seu talento, Andréah, tinha certeza que você voaria alto. – Ela me olha e eu sorrio sendo retribuído por ela.

— Aprendi muito trabalhando com você. – Confessei abaixando por um momento minha cabeça.

— Aprendeu! – Ela me olha com brilho nos olhos, como se estivesse orgulhosa?

A gente se perde novamente no olhar uma da outra, a atmosfera sempre muda quando estamos juntas. O tempo parece em pause, os moves parecem desfocados. Tudo nessa sala parece tá em segundo plano. Como se apenas eu, e ela estivéssemos nítidas e o resto, fosse apenas resto. Eu não sei o que se passa em seus pensamentos, e nesse momento, não sou capaz de ler meus pensamentos, pois, me vejo completamente rendida aos seus azuis hipnotizantes.

— Pode me oferecer uma bebida? – Sua voz parece tão distante, tão rouca, tão obscura tentando entrar no consciente perdido em seu olhar marcante e débil.

Levanto-me desconsertada pela troca de olhar. Caminho até o barzinho sentindo seu olhar sobre mim. Tento controlar meu corpo tremulo, sinto toda carne do meu corpo vacilante. Respiro fundo segurando a garrafa de whisky. Será que ainda é sua bebida favorita depois do champanhe? Eu não consigo virar para perguntar, eu ainda sinto seus olhos sobre mim. Agarro o copo largo e compacto como se ele fosse receptor de toda eletricidade que percorre o meu ser. Assisto o líquido da cor de carvalho abandonar seu lar, para preencher o vazio de algo similar àquela garrafa.

O silencio da meia noite é tão alto, que o barulho do líquido sendo derramado dentro do copo reverbera pelo ar.

Como disse, assim que me viro para voltar. Eles estão bem em cima de mim. É difícil fingir que esses olhos já não têm poderes sobre mim.

Estico o copo de bebida, e a conjunção desse presente momento intenso e um futuro diferente e descompromissado que nascem possibilidades de distorcer o tempo e o espaço, me faz vacilar mais uma vez, pois, eu não sei há quanto tempo estamos nos encarando após nossos dedos se chocarem por causa do compacto copo de whisky. Eu ainda gosto desses gélidos dedos quentes que eriçam minha submissa pele.

Miranda toma um generoso gole, eu tinha certeza que ela faria isso, por isso eu servi mais que apenas uma dose. Talvez eu ainda saiba lê-la.

Ela brinca com ponta dos dedos sobre a boca do copo, esses mesmos dedos que ficaram brincando com as aréolas dos meus seios, os mesmos movimentos, a mesma delicadeza. Ela rodeia com a ponta do dedo do meio, assim como fazia em mim.

— Eu queria uma explicação delas, mas, eu não esperava o que iria ouvir Andréah, elas eram tão novas e inocentes para perceberem que eu sofria... – Miranda toma mais um gole da bebida. — Eu nunca permiti que elas me vissem vulnerável, e mesmo assim, elas deram um jeito de ver. Elas sempre souberam que algo de anormal havia entre mim, e aquela garota que aparecia na tela de nossa TV, mas elas não conseguiam compreender o quê. Até que alguns meses atrás, elas infringiram uma regra importante estabelecida por mim. Mexeram nas minhas coisas. Ligaram para Nigel e ele contou que você foi uma assistente minha. Caroline disse que só lembrou realmente quem você era, quando você perguntou se ela ainda gostava de Harry Potter. – Miranda sorrir. Eu retribuo. Recordamos a situação por trás disso. — Elas disseram que Nigel não confirmou nada demais, apenas que eu saberia que você teria sucesso. Mas, eu sempre fiz questão de educar e ensinar minhas filhas para enxergarem além do que os olhos permitem ver, e por isso, que na primeira oportunidade, elas chegaram até você. – Miranda se levanta, como se fosse dona da casa, caminha até o bar, agora são meus olhos que acompanha cada movimento seus. Ela se serve com a bebida que tanto gosta, e eu balanço a cabeça em negação me sentindo ridícula por ter comprado essa bebida, dessa marca, por ser a favorita dela, pois, de bebida eu sempre entendi tão pouco. Ela coloca muito mais que eu coloquei da primeira vez.

— Você veio dirigindo? – Pergunto e ela me olha confusa. — Bebida e direção são coisas que não combinam, e bem, você mais que ninguém sabe separar o que não combina.

— Não se preocupe. – Ela toma mais um gole generoso. — Não pense que é fácil vir aqui.

— E o que elas querem? – Tento corta seja lá que viria.

— Por eu ter uma caixa exclusivamente sobre você, elas pensavam que eu poderia ainda ser apaixonada por você, que poderíamos resgatar seja lá o que tivemos, elas só queriam talvez sei lá... bancar o cupido e me ver feliz.

— Isso é ridículo. – Profiro tentando disfarçar o impacto do "ainda ser apaixonada" causou em mim.

— Cinco anos é muito tempo para voltar atrás. – Ela me encara.

Eu não sei o que falar, eu não sei como agir, eu nem sei o porquê ela estar aqui ainda, ou o que quis dizer com isso, eu só sei que sinto vontade de chorar, de abraça-la, de gritar, e estapear, eu sinto vontade de tantas coisas, mas apenas me sinto presa em seus olhos. Ela não é a rainha de gelo, ela é a Medusa que hipnotiza, isso sim. 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora