— Eu me perdi completamente de mim, John.
— Foi tão ruim?
— Péssimo! Nigel tinha razão, ela lida melhor, ou talvez eu tenha razão, ela superou, ou sequer sentia realmente algo por mim, para ter que superar. Ela me disse oi, ela me disse oi, com tanta facilidade John. Pra quê ela veio me dizer oi bem depois de eu já ter chegado?
— E como você reagiu?
— Eu a ignorei e sai de perto dela. – Me viro para encará-lo, e ele me manda virar para frente. — Eu estava tão nervosa, tão fora da minha zona de conforto. Aquele é o ambiente dela, John, ali, ela manda, eu estava novamente dentro do ninho do dragão. A Caroline é tão engraçada, eu acho que me daria bem com ela, caso eu e Miranda tivéssemos tido uma relação.
— Então o seu sofrimento é por algo que não teve, e não como as coisas terminaram?
— Não me faça pergunta difícil. – Sorrio nervosa. Péssima mania que nunca vai mudar.
— Teve outra tentativa de aproximação da parte dela?
— O Nigel não quer os vestidos iguais e nem com a mesma cor de tecido. Ele estava em duvida sobre o meu, ela estava com um em mãos e mais uma vez aproximou-se de mim para testar o contraste dele sobre minha pele.
— E dessa vez você deixou?
— Não! Mas eu descobri que talvez eu ainda saiba lê-la. Ela mordeu a lateral do lábio inferior fazendo um bico. Isso significa que mesmo com em contragosto, ela aceita.
— Então você acha que ela ficou incomodada por você impor um limite em relação a ter contato com ela?
— Eu acho que ela só estava com medo da Caroline perceber, ou Nigel, eu não sei até onde Nigel sabe da parte dela.
— E você acredita que agindo assim foi melhor para você?
— É estranho ignorar Miranda Priestly. O mais estranho é ela querer vir falar comigo como se não tivesse quebrado o meu coração. Eu dei meu coração a ela, ela colocou em um prato e cortou calmamente em pedaços pequenos e mastigou. Agora agir assim, como se não tivesse feito nada? Ela pensa o quê? Que pode tudo? Quer se divertir em cima de mim?
— Talvez ela pense que você já superou, e por ambas serem madrinhas de Nigel, querendo, ou não, vão ter mais contato até a cerimonia e ela não quer transformar isso em um mar de desconforto.
— A gente teve que tirar fotos juntas. Nigel estava no meio. Só que a demônia da filha dela disse que tinha que ter foto só das madrinhas entre os tecidos e os croquis dos nossos vestidos.
— Você aceitou?
— Eu tinha escolha? – Sorri irônica. — A gente acabou se tocando, e ela não fez esforço para se afastar John, e meu corpo sentiu a mesma eletricidade que sempre sentiu em todas as vezes que a gente se tocou. Por que eu não consigo superar aquela diaba?
— E você quer superar ela?
— Eu preciso ir, tenho que trabalhar.
— Você espantou meu paciente e entrou na vez dele, e vai embora assim, no meio da terapia como em todas as outras vezes que eu te confronto?
—É eu vou. – Pego minha bolsa e praticamente saio correndo da sala dele.
Talvez na próxima sessão eu conte a ele que quando estávamos saindo, ela sugeriu que todos fossem jantar, e claro que eu neguei, ou que quando eu estava escorada na porta do meu carro tentando controlar a minha respiração por causa da ansiedade, Caroline me ofereceu uma bala para ajudar a controlar a ansiedade. Como raios aquela peste sabe que eu estava em uma crise de ansiedade?
Tento mais uma vez não deixar todo esse caos da minha vida pessoal entrar no profissional tentando focar apenas no trabalho.
(...)
— Fico feliz que você pode vir Nigel.
— Eu também, Six! – Ele coloca suas coisas na mesa de centro e senta no sofá.
— Você sabe por que eu fiz esse jantar para nós? – Pergunto com sorriso no rosto.
— Tenho minhas desconfianças. – Ele semicerra os olhos.
— Para me desculpar por tá agindo como uma idiota, e para matar a saudade, a gente tem se encontrado tão pouco, estou com saudade.
— Você quer saber dela, não é? – Ele me ajuda com os pratos.
— Não, juro que não. – Sou sincera, eu só quero me desculpar.
— Que bom que minhas verdades fizeram efeitos, Six, e aproveitando, que comportamento mal criado foi aquele? Pensa que eu não vi?
— Eu sei que você viu, e é por isso que eu não queria ir, para não deixar o clima pesado, e além do mais, ela não tinha nada de vir falar comigo. – Coloco os copos e ele os talheres.
— Ela não tirava os olhos de você.
— Nigel, eu não quero falar dela, já basta na terapia, Miranda para mim, morreu.
— O que ela fez de tão grave que você nunca me contou, hum?
— Vamos falar do seu casamento? – Sugiro tentando não transformar aquele momento nosso em um momento de lamentação da minha parte, como tanta outras vezes.
Nigel fica entusiasmado, me conta de como quer tudo perfeito e original, principalmente por ser um casamento gay. Ele quer causar no mundo fashion. Mas engulo a seco quando ele me relembra que teremos mais encontros até os vestidos ficarem prontos e que na próxima semana é o provador. Ele percebe a minha tensão ao falar isso.
— Eu agradeço por você tá fazendo esse esforço por mim, Andy, você significa tanto para mim.
Dou-lhe as mãos, ele pega, sorrio para ele e a gente troca olhar em cumplicidade. Ele sabe que eu faria tudo pela nossa amizade.
— Sua enteada te adorou, né? – Ele senta no sofá com a taça de vinho.
— O quê? – Olho para ele com cenho franzido.
— Caroline... – Ele me olha travesso, me assistindo revirar os olhos.
— Na festa ela perguntou se era eu a Andréa. – Esvazio a minha taça e logo a encho novamente.
— Tem alguns meses que as gêmeas descobriram nas coisas de Miranda, uma caixa com recortes de jornais, e revistas, e fotos suas. Elas ficaram curiosas e me perguntaram sobre. – Olho para ele com os olhos arregalados. — Eu não disse nada, mas você sabe que minhas Liliths são espertas. – Ele sorrir me olhando debochado.
— Mas...
— Tire você suas conclusões. Agora eu tenho que ir, meu futuro marido me espera. – Ele deixa a taça em cima da mesa de centro, pegando suas coisas.
O levo a porta, nos abraçamos e o vejo partir. Assim que fecho a porta e me jogo no sofá, o questionamento do por que Miranda tem minha trajetória até aqui guardada em uma caixa toma a minha mente. Sinto vontade de ligar para John, mas pelo horário, pondero e tento me segurar até a próxima sessão.

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Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.