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Assisti Nigel pegar um molho de chaves, me dá um beijo na minha testa e dizer até logo, deixando eu e Miranda a sós.

— Você não precisa ficar. Não sei onde Nigel estava com a cabeça... – Profiro nervosa, mesmo entre lágrima, o riso de nervoso aparece.

— Você quer que eu faça um copo de leite? – Miranda questiona entrelaçando os dedos na altura do estômago enquanto olha ao redor. — Eu vou fazer um copo de leite para você tomar e se acalmar. – Ela segue rápido para cozinha.

Vendo Miranda olhar em volta da cozinha procurando algo, deduzo que sejam os copos. Eu não sei, mas vê-la, possa ter ajudado para fazer com que eu pare de chorar.

— Terceira porta. – Ela me olha em clarão, arqueia uma das sobrancelhas e dar uma leve inclinada na cabeça.

Ela pega o copo, abre a geladeira, pega a garrafa de leite, enche o copo, e vem em minha direção. Miranda estica o copo em minha direção. Eu agradeço sem jeito e o pego.

Miranda senta-se no sofá na diagonal de um quadrado, alisa suas pernas do joelho até a coxa.

Se eu não soubesse quem fosse Miranda Priestly, certamente afirmaria que ela tá nervosa.

— De verdade, Miranda, você não precisa ficar.

— Eu sei! – Ela cruza as pernas.

Limito em tomar o leite gelado que ela me serviu sem saber como agir. Minha cabeça passa um turbilhão de coisas, e pensar em algo em relação a Miranda é algo que realmente não estou preparada. É como é como se fosse uma conquista impossível, varro para o ultimo tópico do que eu tenho para me preocupar.

— Os homens foram ensinados a ser autossuficiente, Andréa, eles crescem desde os primeiro anos tendo a certeza que tem a força, enquanto nós mulheres somos condicionadas a crescer acreditando que precisamos deles para tudo, inclusive para ser feliz. – Miranda parece ficar distante. — Eles são debilmente guiados para sobreviver, para se sentirem bem, enquanto as mulheres não tem chance de se conhecer, de saber o que quer, ou do que é capaz. E quando algo acontece que os frustram principalmente no relacionamento, a culpa é toda nossa. – Miranda tira seus óculos e leva a haste para boca. — Somos responsáveis por não agir como eles querem, porque eles foram ensinados que a gente precisa fazer de tudo para agradá-los, pois eles são alfas e nós? Mulheres que não somos capazes de viver sozinhas dizem. E quando eles percebem que a gente descobre que somos sim capazes de vivermos sozinhas, de sobreviver, de reinventar, eles criam a guerra fria, guerra dos sexos, guerra velada onde a todo o momento ele tenta invalidar a voz da mulher, as queixas e exigências, quando ele percebe que mesmo com toda essa pressão psicológica, com todo teatro de manipulação não mais funciona, eles começam a se desesperar, pois além da força, a única coisa se sabe fazer e resta, é bater no peito e dizer que é homem e então agride. Palavras destrutivas, e mãos pesadas sobre corpos delicados de uma mente que foi ensinada que a responsabilidade de uma relação a qual só daria certo se ela se reprimisse dentro dela e abdicasse de todos os seus desejos.

Miranda suspira, eu não entendo muito bem o que ela tenta dizer além de que a culpa não é minha. Mas pareceu que ela falava com ela mesma. Ela me olha, balança a cabeça em movimento continuo voltando a colocar os óculos.

— É por isso que eu quis por logo um fim, antes eu pensava que a culpa era minha, ou da Runway, mas, depois, eu percebi que não era que eu gostava de onde estava, e do caminho que venho trilhando e isso não o agradou, mas antes mesmo disso, já não era igual... Eu já não o amava. O que me decepciona é saber que ele foi capaz de fazer tudo isso.

— Você escolheu o seu trabalho, somos fadados a fazer escolhas e em todas elas iremos perder alguma coisa.

— Também. Mas, vendo melhor, eu escolhi não levar em diante uma relação onde o encanto já havia se apago há tanto tempo.

— E o que você pretende fazer agora?

— Eu não sei, ele me deixou endividada, sem nada, sem roupas. – Sorrio em lamento. — Estou usando as roupas da revista desde quando ele me agrediu e vim para cá, e agora não tenho nada além dos meus documentos e bloco de nota.

— Não se preocupe em relação a isso, Andréa. – Ela me olha de maneira que eu não sou capaz de decifrar.

— Faça a soma dos alugueis atrasados, e das coisas que ele quebrou do dono do apartamento e procure um novo para você, que eu custeio.

— O que? – Arregalo meus olhos, incrédula.

— Alguma deficiência auditiva? – Ela é ácida.

— Eu não posso e nem vou aceitar isso, Miranda.

— Você estaria sendo burra.

— Você acha o que, que eu quero me aproveitar do seu dinheiro?

— Quem está dizendo isso é você.

— Eu não preciso do seu dinheiro.

— Ah não? Então me conte Andréa, como irá pagar os alugueis atrasados e também alugar um novo apartamento, vai pedir seus pais? – Ela revira os olhos enfadada.

— Eu não me apaixonei por você pensando em me aproveitar do seu dinheiro, Miranda. – Sinto meu corpo esquenta de raiva.

— Você o quê? – Ela olha com os olhos arregalados.

Eu tento voltar alguns segundo atrás para ver o que eu falei, e quando me dou conta, também arregalo meus olhos sentindo agora minha pela quente de vergonha.

O hiato entre o silêncio e nossos olhares que se encontraram indesejavelmente foi grande. Eu não consegui desvia e parece que Miranda também não, pois ficamos ali, paradas, uma olhando para a outra em total silêncio. Talvez Miranda quisesse uma resposta, mas uma resposta do que se eu acabei de dizer a ela que sou apaixonada por ela? Talvez ela não tenha escutado direito, ou se escutou, precisa ouvir porque prefere ter ouvido errado.

— Que eu...

— Não! – Ela eleva uma mão ao ar, como me impedindo tanto com gesto quanto com palavras, para que eu não prossiga. — Diga para Nigel me ligar. – Ela passa por mim, pega sua bolsa e eu sigo atrás.

Miranda espera que eu abra a porta, mas ao invés disso, seguro seu braço, ela me olha assustada de onde minha mão a segura até meus olhos. A gente se encara por longos minutos. Sinto sua respiração perto, seu cheiro me invadindo e me inebriando. Sinto-me completamente perdida em seus olhos, ou talvez me encontre ali. Sua respiração é quente, meus olhos se fecham sem que os comande, minha boca se abre delicadamente enquanto sinto seus macios lábios cumprimentando os meus. Solto seu braço, levo minhas mãos para sua nuca, aproximando-a ainda mais de mim, nossas línguas movimentam preguiçosas uma dentro da boca da outra. O gosto do seu beijo é tão gostoso. Como eu posso ter me viciado se eu provei tão pouco?

Ela segura meus braços, me afastando, fazendo nosso beijo cessar, e antes que eu abro os olhos, ouço a porta sendo aberta e seus saltos tilintarem para longe de mim.

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora