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— Se colocares para fora aquilo que tens dentro de ti, isto irá salvá-lo, mas se guardar dentro de ti, isso irá matá-lo.

— Eu não quero saber de frase de efeito, eu quero que você me diga o que fazer, porque eu não posso ir, mas eu sei que vou tá sendo egoísta, pois, Nigel sempre esteve comigo em todos os momentos, e na verdade vou tá mostrando que eu não superei porra nenhuma, que na verdade eu só queria que ela tivesse dado uma chance para nós. Que droga!

— Você quer ir embora! – Ele fala calmo.

—É eu quero ir embora.

— Você sempre faz isso.

— Eu superei sim, eu só não aceitei.

— A gente só supera depois que aceita, Andréa.

— Eu vou aceitar, eu vou ir para o aniversário, eu não posso deixar isso mexer comigo assim. Ela seguiu em diante, e porque eu não?

— De onde saiu sua certeza de que ela seguiu em diante?

— Ela sempre segue em diante. E eu não me importo com isso, em deveríamos tá falando dela de novo.

— É uma fantasia lúdica e infantil de um emocional imaturo querer que venha do externo aquilo que você sabe que só vem de dentro de você. Não é você deixando de ir para um aniversario, ou deixando de ser madrinha de casamento do seu amigo, que esse sentimento vai morrer dentro de você, não é fugindo de encarar aquilo que lhe machucou que você vai curar a ferida. Ela estava nesses cinco anos aí, colada, coberta por um curativo e que agora se abriu e você não ver que tá sagrando, e pedindo para ser cuidada e curada, prefere se apegar numa mentira que você tenta se contar a todo o momento, e isso só tende a doer mais e mais.

— Eu vou para o aniversário. – Levando-me sem graça.

Acredito que minha terapia nunca tinha sido tão ruim como foi nessas duas vezes em que vim aqui hoje.

— John, obrigada, mais uma vez me atender de novo, só hoje. – Sorrio sem jeito, ele balança a cabeça em concordância e eu saio da sua sala.

Eu não posso perder o controle assim, é como se tivesse voltado ao começo, quando comecei a vir. Iniciava a sessão, abandonava a sessão e no mesmo dia voltava. Eu não quero voltar para o começo. Reviro os olhos pegando meu celular.

— Pode confirmar minha presença, senhor Nigel.

— Eu sabia que você não iria decepcionar o seu fiel amigo, Six. Não se preocupe, ela realmente não estará presente.

Encerramos a ligação e sorrio irônica, de que adianta ela não estar lá, se no dia da cerimonia vai estar ao meu lado?

Ligo para minha secretária pedindo para ele remarcar um jantar que eu teria hoje e vou para o salão, mesmo sabendo que ela não estará presente, eu sei que meia dúzia das pessoas que rodeia ela, estará presentes.

Quem sabe ela escuta pelos corredores da Runway o quanto eu venci na vida e deixei de ser aquela garota gorda e de franja que não sabia diferenciar tons de azuis?

Balanço a cabeça em negação achando meu pensamento ridículo.

Maquiada, e com os cabelos perfeitamente ondulados, opto por um vestido na cor vinho, colado ao corpo, e um salto Armani.

Pego meu celular e sorrio ao ler uma mensagem de Nigel, dizendo que já me espera e que não é para que eu desista. Coloco o aparelho na minha bolsa, pego a chave do carro e saio em direção à festa do meu amigo.

Não vou negar que a ansiedade me toma, e tampouco se passa na minha cabeça a possibilidade dela estar lá, mesmo Nigel jurando que ela não vai estar. Eu sou ansiosa, diagnosticada, é claro que mil e uma possibilidade e teoria se passam na minha cabeça durante todo trajeto até o local da festa de Nigel.

Estaciono o carro, respiro fundo sentindo o frio na barriga cada vez mais forte. Mas, qual é? Eu já tenho trinta anos e isso não muda? Reviro os olhos, saio do carro, me visto de editora-chefe da BBC poderosa e madura que sabe exatamente o que fazer da vida, e sigo em direção à entrada.

— Six! – Ele exclama com um grande sorriso nos lábios. Quem ver, nem imagina que ele passou os últimos três dias me atormentando. — Fico tão feliz por ter vindo.

— Eu também por ter conseguido vir. – Eu sempre acabo sendo sincera com ela.

— Você tá de matar. – Ele me gira no próprio eixo, me fazendo rir sem jeito.

Eu não estava errada sobre meio mundo da Runway estar presente. Sigo em direção a Afonso e seus pais. Cumprimento-os e por ali fico alguns instantes tentando não me sentir deslocada na festa.

Quando pego a primeira taça de bebida, uma garota ruiva, de cabelos longos e rosto fino aproxima-se. Tomo um gole da bebida e sorrio simpática assim que ela fica a minha frente.

— Oi, você que é a Andréa? – Ela é direta, me fazendo levantar uma das sobrancelhas.

— Depende! Se for para falar de trabalho, não. – Sorrio

— Não, eu nem trabalho. Tenho só dezesseis anos. Estava curiosa para conhecer você.

— Por quê? – Não escondo minha estranheza.

— Você realmente é muito bonita, bem que o tio Nigel tinha razão.

— Obrigada?

Ela sorrir, tomando um gole de drink.

— Ei, você tem dezesseis anos, não pode beber.

— Relaxa, é sem álcool. – Ela dá meio sorriso.

— Qual seu nome?

— Caroline Priestly. – Ela olha no fundo dos meus olhos ao falar seu sobrenome.

— Ah! Você é uma das pestinha que quase me fez perder o emprego uma vez. – Finjo que não me abalei por estar de frente para uma das filhas de Miranda.

— Eu era uma criança com gênio difícil, Vamos passar uma borracha nisso. Eu posso ficar aqui com você? – Ela toma mais um gole do drink. — Estou me sentindo deslocada sem nenhum amigo da minha idade.

— Você tem uma irmã não é?

— Cassidy não pode vir. Tá com papai em outro continente.

— A titulo de curiosidade, você ainda gosta de Harry Potter?

— Não, por quê? – Ela me olha curiosa e com estranheza.

— Nada! – Tomo o gole da minha bebida balançando a cabeça em negação.

Por Cher, ela tá ficando a cara da mãe dela, como cresceu.

— Por que você perguntou se eu era a Andréa? Que Andréa você se referia? – Pergunto atrapalhada para variar.

Ela me olha com o sobrolho comprimido idêntico como muitas vezes sua mãe fazia quando eu não elaborava uma pergunta clara e literal.

— Nada! Curiosidade. – Ela sorrir.

Nigel aproxima-se de nós. Traz alguns outros amigos dele para se juntar a nós, e confesso que depois de um tempo, a festa começou a ficar legal. Fazia tanto tempo que eu não saia, precisava realmente me divertir. 



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Se colocares para fora aquilo que tens dentro deti, isto irá salvá-lo, mas se guardar dentro de ti, isso irá matá-lo.  ( Frase do Evangelho de Tomé)

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora