Me viro devagar e observo a figura parada próximo ao piano, vestindo preto da cabeça as mãos, a luz agracia a pele pálida feito mármore e a torna veludo, a leveza elegante da sua postura me faz compará-lo a sua mãe, tem cabelos escuros em um topete desgrenhado e traços marcantes.
— Me chamo Leila, sou a nova cuidadora. — Avanço alguns passos até chegar nele e cogito estender a mão, trinco os dentes evitando tal ato...Ele é cego sua besta.
Victor eu suponho, é da mesma altura que eu, talvez uns dois centímetros mais alto, tem um cheiro de vinho antigo e consegue intimidar mesmo não enxergando, apenas mantendo o rosto fixo a frente do meu.
— Já sei quem você é...A ideia da minha mãe é mais patética do que qualquer outra que tenha tido antes...Enfim. — Diz sem importância, inclinando o rosto para o lado, pelo visto não tem a mesma empatia receptiva que Carlota.
Meu estômago quase revira.
— Sinto muito pelo seu acidente. — Tento ser o mais amigável possível, acompanhando seus passos adiante pela sala.
— Não sinta, não pedi piedade. — Corrigi a voz rouca e tão cortante como estilhaços...Bem grosseiro...Porém compreendo sua revolta.
Victor para e deixa a varinha especialmente para sua condição encostada no sofá, seus passos são bem calculados e até nervosos, como Carlota disse: “Ainda não se adaptou”.
— Ela está apenas cuidando de você... — Balbucio cruzando as mãos sem jeito atrás do corpo musculoso a minha frente.
— Posso me virar sozinho. — Victor garante friamente, se sentando no sofá com pesar.
Pelo visto não será fácil como eu imaginava.— Vejo que já conheceu meu filho. — Carlota sorri ao entrar na sala e nos ver próximos.
Victor contrai o canto dos lábios incomodado e impaciente.
— Leila, aqui está seu horário. — Carlota se aproxima e entrega o papelzinho para mim, o pego e guardo no bolsa da calça, está ótimo para mim.
Victor cruza uma perna sob a outra, parece que cada simples respirar o estressa.
— Te disse que não é necessário, e mesmo
assim você não me respeitou...devia estar preparado, típico da senhora. — Reclama o homem dos olhos verdes selvagens, elevando aos poucos a voz, Carlota mexe na orelha desconfortável e constrangida.— Não seja tão grosseiro Victor, quero seu bem...Não tem sido bom estar sozinho nas suas condições...
— Estou cego, não inválido, pare de me tratar como um peso vivo. — Victor vocifera interrompendo Carlota que se assusta com tal ato hostil.
Que homem antipático e grosseiro, coragem Leila.
— Não deveria tratar sua mãe assim. — Murmuro do canto, não posso me calar diante de tamanha falta de respeito.
Victor levanta bruscamente e desequilibra para o lado.— Não se intrometa, não lhe cabe opinar aqui. — Victor diz com raiva a mim, parece não ter um pingo de empatia e paciência.
— Não grite comigo, não vou permitir. — Replico ainda mais perto, sentindo o calor da sua respiração agitada. Não aturo desaforo.
— Pouco me importa, não pedi para estar aqui. — Victor acrescenta com desdém e emiti estalo com a língua virando para Carlota.
— Está fazendo ela perder tempo, sabe não é? Detesto que me tratem feito inválido e é tudo que a senhora está fazendo, ridículo. — Victor busca a varinha para sair da sala, Carlota cogita ajudá-lo, porém contém as mãos consigo, chateada.
Mesmo que seja compreensiva, eu não consigo entender como aceita tal comportamento deste estúpido.
— Sai da minha frente. — Diz com acidez a mim, percebeu que estou no caminho graças a varinha que encostou no meu sapato.Retiro a estrutura da frente e o vejo sair apressado, batendo os pés feito correntes de chumbo sob o piso e tombando a cintura em diversos móveis.
— Desculpe por ele...Victor não é assim. — Pede Carlota encarando o chão, encolhida por tal acontecimento ter me envolvido também.
Carlota não parece ser uma mãe ruim e duvido que esteja desrespeitando Victor apenas por querer ajudá-lo.
— Não precisa se desculpar, provavelmente não é um bom dia para ele. — Respondo sentindo o clima tenso abater nós duas na sala.
— Victor ficou deste jeito depois do acidente, mas é um bom garoto. — Carlota explicou gesticulando com dúvida ainda de cabeça baixa, mal sabe as palavras que deve usar. Não sei ao certo o que houve com o branquelo que me assustou, mesmo assim não estou com raiva dele...Ficar cego sendo tão novo no mínimo é motivo suficiente para esta revolta toda.
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Calma gente, o Victor é assim, mas tem seus motivos, aguardem os próximos capítulos.
Espero que estejam gostando, tentarei lançar dois capítulos de uma vez amanhã. Boa noite 🥰
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𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada]
RomanceLeila, ou Le como costumam chamar, é uma mulher que tem que lutar contra problemas diários assim como todo brasileiro, porém entre tantas questões da sua vida, a maior é: o desemprego. Por mais que seja necessário, estudo não garante emprego após se...