Abri os olhos e já senti o estômago gelar, Victor me deu um leve cutucão para avisar que tínhamos que levantar e seguir.
— Acorda dorminhoca, chegamos. — Falou em tom entusiasmado apontando o corredor do avião.
Bocejei ainda esperando a alma voltar para o corpo, alonguei as pernas e respirei fundo. Sai do meu lugar e dei espaço para o donzelo tirar o traseiro do banco.
— Não vai me ajudar com as mãos malas? — Perguntei puxando a mala do bagageiro.
Victor torceu o nariz preguiçoso.
— Você babou a viagem inteira no meu ombro, me dá um desconto. — Pediu se fazendo de coitado, que exagerado.
— Oh! Pobre camponês. — Brinquei revirando os olhos e peguei as malas dando nas mãos dele uma delas, folgado.
Victor apenas deu risada baixinho.
— Espera as pessoas saírem, esse povo é tudo mal educado. — Resmungou o velho de oitenta anos com uma cara emburrada.
— Vossa majestade não se mistura com a plebe. — Deduzi para deixá-lo bravo e revidar sua gracinha há pouco. Iríamos pegar um táxi e segui para casa da tal tia.
Cliquei no aplicativo do celular e solicitei o táxi mais próximo, enquanto Victor movia-se ansioso, parecendo um pião.
— O casal vai querer ir até aonde? — Diz o motorista quando o vidro abaixa, quase engasgo na própria saliva, Victor sorri achando graça, mas continua quieto.
— Não somos um casal. — Corrijo o homem calvo que aguarda resposta, Victor solta um grunhido indecifrável e entramos no carro.
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Pouco depois.
Chegamos e fomos recebidos por uma mulher baixa dos quadris largos, roupas hippie e brinco de pena na orelha esquerda, na verdade estava mais para um apanhador de sonhos usado do modo errado. A tia de Victor, Ofélia.
A casa é imensa, tipo a dos filmes clichê americano, na entrada tinha uma piscina, ao redor o pequeno gramado junto com regadores automáticos, algumas estátuas de duendes coloridos, suponho que seja religião. Uma pequena árvore ao lado da porta de vidro da entrada da sala, que está aberta, entramos atrás de Ofélia que nos recebe muito bem, simpática e extrovertida. Vejo os vitrais da casa e que tem uma santa pregada na parede direita.
A seguir tem um cantinho com puffs bege claro e tapete, junto de um cesto de crochê no chão onde certamente tem algo guardado. Brinquedos espalhados, de cachorro e de criança, será que ela tem filhos? Um cinzeiro acima da mesa de centro, um par de sapatilhas rosas.
— A senhora tem filhos? — Digo por curiosidade deixando a mala por conta do empregado que vem nos ajudar nisto.
— Na verdade tenho uma banguelinha que conquistou meu coração, ela é minha filha adotiva, a tirei do orfanato porquê morri de dó da coitadinha, também não posso ter filhos da própria fábrica, então... — Ofélia não termina a frase, parece orgulhosa e triste ao mesmo tempo, por falar disto.
Não deve ser fácil tirar uma criança do orfanato, tampouco se ela queria ter filhos, saber que não pode gerar dentro do útero.
— Eu já volto, vou pegar um suco para vocês! — A mulher da voz musical diz, enquanto isto, eu e Victor ficamos parados em pé diante da sala pouco arrumada.
— Oi, meu nome é Nandinha. — Ouço uma voz anasalada invadir a sala, abaixo o olhar e vejo a pequena menina me encarando com uma expressão tímida.
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𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada]
RomantikLeila, ou Le como costumam chamar, é uma mulher que tem que lutar contra problemas diários assim como todo brasileiro, porém entre tantas questões da sua vida, a maior é: o desemprego. Por mais que seja necessário, estudo não garante emprego após se...