4-Primeiro dia

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Carlota me apresentou todos os funcionários da casa desde os jardineiros até os motoristas e me receberam muito bem, ninguém comentou nada a respeito de Victor, talvez não seja tão agradável com os funcionários... Ou não era antes do acidente.

Acidente este que até agora ninguém me explicou bem como ocorreu.

Durante toda minha vida sempre fui otimista; se não deu certo hoje — tente de novo amanhã. Afinal um dia nunca é igual ao outro não é mesmo.

Voltei para casa e fui com minha mãe até o poupatempo, começou a chover e tivemos que esperar passar para voltar, o vendaval do litoral é mais agressivo, quando chegamos já eram mais de dez horas e meu pai ainda estava trabalhando.

Dia seguinte.

Entro na cozinha amarrando meu cadarço do tênis que usei anteriormente e Isabel está mastigando algo enquanto conversa com dona Ivone.

— E aí baixinha. — Cumprimento ela com a mão fechada.

— Está bonitona hein, vai aonde? — Pergunta vendo minha roupa social que não tenho costumes de usar obviamente.

Dou um beijo em Ivone e pego um copo para beber café.

— Arranjei trabalho, começo hoje. — Respondo enchendo o copo de vidro com o líquido fumegante.

Isabel sorri largo curiosa.

— E lá tem alguém digno da madame? — Empina o nariz fazendo gracinha.

Dou risada da sua palhaçada.

— Não começa. — Murmuro tentando conter o riso admirando sua careta engraçada que exige mais explicações.

Dona Ivone não segura a risada também.

— Como ele é Le... vai me diz. — Pede manhosa fazendo biquinho e juntando as mãos acima da mesa em súplica.

Bebo mais um gole de café e penso a respeito.

Aquele olhar não saiu da minha cabeça desde ontem.

— Ele é filha da mulher, ficou cego depois de um acidente... Não foi muito simpático não viu, até gritou com a mãe dele na minha frente. — Comento sentindo desconforto só de lembrar da saia justa.

Isabel torce o nariz arredondado.

— Argh, que babaca...— Resmunga reprovando a atitude a qual comentei.

Deixo o copo em cima da pia e ajeito meu relógio de couro falso no pulso direito.

— Não fala assim Bel... Nem imagino nos piores pesadelos como é perder a visão tão cedo. — Revelo a minha irmã mais nova que ajeito o cabelo liso com franja divida acima da testa.

Realmente...Mesmo assim não é justo tratar a coitada assim né. — Bel acrescenta sendo sincera como sempre foi e Ivone resmunga concordando.

— Uma mãe sempre quer proteger o filho do mundo todo. — A frase gruda nas paredes da minha mente distraída.

Estou ficando atrasada, preciso correr.

— É... está na minha hora, beijo meninas. — Me despeço com dor no coração da minha irmã, porque só vou vê-la novamente próximo sábado quando não terá aula na faculdade.

Nós falamos sempre por WhatsApp e Messenger, porém não é igual ter o privilégio de abraçar ela.

Minutos depois.

Ao chegar, procuro a Carlota e não encontro, a casa está silenciosa e vazia de um modo bizarro, o único som presente é dos meus passos e da ventania.

𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora