Me despedi da minha mãe e do meu pai por telefone, já tinha despedido pessoalmente, mas despedi de novo, nunca se sabe né... Não sou pessimista ou exagerada —, o destino reserva muita bomba para gente, então devemos sempre expressar o quanto amamos aqueles que estão perto.
Mal entramos nesta bagaça gigantesca e eu já sinto o estômago revirar, as mãos suando frio —, o homem do meu lado não parece nenhum pouco aflito ou ansioso.
A serenidade chega a ser estranha.
Encontro as poltronas e nos sentamos, fico longe da janela para evitar piorar o meu pânico de ver o avião decolar, subindo cada vez mais e me distanciado da segurança do solo —, ajeito as malas no bagageiro de cima e em seguida me sento quase esmagando o celular que deixei sob o banco —, mal lembrei desta porcaria.
Nunca estive tão nervosa na vida, aliás, quero tanto abrir as janelas —, mesmo sabendo que é impossível... Não é um ônibus velho não Leila, é a de UM AVIÃO.
Quase consigo escutar um rico arrogante dizendo para mim: é da classe alta, não espero que você entenda sua pobre suburbana cafona.
Estou perdendo o juízo já.
Me sinto sufocada, o corredor do avião nem é tão apertado —, todavia me sinto amassada, como se estivesse sendo espremida sem dó. É como pular de um trampolim.
Que agonia, credo. Formigamento nas mãos, garganta seca.
— Leila, sem querer ser chato, mas o avião só decola quando você sentar o bumbum na cadeira perfeição. — Diz Victor num tom debochado e impaciente, poderia lhe dar um beliscão bem generoso agora, porque é muito fácil para ele que já sabe a experiência e não tem as mesmas sensações que eu né... Palhaço.
Onde eu me meti... que ideia idiota, Leila! Por que você não encheu o saco até convencê-lo a ir de navio? Agora é seu lindo corpítio que está em risco tapada! Este vira lata tem uma lábia que eu vou te contar viu... Difícil resistir.
— Se disser mais uma palavra, juro que te jogo da janela. — Digo sem nenhuma graça, sentando no meu lado do lado dele que dá risada, quero dar um murro nele, sinceramente... Não tem um pingo de graça não Victor, você me paga.
Puta merda, esse negócio vai levantar voo! Dá para entender isso? Levantar voo!
— Coloque o cinto boneca, senão na primeira turbulência você vai voar pelo corredor. — Aconselha Victor ainda debochando do meu pavor que mal me permitiu pensar nesta droga de cinto.
Faço exercícios de respiração e trinco os dentes para este lindo rosto do sonso humorista do meu lado.
— Não consigo me mexer, é sério... Estou surtando. — A voz sai quase um chiado, não consigo realmente mover um músculo.
Victor fica sério, inclinando o busto em minha direção.
— Leila, é um avião docinho, não um tanque de guerra, agora respira fundo, bebe um pouco de água e confia em mim ok? Nem vai perceber quando decolarmos. — Assegura carinhosamente encaixando o cinto no lugar exato acima do meu quadril, está tão perto que sua respiração atinge meus seios cobertos pela camisa preta.
Quando ele se afasta, tento respirar fundo e o diafragma contrai bruscamente quando um tranco faz o avião balançar —, a voz da comissária informa que decolamos. Devo estar parecendo a Bella Swan quando morreu agora, que horror —, a loucura está em dia né amor?
Sinto a pele quente dele em contanto com meus dedos frios, o toque causa borboletas no estômago... Estou apertando demais a mão na dele... Estou com medo, nada mais justo né... Aquela expressão típica de tranquilidade e compreensão estampa a face dele. Um sorrisinho sutil de canto indica que não se incomoda de eu estar segurando sua mão como uma âncora segura o navio. Bebo água que foi inserida no porta corpos do banco para todos os passageiros, afim de diminuir a falta de ar, a tontura, a fraqueza trêmula do corpo todo... Bile sobe a garganta... Acho que vou despejar todo o chocolate que comi.
"Não come doce antes do café da manhã passarinha", disse incontáveis vezes dona Ivone. Deveria ter escutado, deveria ter escutado e seguido o conselho.
Apesar de que iria despejar do mesmo jeito qualquer outra coisa que estivesse no estômago.
— Quer ouvir música? Assim se distrai, fecha os olhos e deita no meu ombro, tiro e queda, garanto. — Victor sugere sendo carinhoso, não soltei da sua mão ainda, tudo está girando e cada osso meu esquentando demais.
Na amizade sempre tem o confiante, conselheiro e que sempre está lá firme e forte, sempre achando que o drama do outro não tem muita consistência —, e tem o medroso, o trágico, que qualquer barulhinho começa a pensar na morte, em como vai estar no dia do enterro, quem vai falar que ele era uma boa pessoa... Esta sou eu, sou dramática? Uma agulha, porém não sem motivos obviamente.
Diminuiu muito a taxa de aviões que caem, é mais fácil você morrer entalado com uma amêndoa do que com uma queda de avião - entretanto — ainda ocorre, não é impossível ou fora de cogitação.
— Escuta Rihanna, eu tenho bom gosto. - Garante Victor convencido do jeito que é, sorrindo para mim bem calmo —, o deixo encaixar os fones em meus ouvidos tão cuidadosamente que parece estar cuidando de uma flor, o celular em minhas coxas e admiro seus lábios carnudos e olhos verdes cristalinos que entram em contato com as minhas amêndoas belíssimas. Leitura labial ou só meu lado safado falando?
Aos poucos o coração vai ficando calmo, suspiro aliviada e me entrego a oferta do ombro amigo que ele ofereceu.
Deito a têmpora no tecido macio do casaco dele —, a persuasão com que conseguiu me tranquilizar foi tão saborosa... É levemente sobrenatural diria. Me sinto menos nervosa, segura e confortável pelo menos.
A música da Rihanna acaba me tirando da órbita em amplo sentido. Ufa.
Aconchego o rosto no braço dele e fecho os olhos, sem perceber nenhuma reação dele.
Está tão quentinho e aconchegante que não quero me desvecilhar do calor, do toque —, não há nada demais, afinal foi o próprio que ofereceu de modo cavalheiro.
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𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada]
RomanceLeila, ou Le como costumam chamar, é uma mulher que tem que lutar contra problemas diários assim como todo brasileiro, porém entre tantas questões da sua vida, a maior é: o desemprego. Por mais que seja necessário, estudo não garante emprego após se...