20-Silêncio

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Dias depois.

Para minha felicidade, Júlia esteve ocupada suficiente para não dar as caras por aqui e encher a paciência falando sobre como seu pai é caridoso e trabalhar e honesto e blá blá blá... Carlota me pediu ajuda para organizar uma pequena festa em comemoração ao aniversário de Victor, coisa que não acredito que ele vá gostar muito..., porém, ela é mãe, qualquer esforço para agradar o filho e fazê-lo sair do casulo solitário será feito com prazer.

Victor remexe a mão coçando a ponta do nariz avermelhado por causa do frio intenso que envolve o ambiente.

Apenas bebo mais um gole do meu capuccino e cruzo as pernas cobertas pela meia arrastão acima da cadeira.

— Preciso falar com você. — Diz sério, porém encontro vigor em sua voz rouca.

Hoje não está usando o perfume enjoativo que atiça minha alergia.

— Estou escutando. — Murmuro cravando as unhas pontuadas em minha própria palma, o estômago ferventa.

Victor parece entalado com alguma frase que o fez diminuir a velocidade do mastigar.

— Alguém esteve no meu quarto antes de ontem. — Fico toda arrepiada, ele percebeu... desejo virar fumaça agora.

Engulo a seco e espeto o pedaço de torta holandesa que tem em meu prato.

— Aham, quem imagina ter sido? — Finjo o melhor que consigo e desvio o olhar do verde dos olhos chamativas dele. Victor da duas batidinhas com a ponta do dedo sob a madeira da mesa e sorri sensualmente mantendo o queixo sutilmente empinado.

— Você não faz ideia? — Questiona franzindo as sobrancelhas objetivo demais, quase conseguindo me intimidar.

A elegância da pressão que me atinge faz com que eu engasgue.

— Não. — Respondo firme após conseguir finalmente recuperar fôlego depois do incidente azarado, Victor balança levemente a cabeça e morde o lábio inferior provocativo... estou me precipitando, provavelmente é outra gracinha iludindo minha mente estúpida.

— Está mentindo. — Deduz mudando a expressão e quase farejando o que neguei.

— Não começa não Victor...

— Ah! Começo sim, começo e não vou parar até revelar o porquê está mentindo e sendo estranha comigo. — Sinto sua mão pressionar meu pulso sob a mesa — meu coração permanece calmo, porém a respiração sai da linha e os olhos ardem.

Ele está determinado a me desvendar. Insistente!

— Estranha? Do que exatamente está falando? Começou a virar o que? Uma espécie de espião farejador? Ah! Me poupe, não está no direito de exigir nada. — Água começa a preencher minhas córneas.

Victor não retira os dedos do meu pulso coberto pela manga roxa escura.

— Direito é relativo, o que pode ser meu direito, não necessariamente será o seu também, a aceitação é particular Leila. — Palpita ríspido e sutilmente irônico e soberbo.

— Qual a droga do motivo que eu teria para perder tempo xeretando seu quarto? É ridículo me acusar de futricar suas coisas, inacreditável... óbvio, vindo de você. — Deixo escapar sem tremer ou transparecer a mentira que contei.

Victor ergue as sobrancelhas surpreso e solta meu pulso lentamente, como se eu fosse um campo minado prestes a explodir.

— Pelo visto você gosta de perder tempo xeretando minhas coisas, não questiona minha inteligência Leila, percebi o lençol fora do lugar, o espelho, o tapete... confesse. — Pressiona o convencido, aquela acidez presente na voz intensa.

𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora