64-Bem-Vinda

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Sexta-feira. 19:00.

Nem consigo expressar o quão feliz estou, ultimamente tudo tem sido ao meu favor. Consegui passar na entrevista e apesar de estar ansiosa e até com um pouquinho de medo, estou lidando segura de que farei tudo direitinho.

O primeiro dia de emprego. Para muitos é um bicho de sete cabeças, para a gata aqui não, pois já vivenciei isso e sou "acostumada", embora prefira ser homecare, nada se compara com a adrenalina de um plantão hospitalar.

No litoral é mais tranquilo trabalhar em Pronto-socorro, às veze tem uma onda de turbulência que necessita mais atenção e causa mais transtornos, entretanto, os profissionais da saúde precisam estar prepados para tudo. Principalmente os auxiliares/técnicos e enfermeiros, sem nós pararmos, o hospital inteiro ficada desestabilizado, um caos. Pois, somos responsáveis pelo serviço pesado, a base da pirâmide.

Claro que os outros profissionais são importantes, contudo a enfermagem é essencial para atendimento médico.

Por enquanto fui recepcionada muito bem, todos foram simpáticos e gentis comigo, apesar de não falarem muito pela correria deste andar.

— Paciente com glicose baixa doutora, vou dar cinquenta de NPH na veia. — Informa uma das estagiárias, encostando no meu braço repentinamente.

Misericórdia, é melhor impedir antes que uma tragédia aconteça!

— Não! Você não pode dar NPH com a glicose baixa deste jeito, vai amenizar ainda mais e matá-lo, vem cá, olha para mim e presta atenção. — Aproximo ela sutilmente ao pegar sua mão.

Distraída, Alana arregala os olhos, sentindo o peso do erro drástico que quase cometeria.

Pego o aparelho de monitoramento de glicemia e mostro o resultado recém feito do paciente. 56, hipoglicêmico.

— Mil perdões! Estou muito nervosa, é meu primeiro estágio e se eu não fizer tudo impecavelmente, corro risco de ser reprovada senhorita... — Tranquilizo a moça de rosto empalecido, assustada.

— Eu não sou doutora Alana, sou enfermeira, e não se preocupe, estou aqui para te auxiliar também. Vai no banheiro, toma um pouco de água, respira e depois retorna aqui, é normal ficar nervosa e tensa no primeiro estágio. — Digo passivamente, porque já passei por tal experiência.

Alana faz um exercício de respiração e dirige olhar à sua professora de curso, metralhando a coitada com um olhar, feito um dragão cuspindo fogo.

— Vai lá, eu administro e cuido desse paciente. — Deixo garantido, afinal ela é meliante, precisa estar concentrada e sem pressão quando for fazer seu trabalho, senão tudo pode ocorrer desastrosamente e causar até morte.

— O que pensa que está fazendo? Da minha aluna cuido eu! A responsável por advertir e supervisionar cada ato dela aqui dentro sou eu! — A mulher de aparelho dental vem com um quente e dois fervendo para cima de mim, bufando feito um cachorro raivoso.

Me afasto três passos para trás e mantenho a tranquilidade.

— Em primeiro lugar, em campos de estágio você deve respeitar e ser menos antiética na hora de falar com a enfermeira do setor. — Ajeito meu estetoscópio em volta do pescoço.

Leio o nome em sua etiqueta de identificação.

— Por acaso quem seria você garota?Você é muito insolente e atrevida! Além de ser mal-educada! — Atinge meus ouvidos com seus gritos agudos.

Ergo a cabeça e permaneço cheia de orgulho para dizer quem sou. Triunfante.

— Seria não, eu sou Leila Tavares Meirelles, enfermeira e técnica, e auxiliar de enfermagem. — Me apresento cordialmente, ignorando a antipatia deste rosto mal-maquiado aqui. É maravilhoso exibir minha competência, cheia de si. Eu sou foda e tenho que me vangloriar mesmo!

Não vou discutir com ela, será como falar com uma paineira.

— Em segundo lugar; quem está gritando e sendo mal-educada, além de antiética, porque se você não reparou... — Giro o dedo indicador, mostrando o ambiente ao nosso redor. — Estamos num ambiente hospital, não em uma feira. — Juro que tento ser paciente e passiva com esta chorume.

A senhora de cabelos pintados de vermelhos até os ombros, me fuzila com os olhos escuros, querendo encontrar um meio de ser hostil comigo de novo.

— A responsabilidade sobre ela é exclusivamente minha, se ponha no seu lugar e faça o que lhe cabe, não se atreva a meter o nariz no que não lhe diz respeito ok? Estamos entendidas? — Lança um olhar soberbo de baixo para cima sobre mim. Dai-me paciência viu.

— Por que não supervisiona direito suas estagiárias? Aliás! Por que não tenta ser mais profissional e empática? Sabia que essa pressão psicológica que está fazendo é passiva de processo? Pode ser mais velha e ter mais experiência profissional, mas isto isto te dá o direito de agir feito uma descontrolada. — Detesto ter que discutir no meio do quarto dos pacientes com todo mundo contemplando tal bate-boca.

Todavia, está sendo muito satisfatória esfregar na cara dela as condutas cabíveis para trabalharmos na área. Deveria saber disso de cor e salteado.

— Mas é muito folgada mesmo né? A burguesa recém-contratada que acha sensato vir me dar lições sobre como supervisionar e conduzir minha aluna? Garota, eu tenho quatorze anos de profissão, tenha o senso do rídiculo! — Esbona o tempo de profissionalismo, na intenção de me menosprezar com toda arrogância cabível nessa cara de maracujá.

Coitada, deve achar que eu sou sustentada pelo meu noivo. Ai ai que escrotice.

Analisando os pontos que usará no argumento frívolo de "burguesa", por causa do meu anel de esmeralda-verde que ganhei do Victor e da aliança de noiva reluzente. Nem vou gastar saliva com esta perturbada.

Começo a dar risada, chega a ser hilário.

Incrédula, Olga franzi o cenho, se questionando do por que estou rindo.

— Quatorze anos de profissão e continua sendo tão ignorante? Sinceramente, deveria pegar seu diploma e usar como papel higiênico, agora se me der licença, tenho serviço para fazer, me nego a ficar discutindo com gente fútil e irrelevante. — Dou uma piscadela e viro de costas, a deixando furiosa.

— Cadela, cínica. — Ofende num sibilo, de canto para que eu não possa escutar.

Aturar este tipo de comportamento grotesco e ofensivo, não é algo que eu esperava, tampouco desejava. Todavia, cuidarei disto mais tarde, é algo que exigirá muito esforço e não tenho tolerância mental parar lidar com tal situação estressante.

Pedras atingissem ferozmente meu estômago. Reluto contra vontade de xingar essa selvagem. Tem câmeras e testemunhas aqui, considerando a maneir que olham para mim, acredito que gostam de como estou tratando-os.

Meu serviço está sendo bem feito. Com zelo, atenção e precisão.

Insignificante. É o mínimo do mínimo que Olga é no meu consenso.

Mensagem de Isabel:

Quando sair do hospital, me avisa.
Off.

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Saio do uber que paguei, a noite estrelada ilumina minha caminhada. Na rua debaixo o meu pai está me esperando perto de um poste, inquieto, enquanto mexe no celular como se fosse um aparelho de outro planeta.

— Venho me buscar pai? Já sou grandinha, não precisa se preocupar. — Ele abre um sorriso largo ao me ver, seus olhos castanhos-terra brilham intensamente ao me ver. Retiro os fones de ouvido branco e guardo no bolso da mini-saia preta de couro falso.

— É claro que preciso, sempre vou me preocupar com minha princesa, é perigoso uma góticazinha linda como você andar sozinha nessa rua cheia de nóia. — Diz num tom engraçado, dou risada pela maneira que ele se refere aos desocupados que ocupam as esquinas asfaltadas desta rua vasta.

Cruzo o braço no dele e seguimos caminhando para casa, descendo a ladeira. Me sinto cansada e as pernas doloridas, voltar à ativa é complicado viu! Apesar de que gostei muito do primeiro dia, estou satisfeita com meu desempenho hoje.

𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora