26-Depois do Nevoeiro

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Passei a noite toda me revirando na cama, nem tomando banho e chá consegui dormir sossegada, não dava, peso demais.

Ivone me fez afago em seu colo até que eu dormisse, fiquei tranquila o suficiente em seus braços — porque as mães tem esse efeito anestésico que faz a gente dormir não é? Pelo menos a minha, fora do cheirinho doce e o colo quentinho.

Não contei nada para meu pai, ele saiu de madrugada e estava preocupado demais com o emprego temporário de caminhoneiro.

Isabel dormiu no chão mesmo, não tem problemas, apesar de acordar reclamando horrores de dores nas costas — feito uma idosa de setenta anos.

— Leila, nem comeu nada filha. — Diz minha mãe me tirando da hipnose mental.

— Não estou muito bem hoje. — Confesso deixando o bolinho de chuva de lado.

Isabel põe a mão no próprio coração por cima da blusa amarela e enruga o nariz.

— Ela está de coração partido mãe. — Minha mãe da um beliscão nela debaixo da mesa e eu ignoro.

— Isabel, hoje não. — Adverte Ivone bem rígida, Bel apenas suspira concordando.

— Filha, você fez o certo contando, lembre-se de que o amor é você ser sincera consigo mesma também, você vem em primeiro lugar, é sobre como você se sente filha. — As palavras zanzando em minha mente e por um minuto tudo para, fica estático.

Mensagem de Carlota:

Leila, desculpa pelo que Marcos disse ontem, estou tão envergonhada que nem sei o que te dizer.

O que eu respondo? Que tudo bem? Porque não está tudo bem, porém ela é tão inocente quanto Victor nesta história.

— Vou lavar as roupas, depois podemos ir no mercado. — Digo com minha voz analisada e em seguida vem o espirro, maravilha, estou gripada ainda por cima.

— Posso ir com vocês? — Pergunta Bel entediada brincando com o fio do seu cabelo liso espalhado.

— Claro, só não demora para se arrumar. — Hoje meu pai não vai chegar tão cedo, por isto iremos apenas nos três fazer a despesa do mês e abastecer os armários com o básico.

Dividiremos eu e meu pai o valor total, pois minha mãe não trabalha e nem Isabel (por enquanto), o pouco dinheiro que minha mãe guardou ficará destinado às contas de água e luz.

Saio da mesa e sigo para lavanderia, vejo a blusa dele pendurada no varal e suspiro.

Coloco as roupas para lavar todas separadas por cor e tecido.

Em seguida vou para o banheiro e tomo um banho quente demorado demais até.

Tantas questões para resolver, que tortura viver encarcerada na própria mente.

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Andando pelo mercado, empurro o carrinho e vejo com atenção todos os preços afim de achar o mais em conta.

— Que putaria, oito reais por um pacote de açúcar? Isso sim é roubo! Roubo a mão desarmada! — Reclama Isabel tirando o pirulito da boca e arregalando os olhos para o pacote de açúcar que acaba de pegar. Isabel está descobrindo a vida adulta.

— Bem-Vinda a vida adulta, onde é só ladeira abaixo. — Brinco com ela dando risada da careta esquisita que Bel faz.

— Seu pai ligou Leila, pediu que a gente fizesse um bolo pra ele. — Informa minha mãe dando uma olhada em massas de bolo.

𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora