28-Esculacho

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Assim que coloquei o pé em casa, minha mãe estava me esperando feito um general de exército, prestes a me punir.

Bufando de ódio.

— Leila Tavares, eu acho que mereço uma explicação não é? — Isabel apenas balançou a cabeça em concordância do lado direito de Ivone.

Deixo o guarda-chuva que Carlota me emprestou do lado da pia e engulo a seco.

— Mãe, eu peço minhas sinceras desculpas, não foi minha intenção realmente, eu apenas acabei pegando no sono. — Explico bem tranquilamente, qualquer passo em falso e ela me mata...brincadeira, estou exagerando um pouquinho.

— Dormiu na casa do seu patrão? Filha! — Repreende minha mãe incrédula.

Isabel segura a risada.

— Isto, apenas dormi. — Digo enfatizando e mantendo o olhar em Bel, certamente ela aumentou o ocorrido.

Retiro minha boina preta e minhas luvas e sorrio sem graça para a mulher de gorro preto que ainda me fuzila com o olhar.

— Eu confio em você Leila, acredito no que está dizendo...porém não me faz perder a confiança, que seja a primeira e última vez. — Da a bronca e sai da cozinha batendo o pé, Bel fica me olhando com expressão seca...vamos conversar agora.

— Você, vem até aqui mocinha. — Gesticulou usando o indicador.

Bel vem até mim sem nenhum medo, apenas a expressão emburrada sob a pele negra.

— Disse o que aconteceu ou jogou na roda alguma outra coisa? — Cruzo os braços vigiando para certificar que Ivone não está escutando.

— Eu hein, acha que eu sou sonsa por acaso? Claro que não...tem uma coisinha.
— Admiti sorrindo desajeitada.

É mania dela mexer na franja quando está escondendo algo.

— Então solta a língua, Isabel. — Não estou com paciência, sinceramente.

Bel suspira frustrada.

— Eu disse que você está gostando do branquelo lá. — Confessa sem muito orgulho.

— Isabel, deixa eu te explicar algumas coisas. — Pego o braço dela delicadamente e a afasto da saída da cozinha.

Não vou brigar, nem arrumar confusão desnecessária por isto, apenas quero que ela compreenda...já basta de discussões depois do que houve.

— Victor está se recuperando do término, da traição, ainda é muito recente...ele passou mal ontem e eu fiquei lá até que ele dormisse, aí acabei pegando no sono também — não rolou nada entre nós dois, porque nos respeitamos e não é o momento certo, compreende? — Bel fica perplexa ouvindo tais coisas.

— Sim, acho que saquei tudo. — Responde baixinho, parece ter sido atropelada por um caminhão.

— Leila, não te vi chegando filha. — Diz meu pai entrando na cozinha com seu boné azul gasto em mãos.

— Pai, o senhor está bem? — Desvencilho de minha irmã e vou até perto da geladeira onde ele busca algo para comer, faminto.

— Estou com uma dor de cabeça terrível, cansado, mas não se preocupa pequena, estou bem. — Garante respirando com dificuldade, o abraço forte e ele retribui.

Certamente não sabe da minha "escapadinha", pois trabalhou a madrugada toda e veio somente tomar café e dormir duas horas, para em seguida voltar a trabalhar.

— Vou tomar um banho rápido e descansar, senão perco o emprego...não posso chegar atrasado. — Informa meu pai mordiscando um pedaço de presunto que pegou da geladeira, este trabalho está acabando com ele, não posso permitir que continue assim.

𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora