𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada]

14-Desculpa

Passei o resto do dia em silêncio, não comi nada por estar com o estômago revirando sem piedade.

Victor não proferiu uma letra em relação a discussão e como me chamou de covarde, nem pediu desculpas.

Cada respiração é um golpe em meu peito agora, não irei continuar com isto.

Este sentimento correndo por dentro, engolindo tudo sem freio.

Marcos sumiu desde aquelas últimas palavras, sem despedir de mim ou esperar a Carlota retornar seja lá de onde estava.

E ele foi no banheiro agora a pouco, me deixando sozinha observando o jardim lá embaixo da sua janela.

— Leila. — Ouço a voz rouca e sombria atrás de mim, evito virar para encará-lo.

— Por favor, me escuta. — Pede em modo calmo e lento, como se não tivesse acontecido nada. Não se atreva...

— Estou aqui para te auxiliar, farei apenas isto a partir de agora... — Sou interrompida por uma leve puxada pelo pulso, me fazendo colidir com a estrutura dele.

— Eu não mereço suas desculpas, eu sei...mesmo assim vou pedir, insistir até que pelo menos considere. — A voz vai virando um chiado diminuído, tento soltar meu pulso de seus dedos, mas Victor continua o apertando firme, sem machucar.

— Não sou seu saco de pancadas, me desrespeitou muito e eu não vou te perdoar tão cedo, desconta suas frustrações em mim como se não fosse errado e cruel...É egoísta e sabe disso. — Victor escuta tudo mudo, a expressão mórbida em sua face.

Um piscar de olhos e ele de joelhos diante de mim...pequeno e desprovido de arrogância, vulnerável.

— Levanta do chão. — Balbucio segurando as lágrimas que querem cair, a adrenalina lenta confundindo minha perspectiva.

Victor não se move.

— O que eu preciso fazer para você me perdoar? — Eleva a voz rouca, cerrando os dentes furioso.

— Mudar de atitude, pode começar aí! — Estufo o peito que queima, algo em mim se quebrou, minha cabeça girando e a visão ficando turva.

— Prometo, que vou fazer de tudo para isto...não mereço você Leila. — O peso de correntes grossas arrasta sob estas paredes, ergo a cabeça e Victor quase se curva aos meus pés para que eu o perdoe... tenho poder sobre ele.

— Não merece mesmo...vou pensar a respeito. — Articulo com firmeza, nunca disse algo tão friamente.

Victor quase engasga com o próprio ar que preenche os pulmões, levantando do chão em silêncio, as córneas avermelhadas, parecendo frustrado por eu não ter dado o perdão de mãos abertas.

Perdão tem que ser merecido, trazer a tona lição e mudança.

— Vamos tomar banho, vou pegar suas roupas. — Informo a ele, arrastando as botas cano curto prateadas que parecem quase desmontar meus ligamentos de tão pesadas.

Levo a estrutura até o guarda-roupa deixando ele a mercê do silêncio perverso e o vazio entre os móveis.

Escolho uma roupa para inverno e pego a toalha dentro da gaveta, estou tão enjoada que não posso nem fazer movimentos bruscos demais.

Sigo para o banheiro o guiando comigo pela mão e quase acelero o passo em demasiado, igualmente meu coração está acelerado agora. Perdi o controle da própria mente.

Quando entramos, o ajudo a tirar a camisa, mesmo que isto não seja mais tão necessário... daqui alguns dias ele não precisará de mim, vai casar e terá Júlia para auxiliá-lo... perderei o emprego também.

Victor estremece os dentes e encolhe o corpo com muito frio, ligo o chuveiro e retiro qualquer embalagem de shampoo que ele possa usar, porque é perigoso escorregar...nem me lembre de tal detalhe.

— Vai me ignorar até quando. — Pergunta tirando os tênis por cima das meias.

Não respondo, o respingo de mágoa ainda é presente. Desejo que isto não seja mentira, porque dói... demais.

— Tem a Júlia para conversar, não fará diferença se eu falar ou não. — Murmuro sentindo uma pontada fria espetar a garganta.

— Não é a mesma coisa. — Admite num tom arrependido e carregado de culpa...agora é tarde...isto tudo é muito complexo para falarmos sobre agora.

Isto não fará danos demais a ele, por mais que doa ignorá-lo e ser tão rude, farei.

Victor contrai os lábios balançando levemente o queixo em aceitação, talvez esteja mal diante disto...apenas estou reagindo ao que me feriu.

— Estarei esperando aqui fora, caso precise de ajude... já sabe. — Expresso baixinho saindo do banheiro e o deixando para retirar as outras peças de roupa as quais o deixarão completamente despido.

Fico pensando se Júlia terá a paciência que eu tenho, se saberá lidar e suportar com a personalidade bipolar do Victor...

Talvez sim, já que esteve aqui desde antes do acidente e não o abandonou... negativo, isto é mais caridade do que amar.

Retiro o fone de ouvido do bolso da calça e conecto ao celular, minha visão dói por causa do brilho em meio a escuridão sonífera do corredor vazio, mal notei que a noite chegou tão rápido sob o horizonte alaranjado — escorrego até o quadril atingir o piso e abraço os próprios joelhos doloridos, me entregando ao choro.

ꨄ︎☀︎︎ꨄ︎

''...𝙾 𝚖𝚘𝚝𝚒𝚟𝚘 𝚙𝚎𝚕𝚘 𝚚𝚞𝚊𝚕 𝚎𝚞 𝚒𝚗𝚜𝚒𝚜𝚝𝚘
𝚙𝚘𝚛𝚚𝚞𝚎 𝚙𝚛𝚎𝚌𝚒𝚜𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚎𝚜𝚝𝚎 𝚋𝚞𝚛𝚊𝚌𝚘 𝚍𝚎𝚜𝚊𝚙𝚊𝚛𝚎𝚌̧𝚊, 𝚎́ 𝚎𝚗𝚐𝚛𝚊𝚌̧𝚊𝚍𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚟𝚘𝚌𝚎̂ 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚍𝚎𝚜𝚝𝚛𝚞𝚒́𝚍𝚘, 𝚖𝚊𝚜 𝚎𝚞 𝚜𝚘𝚞 𝚊 𝚞́𝚗𝚒𝚌𝚊 𝚚𝚞𝚎 𝚙𝚛𝚎𝚌𝚒𝚜𝚊𝚟𝚊 𝚜𝚎𝚛 𝚜𝚊𝚕𝚟𝚊."

𝐒𝐭𝐚𝐲-𝐑𝐢𝐡𝐚𝐧𝐧𝐚.

𝐓𝐫𝐚𝐝𝐮𝐳𝐢𝐝𝐚.