Sinto alguém se aproximar e vejo que é Marcos, continuo admirando o estacionamento abaixo do andar em que estamos do hospital.
Victor está em observação sob a cama e ainda não acordou.
— Fique tranquila Le, ele está em boas mãos. — Marcos esfrega sutilmente minhas costas na tentativa de me acalmar.
— Não consigo, levei um susto terrível quando percebi que ele não reagia. — Confesso ainda ansiosa, descascando o esmalte preto do dedo anelar.
Marcos suspira cansado.
— Vou sair para a Júlia entrar, tenta tomar uma copo de água e ficar calma, nervosismo pior tudo. — Aconselha de forma meiga e deposita um beijo molhado em minha bochecha quente por tanta pressão, apenas sorrio fraco em resposta e ele sai.
— Leila. — O sussurro de Victor me atinge em meio ao quarto cinzento, não sei se ele está sonhando ou acordando confuso... chamou por mim, não por Júlia.
— Vim o mais rápido que pude, estava no consultório quando a Carlota me ligou. — A loira entra no quarto aflita observando o namorado que está sob a cama.
Recuo alguns passos hesitando ocupar o lugar que é dela.
— O médico disse que pode ter sido estresse, fez alguns exames e daqui a pouco volta com os resultados. — Comunico a ela, a tensão deixando minha cabeça latejando, bile sobe a minha garganta deixando ânsia presente.
Não aguento esperar tanto.
— Ele teve um colapso nervoso... coitado do meu amor. — Murmura Júlia transparecendo pena por Victor, em seguida aproxima os lábios pintados de rosa pink e beija com ternura a testa dele, afastando os fios desgrenhados do local.
Pena...o conheço bem suficiente para saber que odeia receber tal sentimento de qualquer um.Agora percebo... a ficha caiu... o que ela sente não é amor, é compaixão.
Amor é sinceridade, é compatibilidade... não consigo ver isto entre os dois, não da parte dela pelo menos.— Leila. — Outra vez ele sussurra parecendo atormentado por algum pesadelo agressivo, Júlia franziu as sobrancelhas estranhando, sinto um formigamento nas mãos e pontas dos dedos dos pés.
A face angelical de Júlia apenas ignora o ocorrido e acaricia a mão direita dele.
Me sinto mais aliviada o vendo acordar lentamente, mesmo ainda perdido em relação a espaço e tempo que está.
Júlia ameniza a tensão do rosto ao vê-lo despertar aos poucos.— Amor, estou aqui contigo, fique tranquilo. — Barbie tenta não o deixar ficar alarmado.
Victor não completou a transição para realidade, cada letra proferida parece doer quando entra nos receptores sonoros dele, como se não fosse uma língua conhecida.
Afasto três passos para trás, respeitando o momento exclusivo do casal.— Por que estou aqui. — Pergunta quase num chiado rouco.
— Você desmaiou e a Leila te encontrou. — Responde Júlia carinhosamente mantendo
toda atenção nele, segurando sua mão.— Me trouxe para o hospital? — A pergunta soa um pouco revoltada e ríspida.
Júlia dirige o olhar a mim esperando que eu responda.— Sim, fiquei preocupada demais e achei melhor trazer por precaução. — Digo com um nó enroscado dentro da garganta seca.
Victor suspira insatisfeito.
— Inacreditável. — Resmunga o mal agradecido... não consigo digerir sua ingratidão.
— O que disse? — O questiono sem acreditar que ouvi tal coisa.
— Tenho ranço de hospital, passei mais de trinta dias em um quando fui baleado... os piores dias da minha vida. — Replica de forma agressiva, a voz carregada de nostalgia e repúdio.
Júlia permanece inexpressiva escutando e não interferindo em nada...que absurdo.
— Você é tão... — Embasbaco as palavras iradas que querem sair atropeladas.
— Volto quando o médico der alta para ele, até daqui a pouco Júlia. — Me despeço sem nem olhar novamente o mal agradecido Brito que acaba de achar ruim minha preocupação com ele.
Disparo para a porta, saindo a passos rápidos que quase me tiram do chão de tanto ódio que sinto, o vento frio atinge minha pele negra descoberta, esqueci a blusa no quarto, droga.
Preciso pôr a cabeça no lugar e me recompor...
— Leila, aconteceu alguma coisa? — Marcos me encontra no corredor vazio, estava indo rumo ao quarto do irmão eu sugiro.
— Seu irmão é muito babaca. — Xingo aquele trouxa do Victor sem nenhum espinho impedindo.
Marcos não demonstra surpresa.
— Ele te ofendeu? Porque se sim, eu... — O impeço de seguir feito um raio para o quarto, segurando seu bíceps musculoso na medida proporcional.
— Não, não, eu só... preciso de um café, vem comigo pegar? — Estou com tanta dor de cabeça que aposto mil reais que minha expressão fácil transparece isto.
Marcos aceita meu pedido e movimenta a estrutura, seguindo comigo para o local onde fica a cafeteira expressa.
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"...Fico olhando enquanto ela fica segurando sua mão
Você coloca o braço em volta do ombro dela, agora estou ficando com mais frio
Mas como eu poderia odiá-la? Ela é um anjo..."|Heather-Conan Gray|
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𝘾𝙤𝙢𝙤 𝙚𝙪 𝙩𝙚 𝙫𝙚𝙟𝙤 [Finalizada]
RomanceLeila, ou Le como costumam chamar, é uma mulher que tem que lutar contra problemas diários assim como todo brasileiro, porém entre tantas questões da sua vida, a maior é: o desemprego. Por mais que seja necessário, estudo não garante emprego após se...