Capítulo Dois

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Já era de manhã, mas o restante da noite foi tão estranho. Eu não conseguia parar de pensar no que havia acontecido. Tentei colocar um filme para assistir, mas mesmo assim foi inútil, meus pensamentos estavam longe e quando eu coloco algo na cabeça eu simplesmente não consigo sossegar.

Preston bate na Regina.

Essa ideia ficou na minha cabeça.

Ou eu que machuquei ela, e ela simplesmente mentiu para fazer com que eu não a enchesse o saco com isso? Bem, eu não sabia então por via das dúvidas eu deixei uma torta de cereja na porta dela com um bilhetinho me desculpando. Era o máximo que eu podia fazer.

- Olá, vocês estão precisando de funcionária aqui? - Perguntei para a moça atrás do balcão.

Eu estava agora num restaurante, entregando currículo.

- Não precisamos de mais ninguém. - A moça falou indiferente.

- Tem certeza? Eu sou dura na queda, sei fazer de tudo um pouco e aprendo rápido...

- Senhorita... Hope, né? - Perguntou lendo meu nome pelo currículo e depois olhando para mim. Apenas concordei com a cabeça e com um sorrisão no rosto. - Seu currículo não é um dos melhores, aqui diz "ensino médio incompleto" a senhorita acha que somos uma piada? Isso aqui tá horrível.

Meu sorriso foi se desmanchando aos poucos.

- Eu sei, é que eu não tive como termina a escola, eu precisava trabalhar para me sustentar. O que adianta saber as coisas mas não ter um prato de comida na mesa?

- Sinto muito, mas isso não é problema nosso. A senhorita sabe pelo menos ler? - Fiz menção que não. - Então como quer trabalhar aqui!? Se não sabe nem o básico.

- Mas eu posso limpar, servir as mesas, fazer entregas... o que precisar. E pra isso eu não preciso saber ler!

Me alterei.

- Senhorita Salvatore, eu quero que você saía daqui.

Olhei para a moça e para o restante das pessoas que me encaravam com uma expressão de "pena," um dos piores sentimentos que pode existir. Minha vida nunca foi fácil, eu não tive um pai ou uma mãe, apenas a minha vó que não tinha nada a me oferecer. O mais importante era o amor que ela me dava, mas hoje, nem isso mais eu tenho.

- Tudo bem, eu já estou de saída. - Dei um sorriso fraco. - Obrigada por sua atenção. - Terminei me retirando do local a passos largos.

Senti lágrimas descerem sobre meu rosto insistentemente e me odeiei por isso. Após passar a manhã toda entregando currículo, resolvi ir para casa, eu estava me sentindo péssima.

(...)

Assim que cheguei no prédio, subi as escadas apressadamente e assim que me aproximei da porta, posicionei a chave para abri-la e antes de entrar eu fui impedida por uma voz familiar.

- Foi você que deixou a torta na minha porta?

Regina, era ela.

- Isso mesmo. - Respondi de costas pra ela e com a mão na maçaneta.

- Ótimo, mas eu vou ter que recusar. Sabe quanto açúcar essa torta pode conter? Eu precisaria me matar na academia depois de uma garfada disso aqui, aliás a torta...

- Por que a senhora tem que ser assim!? - Perguntei com a voz alterada e trêmula, me virando devagar. - É só uma torta. Uma maldita torta!

- Calma, garota. Eu só...

- Eu só o quê, minha senhora!? - Senti lágrimas descerem novamente sobre meu rosto. - Foi apenas uma gentileza da minha parte, um obrigado seria o suficiente, e se não gostou porquê simplesmente não jogou no lixo? Ao invés de reclamar TANTO!

- Como pode ser tão abusada. - Murmurou.

Tirei a torta de sua mão bruscamente, em seguida me sentei na frente da minha porta e comecei a comer a torta com a mão mesmo. Regina me olhou com a testa franzida e visivelmente assustada com a minha reação repentina e exagerada.

A mesma se aproximou de mim com cuidado e se agaichando na minha frente.

- O que pode ter havido para você estar assim, garota?

Olhei para ela com pesar e envergonhada pela situação constrangedora que ocorreu naquele restaurante.

- Tem coisas mais importantes do que a quantidade de açúcar numa torta, senhora...

- Então me diz. - Pediu apoiando as mãos nos meus joelhos. - O que é tão importante?

Abaixei a cabeça após um longo tempo observando aquelas órbitas tão esverdeadas. Eu tinha vergonha do que ela poderia pensar de mim depois que eu contasse o que havia acontecido. Medo dela pensar que eu não passava de uma garota, analfabeta, grosseira e sem futuro.

Então tratei de enxugar as minhas lágrimas e de me recompor.

- A senhora não entenderia. - Me levantei fazendo com que ela fizesse o mesmo. - Apenas... esqueça o que rolou aqui. - Sorri sem graça.

Regina não falou nada, apenas continuou me encarando com uma expressão que eu não saberia como descrever.

Fui até minha porta novamente e entrei, antes de fechar a porta eu apenas proferi: - Me desculpa...

Fechando a porta logo em seguida.

Querida, Johansson Onde histórias criam vida. Descubra agora