Capítulo Cinco

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Chegamos finalmente no prédio. Saímos de dentro do veículo após Regina guardar o carro na garagem.

— Eles deveriam colocar mais luzes aqui. — A mesma reclamou da garagem do prédio, a qual não possuía quase nenhuma iluminação.

— Sim, os moradores daqui já pediram diversas vezes para o síndico, mas ele diz que não tem condições.

— Nem se todos se juntarem? Cada um dá um pouco e...

— Já fizemos isso. — Interrompi. — E já faz quase dois anos... — Sorri.

A mesma balançou a cabeça para os lados.

— Que absurdo.

— A senhora ainda não viu nada. — Falava enquanto subiamos as escadas. — Aqui de vez enquando também falta água e energia... tem ratos e baratas por toda parte e mofo nas paredes.

Regina parou estética. Ela me olhou com a testa franzida e coçando a cabeça visivelmente chocada. Tentei não rir da sua cara, não me julguem, até que estava sendo engraçado.

— Para, Hope, é sério?

— Sim, senhora. — Dei de ombros parando enfrente a sua porta. — Ouvi dizer até que uns inquilinos vendem drogas pesada por aqui... nada daquelas porcarias, só droga de qualidade.

— Meu Deus! — Colocou a mão na boca, em seguida posicionou a chave na fechadura e abriu a porta. — O que eu tô fazendo da minha vida? Aonde eu fui me meter?

Assim que ela terminou de murmurar, eu não aguentei e comecei a rir. A senhora que se encontrava na minha frente, mudou sua expressão de medo para uma confusão notória. Parei apenas quando ela me perguntou qual era a graça.

— Eu só tava zoando com a sua cara, dona. — Sorri de lado. — Ninguém vende drogas por aqui não... não que eu saiba.

— Eu deveria saber! — Revirou os olhos me incentivando a entrar no seu apartamento.

Assim que entrei, me impressionei com a decoração do ap. O que uma boa pintura e uns bons móveis não faz, não é mesmo? As paredes pintadas de branco e os móveis em tons mais escuros, era a cara da senhora Johansson.

Eu já havia entrado aqui antes, com o antigo dono, e realmente a Regina caprichou. Olhei envolta com uma cara de boba e demonstrando o quanto eu estava impressionada.

— Não está do jeito que eu esperava, mas dá para o gasto. — Dizia ela enquanto me olhava com os braços cruzados.  

— Fala sério, isso daqui tá incrível! — Sorri, voltando a minha atenção para a ruiva à minha frente.

Ficamos nos olhando por mais um tempo, até ela quebrar o nosso contato visual, dizendo que precisava trocar de roupa, após o desastre que ocorreu mais cedo. Então Regina pediu para que eu ficasse à vontade e foi isso que eu fiz.

Observei ao canto do ap, algumas caixas, talvez ela não tenha tido tempo para organizar as coisas melhores.

Ouvi o interfone tocar e tomei a liberdade de atender.

— Manda!

— Encomenda para a senhora aqui em baixo.

— Pôde deixar. — Falei desligando a chamada em seguida.

Eu estava aqui para ajudar a Regina, e era isso que eu faria. Sai do ap e fui buscar a "encomenda."

Subi devolta minutos depois, carregando uma caixa.

Deixei-a sobre o sofá e fui em direção ao quarto de Regina. Bati na porta uma vez e nada. Chamei por seu nome e novamente não adquiri sucesso. Então sem pensar duas vezes abri a porta entrando em seu quarto.

— Dona, chegou encomenda!! — Fui até a porta do banheiro e sem querer acabei me encostando e abrindo a porta.

Avistei Regina, ela estava sentada sobre o vaso e parecia estar chorando. Meus olhos passearam pelo seu corpo, me deparando com mais manchas roxas.

— O quê você está fazendo dentro do meu banheiro, garota? Quando eu disse que podia ficar a vontade, não quis dizer que poderia entrar aqui. — Falava visivelmente sem graça por eu ter a visto naquela situação.

— Você está bem?

— Sim, melhor impossível.

Me aproximei dela e me abaixei ao seu lado passando a mão pela mancha em seu braço.

— O quê aconteceu, Regina? — A olhei com pesar.

— Nada de mais. Eu só bati em algum móvel, enquanto eu arrumava o apartamento, e acabou ficando assim...

— Conta outra! — Assim que proferi Regina se afastou bruscamente. — Eu sei que a senhora não se machucou na mudança.

— Não, você não sabe de nada. — Se levantou ajeitando a toalha em seu corpo. — E não se meta aonde você não foi chamada, garota!

— Se eu ver que é preciso, eu me meto sim, e com muito prazer! — Cruzei os braços. — Eu não tive um pai muito presente, porque ele vivia sumindo, mas quando ele aparecia em casa... esse era o resultado.

— Não se engane, nós não somos iguais. — Me olhou fixamente. — Eu me machuquei na mudança e ponto final!

Sorri amargamente. Encarei seus olhos claros na mesma intensidade que ela me olhava, abaixei a cabeça e suspirei pesadamente, dando um fora do seu banheiro e do seu quarto.

Me sentei no sofá, bufando de raiva.

Só podia ser brincadeira, eu sabia, sabia que o marido babaca da Regina a batia. Eu não tinha provas mas isso já estava na cara, e o fato dela negar e não querer minha ajuda me deixava mais brava ainda.

Se passaram longos minutos até a "madame" aparecer.

— Você ainda está aqui. — Afirmou.

Regina vestia uma saia social e uma blusinha de mangas compridas na cor branca. Ela ficava incrivelmente perfeita naquelas vestes sociais.

Mas isso não vinha ao caso.

Nem a forma que ela ficava adorável com os cabelos molhados.

Nem o sorriso de canto.

E nem o cheiro do seu perfume importava. Mas sim o que havia acabado de acontecer no seu banheiro.

— Eu não pretendia ir a lugar algum, afinal eu preciso arca com as consequências que a minha "brincadeira" causou.

— Por um momento eu havia me esquecido.

— Hum. Então agora eu posso começar a te ajudar?

Ela concordou com a cabeça.

Passei por ela em passos largos e de cara fechada, indo até as caixas. Enquanto a ruiva me encarava de braços cruzados e sorrisinho de lado.

Querida, Johansson Onde histórias criam vida. Descubra agora