33_Saudades...

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Os dedos inquietos passeiam na borda da xícara, Rey já tinha terminado o café, aguardando um pouco mais, na esperança de ver Poe, já havia se passado uma semana, pelo visto ele iria demorar a trazer notícias de Ben

Relutante, olhando em volta, a garota se levanta, empurrando o ar para fora dos pulmões, seguindo seu rotineiro trajeto, tentando aquecer as mãos agora enfiadas no casaco, estava realmente frio

Rey não aprecia tanto essa sensação térmica, traz muitas lembranças dolorosas... quando criança, seu pai costumava lhe vestir de forma a ficar bem aquecida, levando-a para tomar chocolate quente em uma lanchonete próxima a casa onde moravam

Ela lembra do quão boa era a sensação, o quanto apreciava aqueles momentos simples porém, agradáveis, que ficaram em sua memória, ela dificilmente se permite rememorar, com o passar do tempo, procura enterrar cada vez mais aquelas
recordações

Desde que perdera seu pai em um acidente, viu tudo ficar tão doloroso e difícil para si e para a mãe... Por um instante lembra-se do medo que teve ao assistir o acidente de Ben

A sensação naquele momento poderia tê-la feito desmaiar não fosse sua força interior, o fato é que presenciar toda aquela situação, fez vir a tona aquele evento traumático até então escondido a sete chaves dentro de si...

Rey sentiu naquele momento o temor pela possibilidade de perder mais uma pessoa que ama

***

Rose e Finn a esperam na calçada da lanchonete

-Bom dia gente
Ela se aproxima ncom um sorrisinho sem graça

Os dois amigos a abraçam carinhosamente, Rey sente um aperto na garganta, qualquer gesto de carinho a essa altura, a atinge em cheio como uma avalanche

Com o passar dos dias, ela imaginava que conseguiria superar os últimos acontecimentos, mas não estava sendo assim, a saudade de Ben começava a despontar, derrubando aos poucos as defesas de seu coração, o medo de não vê-lo mais, passa a revirar seu interior

Ela queria muito poder sentir aquele toque, aquele beijo, fitar seu olhar, ao menos mais uma vez...
Os amigos a fazem sair de seus devaneios...

-Vamos! Temos um longo dia pela frente!
Finn, tenta animar a amiga

-Como está Lyra?
Pergunta Rose, organizando as mesas

-Bem, acredito que logo poderei levá-la para casa!
Rey une as mãos em gesto de agradecimento, voltando a limpar o balcão em seguida

As reminiscências invadem sua mente novamente, o dia em que Ben esteve alí com uma amiga, Rey tem um pequeno sorriso no canto da boca, lembrando o quanto sentiu ciúmes naquele dia

Mas logo seu sorriso se desfaz ao lembrar também das atitudes de Ben quando estava enciumado, o quanto estava transtornado e por fim o que resultou todo aquele comportamento

A garota abana a cabeça tentando livrar-se dos pensamentos, falando para si mesma
-Preciso me concentrar nas minhas responsabilidades, não posso desanimar

O trabalho, as brincadeiras dos amigos, a voz suave de sua mãe, coisas a que ela se agarra com toda força para poder seguir em frente

***

A noite, no pouco tempo com a mãe, conversam sobre os efeitos positivos do tratamento atual, Rey mostra-se otimista, escondendo toda a bagunça em seu interior

-Filha, você e Ben não se viram mais?
Pergunta Lyra, pegando Rey de surpresa mais uma vez

A garota estava certa que a mãe havia esquecido o assunto, seus olhos percorrem a extensão da janela do quarto, voltando-se ao catéter no braço da mãe, em silêncio ela pensa se deve e o que deve falar, o receio de trazer qualquer perturbação à mãe, faz com Rey pondere

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