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January 20

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January 20

Hanna Ray White
Passamos os dias lendo papéis e recortes que meu irmão deixou naquela caixa, analisamos linha por linha, fizemos um resumo das coisas relevantes que encontramos e hoje vamos dar continuidade a leitura das outras cartas que meu irmão deixou.

Minha mãe e Bruce não tinham estrutura para ler e eu estava ocupada com meus filhos e minha casa, não tive tempo para ir na casa de minha mãe para ler, hoje as coisas estão mais calmas então fui até lá para retomar a leitura

— Achou mais alguma coisa por aí? — perguntei vendo meu irmão revirando alguns papéis e ele negou com a cabeça

— Jane disse que Jeffrey foi trabalhar... — minha mãe entrou na sala falando e parando no centro cruzou os braços, olhei para Bruce sem entender o que ela queria dizer com isso

— E o que tem? — meu irmão perguntou

— Ele foi trabalhar fora da cidade no dia 03 e até hoje não voltou, Jane conversou com ele por celular e ele disse que estava a algumas horas daqui. — continuei a olhando sem entender onde ela queria chegar — A algumas horas daqui estão David e Abigail, eu posso estar errada e eu espero estar, mas não é estranho Jeffrey ter ido para a casa de David no mesmo momento que Tim supostamente foi para um presídio?

— O que está insinuando? Que isso tem alguma coisa a ver com o sumiço de Tim? —  questionou Bruce

— Óbvio que sim! Vocês são irmãos dele, conhecem ele, eu conheço ele! Já que acham que estou blefando me digam, quando Jeffrey era pequeno ele apanhou na escola de um menino mais velho, o que ele fez no final da aula? Vocês estudavam juntos eu sei que vocês lembram —ela perguntou visivelmente irritada

— Ele bateu no menino, o machucou feio — respondi

— Certo, e quando um menino ofendeu ele na frente de Jane quando vocês eram adolescentes, o que ele fez? — ela questionou mais uma vez

— Ele acabou com o garoto, bateu de todas as formas nele, desmaiou ele, eu lembro. — respondeu Bruce

— E o que ele fez dias depois?

— Ele fugiu de casa... — respondi, agora eu entendi

Um silêncio se instalou na sala, as coisas agora pareciam fazer sentido

— Ele pode ter crescido e a crueldade só aumentou, Tim bateu feio nele aquele dia aqui em casa, na nossa frente, ele pode ter feito o pior para Tim e mais uma vez fugiu da culpa, ele mudou em várias coisas, mas os velhos hábitos dele nunca mudaram, isso foi o que eu mais critiquei nele para que ele mudasse. — minha mãe explicou

— Se ele fez alguma coisa com Tim, onde é que está o corpo? —  Bruce perguntou e minha mãe ficou pálida de repente

— O que foi mãe? — fui até ela a segurando e sentando com ela no sofá

— Ele teria coragem de matar o Tim? — eu não sabia o que dizer, não queria piorar a situação

— Vamos pensar que Tim está bem, coisas assim já aconteceram com outras pessoas antes e muitas delas estão vivas e bem hoje em dia, não vamos ter pensamentos negativos. — ignorei a pergunta

Olhei para ela com um olhar consolador e aos poucos ela foi voltando ao normal

(...)

— Eu achei mais uma carta... — Bruce avisou e ficamos em silêncio esperando que ele começasse a ler, ele respirou fundo tomando coragem e começou a falar:

Bruce Ray White

"29 de dezembro.
Apesar de tudo, as coisas estão calmas aqui em casa, é até estranho."

Hanna Ray White
Bruce de repente começou a chorar colocando as mãos no rosto, fui até ele o abraçando

— Eu não posso ler isso, foi o dia que ele morreu — disse Bruce entre soluços com o rosto vermelho

— Tudo bem, eu leio, só fique calmo — disse o abraçando e tentando acalma-lo de alguma forma. Depois de alguns minutos ele parou de chorar e me entregou a carta um pouco molhada de lágrimas, foi então que dei continuidade a leitura

Estava tão triste quanto ele, mas não tinha outra escolha, eu teria que ler

"Meu pai era policial quando era mais novo, então quando ele saiu da polícia trouxe algumas coisas com ele, uma dessas coisas foi um revólver calibre 45, Jeffrey lutou muito para ficar com ele mas meu pai deu para mim, minhas irmãs e minha mãe nem imaginam que ele fez isso, ele disse que era "assunto de homens" e que nós não deveríamos contar para elas, até hoje tenho esse revólver, mas algo estranho aconteceu e eu estou com medo por conta disso.

O revólver sumiu, ando irritado esses dias mas nunca pegaria o revólver para fazer nada contra Abigail nem contra ninguém, mas ele sumiu de minhas coisas, Tim é uma criança, nunca me viu portando o revólver, ele não faz idéia de eu tenho um revólver, não faz sentido ele ter pego para qualquer coisa, do meu filho eu não suspeito, mas de Abigail...

É difícil escrever essas coisas, mas eu suspeito que ela possa ter pego e escondido, não tenho coragem de perguntar, e se sem querer eu desencadear um ataque de fúria nela e ela ferir o meu filho? Vai ser como uma morte para mim, se ela estiver mesmo com o revólver ela pode fazer qualquer coisa...

Sinto uma sensação estranha, uma certa angústia, mas vou viver como se nada tivesse acontecido e esperar para ver o que acontece"

Depois de ler todos me olhavam tristes, lágrimas escorriam pelos nossos rostos, eu sabia que pensávamos a mesma coisa.

Mesmo com os olhos cheios de lágrimas podia se ver que tínhamos a mesma certeza, a mesma revolta

Agora sabíamos que Abigail matou o meu irmão, agora tínhamos certeza absoluta.

O Monstro Que Eu CrieiOnde histórias criam vida. Descubra agora