O Monstro Que Eu Criei

you are to blame

— Eu entendo o seu estado, mas precisamos ter calma... — ele me alertou

Claro, é fácil pedir calma quando não é a esposa dele que está possivelmente morta bem na frente dele! Ele não se esforçava para se pôr no meu lugar, ele parecia estar acostumado com pessoas como eu e certamente estava.

— Vamos ver o primeiro corpo, eu espero que você esteja preparado. — exclamou o policial e eu senti meu coração bater ainda mais rápido, pareciam ter cavalos correndo dentro do meu peito

— Essa é a menina mais nova que foi encontrada em condições menos críticas... — foi então que ele levantou o longo pano branco

Com a rapidez que o pano foi levantado um leve vento veio ao meu rosto e quando eu abri meus olhos tive a pior visão da minha vida

Era Sarah.

Não consegui esboçar reação alguma, estava com os olhos cheios de lágrimas, estava meio a um silêncio mórbido, os policiais olhavam para mim esperando que eu dissesse algo e eu apenas pensava em todos os momentos que tive com a minha filha, eu vi cada passo dela, cada sorriso, lembrei-me das brigas e dos abraços, e agora ela estava nua e morta na minha frente, ela não estava mais comigo.

Lágrimas desceram sobre o meu rosto e um ar quente saiu da minha boca semi aberta, eu estava em completo choque, sentia uma veia pulsar na minha cabeça, era como se eu fosse desmaiar, eu queria gritar mas som algum saía da minha garganta

— Senhor, olhe nos meus olhos — segui suas instruções — Eu preciso que você respire com calma — pediu o policial

Calma?

— Pelo visto reconhece esse corpo, encontramos uma foto no quarto onde o segundo corpo estava — o legista estendeu a foto para que eu pegasse — Pela arcada dentária a moça da foto é a segunda vítima, vamos te poupar de ver o corpo, pegue a foto...

Tomei coragem e desviando lentamente meus olhos do legista olhei para a foto e meu coração doeu, ver a foto da minha esposa e de Sarah acabou comigo, lembro exatamente do dia em que eu mesmo tirei aquela foto, estávamos em casa, pouco tempo antes de eu cometer o maior erro de toda minha vida, elas estavam felizes e sorridentes e eu quis guardar aquele momento para sempre, para poder lembrar toda vez que botasse meus olhos naquela foto

Não me lembrava daquela foto até o presente momento, agora só terei memórias do que um dia foi a minha família.

Por mais que não fosse de chorar na frente de outros homens eu chorei, finalmente um grunhido de dor saiu de minha garganta e de joelhos caí em frente as macas, encostei minha cabeça nas minhas coxas chorando e tentando negar o inegável

Eu abri mão de tudo e agora eu não tinha mais nada...

Por que comigo? Por que minha família? Onde foi que eu errei e o que eu fiz para o destino me punir com tanta violência?
Onde foi que elas erraram para morrer assim? Minha família...

— Senhor... Por favor se recomponha, precisamos da sua ajuda — escutei mais uma vez a voz irritante do policial — Nós encontramos algo no corpo da mulher mais nova, iniciais que foram feitas após ela morrer, ela tinha três letras feitas com um objeto cortante escritas no lábio dela —completou o legista quebrando o pequeno silêncio

— JRW, isso é familiar para você?

Meu choro cessou.

— Que letras? — perguntei com a voz falha me levantando incrédulo

— JRW... Você conhece algo ou alguém com essas iniciais?

Meus olhos estavam perdidos enquanto eu passeava em minha memória, eu conhecia sim alguém com essas iniciais, eu queria matar qualquer um que pudesse ser um possível culpado pelo o que aconteceu com a minha família, eu estava completamente cego de ódio e sequer pensei no que estava prestes a fazer.

Saí da presença deles, abri a porta daquela sala do necrotério e bati com tanta força que escutei os vidros tremerem, andei com sangue nos olhos certo do que queria fazer sem ao menos pensar por um segundo.
Ouvi ambos os homens que estavam comigo na sala tentar chamar pelo meu nome mas eu só tinha ouvidos para uma única voz e quando eu a ouvisse eu não responderia mais por mim.

Quais as chances das iniciais não serem o nome do meu irmão?
Quais as chances daquele desgraçado não ter matado minha família? Ele já fez isso antes e agora não seria nenhum problema para ele!

Jeffrey Ray White
Os policiais que queriam conversar comigo chegaram rapidamente, logo depois da chamada com David, eles se sentaram à minha frente e me olharam como se estivessem me julgando em completo silêncio.

Eles não eram desconhecidos, pelo menos dois deles não, a cidade estava cheia de estranhos e eu não conhecia mais todos que trabalhavam nesse departamento, o homem que me encarava com firmeza parecia me conhecer e conhecer meus pecados de outras vidas até, mas eu nunca havia visto ele na minha vida

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — perguntei olhando para o mesmo homem

— Eu que lhe pergunto senhor White.

— Não estou entendendo o que está acontecendo. — falei olhando para os policiais que conhecia há anos — Quem é esse cara? — questionei com certa arrogância

Me esqueci por um segundo que não trabalhava mais aqui e não tinha autoridade nenhuma

— Esse cara tem nome senhor White, me chamo Oficial Edouard e eu gostaria que me olhasse nos olhos — obedeci seu pedido o lançando um olhar de desdém

— Estou te olhando nos olhos desde que cheguei aqui e com todo o respeito senhor Edouard, eu cansei desse jogo — falei com raiva, todo silêncio e interrogatório com os olhos estava me dando nos nervos

— Vá com calma Jeffrey, só queremos conversar... -— disse Logan, um dos policiais que era cadete nos anos em que eu trabalhava como policial

— Eu não tenho nada para conversar Logan, eu cheguei na cidade hoje como já disse várias vezes no caminho — cruzei os braços — O que vocês querem comigo?

— Queremos falar sobre alguns homens, homens esses que morreram, todos em série, um após outro... — relatou Edouard enquanto brincava com os dedos -—Curioso não? Sabe o que é mais curioso que isso? Todos eles tinham ligação com você, pelo o que parece eram seus amigos, todos morreram menos você, não acha isso esquisito? — questionou ele enquanto me encarava com firmeza

Entendi o que está acontecendo aqui...