O Monstro Que Eu Criei

old days

February 19th

Ontem dia 19 de fevereiro, Gina Davies Woods de 29 anos foi encontrada morta em sua casa, as autoridades ainda não sabem quem foi o autor do crime, o caso ainda está sendo averiguado porém não há pistas do assassino. Familiares da vítima prestaram depoimento e conversaram com a imprensa, o irmão dela disse:
"Uma pessoa de bem, não existiam motivos para que ela viesse a morrer daquela forma tão cruel" fecha aspas.
O sepultamento de Gina Woods será no memorial da cidade às quatro horas de hoje.

Hanna Ray White
Estava em minha casa e ouvi passar na televisão a notícia da morte de uma mulher na cidade, nossa cidade era tão calma e pacata, nasci e cresci aqui, em todos esses anos posso contar nos dedos quantos casos de assassinatos ocorreram aqui, meu falecido pai escolheu esse lugar justamente pela calmaria e baixo índice de crime.

De repente uma mulher aparece morta de uma forma anormal, e o culpado não foi encontrado, nunca em anos nossa cidade foi noticiada em outros canais, autoridades de outros lugares estão vindo para cá ajudar na investigação, muito rapidamente o caso ganhou visibilidade primeiro nas redes sociais e depois na televisão.

Depois de tudo o que houve fiquei um bom tempo sem ir na casa de minha mãe, não sabíamos como conversar sobre o que houve e preferimos nos afastar, mas depois dessa morte repentina resolvi que iria até a casa dela, para ter certeza que ela está bem e quem sabe falar sobre aquele acontecimento.

Ao chegar perto da casa dela vi o carro de Bruce e ele também estava parado na frente do portão

— E aí? — disse sem saber sobre o que conversar

— Oi... Você também veio por conta do que aconteceu, não é? — concordei

— E por outras coisas também —  ele olhou para baixo.

De repente minha mãe abriu o portão e nos encarou em completo silêncio, olhei para Bruce esperando que ele dissesse algo e ele sequer me olhava, ele escondia seus olhos atrás dos óculos de sol escuros.

— Entrem. — nossa mãe disse e nos deu as costas andando em direção a porta de entrada, ainda em silêncio apenas a seguimos.

Entramos na casa e observamos ela no fogão preparando o almoço, mexendo em algo dentro dentro da panela e de repente ela começou a falar cortando o silêncio

— Vocês vieram aqui por conta da menina morta não é? Sentiram culpa? Saudades? Remorso? Sentiram algo pelo menos? — ela nos bombardeou de perguntas simultaneamente

— Sim, viemos aqui por isso também, mas sentimos sua falta —  Bruce finalmente disse algo mesmo que sem jeito

— Não, não sentiram não! Vocês moram aqui do lado, vieram por remorso! — ela disse em tom cômico e nós dois sorrimos de cabeça baixa

— Desculpe, não sabia como vir aqui depois do que aconteceu... — falei e o nosso sorriso se fechou

Ela então parou de mexer na panela e deixou a colher de pau de lado em seguida olhando para nós

— O que houve foi que encontramos o que estávamos procurando, e não vamos poder ajudar ele como imaginávamos, amamos muito ele mas nossa segurança tem que estar em primeiro lugar e no caso de Timothy só vamos estar seguros se continuarmos longe dele. — ela falou e eu concordei olhando para baixo

— Mas você não sente falta dele? — perguntou Bruce

Ela respirou fundo e voltou a falar

— Sinto, amo ele tanto quanto amo vocês e não poder ajudar ele me entristece.

— O que te deixa tão forte? Você chorava e ficava preocupada com ele antes, o que mudou? — questionei e Bruce me olhou surpreso, talvez ele também quisesse perguntar a mesma coisa

— Sabe, eu sinto todos os dias desde aquele encontro que aquela não iria ser a última vez que eu veria ele, eu senti que deveríamos nos afastar mas eu sinto que ele nunca vai se afastar de nós. — a encarava enquanto ela parecia viajar em seus pensamentos — A diferença de hoje para aqueles dias era que antes eu não sabia se ele estava mesmo vivo e agora eu sei, eu não reconheci Timothy naquela noite, aqueles olhos não eram deles mas mesmo assim naqueles olhos eu podia ver que ele me conhecia, sabia que ele não iria longe. — olhei para meu irmão e ele me encarava em silêncio — Eu já lidei com pessoas iguais a ele, eu sei quais tipos de atitudes pessoas iguais a ele costumam tomar por isso a minha certeza, Timothy é inteligente e não vai morrer, por isso eu não me preocupo. _ ela finalizou e eu logicamente fiquei surpresa porém não deixei visível

— Já que você já lidou com pessoas iguais a ele, o que você faria se ele fosse um paciente seu? — minha mãe olhou para o nada pensativa após a pergunta do meu irmão

— Eu receitaria alguns remédios e cuidados que os responsáveis pelo paciente deveriam tomar em relação a ele, e ele também faria terapia constantemente.

— E se isso não resolvesse, que atitudes iriam tomar? — Bruce tornou a perguntar e minha mãe olhou fixamente para ele

Acredito que de todas as perguntas que poderíamos fazer ela não contava com essa

— Você quer a verdade cruel ou a suportável? — eu apenas escutava em silêncio

— As duas. — ele respondeu

— Se fosse antigamente ele iria ser levado para um sanatório e como todos os outros iria morrer, se tivesse sorte de forma natural.

— E a verdade suportável? — questionou Bruce

Ela soltou um ar pelo nariz com um sorriso no rosto negando com a cabeça

— Essa é a verdade suportável, os tempos atuais conseguem ser piores que os tempos antigos, a ignorância em geral ao invés de diminuir com o passar dos anos só aumentou. — ela falou com uma voz inconformada

—E o que pessoas como ele fazem —Bruce perguntou com um certo receio e continuamos olhando para minha mãe que estava em completo silêncio novamente

Ela parecia não querer falar, ou apenas estava criando coragem

— Matam tudo e todos, se não tiverem um tratamento adequado. — ela revelou depois de uma pausa curta — Tudo o que Timothy sofreu só o fortaleceu, e agora ele está forte e com coragem para qualquer coisa, todos que estiverem no caminho dele vão morrer, é essa a ambição deles, matar sem propósito. -—Bruce engoliu seco

O que poderíamos fazer nessa situação?