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Desliguei o celular e encarei Mark que me olhava assustado

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Desliguei o celular e encarei Mark que me olhava assustado

— Você falou com ele não foi? — ele perguntou sem entonação e eu confirmei com a cabeça

Ter esse tipo de conversa não é uma boa forma para finalizar o dia, todas as palavras de Jeffrey carregadas de dor e culpa acabaram comigo, eu queria poder fingir que estava bem mas não estava.

— E foi a pior decisão que eu tive, talvez permanecer com a dúvida de que ele tinha algo a ver com as mortes iria ser mais suportável do que as palavras que eu acabei de ouvir.

— Nós fizemos essa escolha e nós estamos arcando com as consequências dela, você não acha que isso tem a ver com o que nós fizemos, não é? — ele tornou a perguntar a mesma coisa novamente

Estava cansado desse assunto, falar sobre a tortura e morte do garoto sugou minhas energias, pensar no que fiz e no garoto ferido me enjoou, como fui capaz de matar um garoto? Um simples adolescente rebelde...

— Eu vou fazer ronda por aí... No bosque — falei pausadamente completamente fora de órbita

— Ok... — Mark me respondeu e eu não prestei atenção na expressão dele, apenas saí da presença dele

Mark (o último policial)
Hector estava inexpressivo, apático, abatido, irreconhecível.
Tudo desabou de uma só vez em cima dele, ele e Joseph eram grandes amigos, se não me engano amigos de infância.

Estou tão assustado quanto ele, mas ele está muito mais traumatizado que eu, eu me arrependo demais mas o arrependimento não vai trazer o garoto de volta e nem vai apagar tudo o que fizemos.

Hector
Estava dirigindo sem olhar para a rua, estava imerso em meus pensamentos, estava atordoado, parece que a fixa caiu para mim agora.

Meus amigos morreram, meu amigo de infância se foi, eu não criei família, eu não tenho parentes, eu não tenho mais ninguém...

Estacionei em frente a casa da esposa de Jeffrey, vi ela e a filha deles no quintal e ao me ver o largo sorriso dela se fechou.
Foi então que ela veio até o meu encontro na calçada parando em uma certa distância de braços cruzados

— O que você quer? Ele te mandou mais algum recado? — ela perguntou com um tom passivo agressivo

— Sim, ele te ama e quer voltar para vocês, ele tem saudades... — ela riu com sarcasmo

— É claro que ele me ama! Ele some por meses e nunca me liga, usa os amigos para me dar recados e ainda tem coragem de dizer que tem saudades? Se tivesse dito que queria ir embora com uma mulher qualquer seria bem mais honroso do que sumir e deixar a esposa e a filha largadas! — ela desabafou de uma só vez e e percebi a semelhança dos dois...

Os dois queriam ser ouvidos, eram igualmente carentes de atenção.

Depois que Jane parou de falar eu me despedi e voltei para a viatura, não lembro dos últimos minutos em que eu falei com ela, não lembro das coisas que ela me disse e não me recordo se tive resposta depois do meu adeus, vi apenas sombras, uma sombra dela de pé, a sombra da bebê brincando no quintal, a sombra de um homem qualquer passando na rua... Eu estava presente de corpo mas não de alma.

Entrei no carro e dirigi até o bosque que eu tinha em mente antes mesmo de ligar para Jeffrey

Timothy Ray White
Eu sabia para onde Hector iria, ele foi até a casa da Jane e eu o vi, ele nem percebeu que estava sendo vigiado de longe, eu poderia passar do lado dele, ele não iria me reconhecer, eu passei do outro lado da rua e ele sequer olhou para mim, ele estava morto antes mesmo de morrer.

Vi o momento em que ele entrou na viatura e o segui de longe, ele dirigia lento e calmo, parecia um morto-vivo.
Vi quando ele parou o carro na entrada de um bosque e foi andando para o interior a pé

Callahan gritava pedindo o controle, não neguei, porém para a nossa surpresa Rose também pediu o controle, pensei duas vezes e deixei que ela tomasse posse, Callahan não gostou nem um pouco porém Rose era inteligente e perspicaz, ela não iria pedir o controle atoa, ela certamente tinha algo brilhante em mente.

Hector
Fui andando pelo bosque olhando para baixo, vendo meus sapatos sociais limpos se tornarem sujos de barro, parei e me sentei em um banco de frente para um chafariz antigo de mármore sujo e velho pelo tempo.

Tirei do meu coldre uma pistola calibre 22 e involuntariamente levei até a minha cabeça, ela já estava carregada, eu só precisava atirar

De repente ouvi passos atrás de mim, eu estava com uma arma na cabeça se me matassem eu sairia ganhando, não me preocupei em olhar para trás.

— Você acha que isso vai ter ajudar a esquecer? — uma voz afeminada ecoou pelo bosque e eu continuei com a arma apontada para a lateral da minha cabeça — Você achou mesmo que era fácil lidar com a culpa? Você matou várias pessoas e as enfiou em um buraco qualquer, nunca sentiu um pingo de remorso... Você nunca lidou com a culpa porque nunca se arrependeu pelas coisas que fez, mas agora é diferente... — a voz continuou a falar e senti meu coração disparar e minhas mãos começarem a suar

— Eu não quero perdão, eu não mereço. — respondi com a voz trêmula

Escutei barulho de folhas sendo pisadas e logo a pessoa estava do lado da minha arma, ao meu lado.
Eu não a olhei, continuei firme com meus olhos no chafariz.

A pessoa lentamente tirou meu dedo do gatilho e tirou a arma da minha mão, continuei com o braço estendido na mesma posição até que olhei para a pessoa e nesse momento eu senti algo que nunca havia sentido antes, um pavor fora do normal.

Rose
— Eu nunca iria te dar o perdão, você nem nenhuma outra pessoa merece o nosso perdão. — ele me encarava boquiaberto — Você já está morto, você é fraco, se ajoelhou perante a morte tão facilmente que chega dar nojo de te olhar — vi os olhos daquele homem se encherem de lágrimas e lentamente essas lágrimas foram cobrindo o rosto pálido dele

Callahan
— Você é tão inútil quanto os outros que eu matei, mas eu nunca deixaria você se matar, você não tem o direito de acabar com isso no meu lugar.

— Me perdoa — Hector suplicou chorando descontroladamente olhando firme nos meus olhos

E foi olhando nos olhos dele que atirei sem exitar

Os pássaros voaram pelos céus com o barulho do disparo, o corpo caiu de lado no chão como um boneco, lentamente o sangue começou a se espalhar pelo chão e chegar perto de um chafariz de frente para o lugar onde estávamos.

O chafariz ganhou tons avermelhados, estava coberto de sangue.

Ouvi sirenes ao longe, os pássaros não foram os únicos que ouviram os tiros.

Poderia ficar o dia inteiro aqui,  a sensação que aquela cena me dava era inexplicável, porém eu não podia arriscar, fui embora antes que pudesse ser visto por alguém

Mais um.

O Monstro Que Eu CrieiOnde histórias criam vida. Descubra agora