February 14th
Anthony Ray White
Eu havia me tornado pai, e talvez se não fosse rápido teria perdido meu filho, só Deus sabe onde aquela mulher iria com ele a essas horas, ela parecia perdida, seu olhar estava morto, eu não sabia o que fazer, estava completamente paralisado com medo da cena que tinha acabado de ver em minha frente.Tentei acalmar Tim que chorava muito, ele estava dentro de um travesseiro incomodado com a espuma eu pensei, então tirei meu blazer e o coloquei ali dentro, o coloquei bem perto do meu peito e comecei a conversar com ele, acariciei seu rosto e aos poucos ele foi se acalmando, depois de alguns longos minutos ele dormia como um anjo.
Fiquei preso em seu rosto angelical e calmo, estava perplexo, meu filho era lindo!Depois de fechar a porta e me livrar do travesseiro sujo subi com ele pelas escadas e entrei no quarto, me senti em uma cena de crime vendo todo aquele sangue, tesoura e roupas no meio do quarto, coloquei Tim em seu berço e fui procurar Abigail.
Escutei o chuveiro ligado dentro do banheiro e bati na porta, Abigail então desligou o chuveiro e escutei passos vindo em direção a porta que estava trancada
— O que houve Abigail, você está bem? — não fui respondido — Timothy precisa de...
- NÃO! Ele não me quer! — antes que pudesse terminar fui interrompido por ela
— Abigail, você precisa sair daí não pode se esconder para sempre — encostei a cabeça na madeira da porta
— Eu não quero esse bebê, ele me irrita, seu choro me irrita, ver ele me assusta eu não quero ter que sair daqui e precisar olhar para esse bebê. — ela desabafou me surpreendendo
Ela não queria saber do próprio filho? Apenas olhei para Tim que agora dormia tranquilo e tentei entender que culpa aquele pequeno ser tinha, o que aquele bebê indefeso fez para que a própria mãe o rejeitasse daquela maneira? Não podia fazer nada, apenas escutei as palavras de Abigail e aceitei sua decisão.
— Timothy vai ficar comigo, vou arrumar a bagunça que está essa casa e você vai ter que sair daí uma hora ou outra. — falei com firmeza e ela continuou em silêncio
Agora tinha um filho e uma mulher problemática, não podia mais viver sem compromisso, agora tinha responsabilidades, finalmente tinha meu filho nascido e a ele devia toda a minha vida, era meu sonho se tornando realidade, faria de tudo para que ele ficasse bem mesmo que a própria mãe não quisesse isso.
Foi então que desci para o primeiro andar e limpei toda a sujeira que Abigail fez, voltei para o quarto e limpei o mesmo por completo, parecia outro de tão limpo
Depois de tudo feito peguei Timothy e o levei para o seu quartinho, lá peguei roupas novas já que a roupa que ele estava usando encontrava-se cheia de sangue, pensei em dar lhe banho mas não tinha prática nem experiência, porém iria ter que aprender de um jeito ou de outro.
Com muito cuidado então tomei coragem e levei Tim para a banheira, o limpei e ele continuou em silêncio dormindo em meus braços, coloquei nele uma roupa que havia separado e o coloquei para dormir de volta em seu berço.
— É meu filho, parece que agora vamos ser nós dois pela sua mãe — acariciei suas bochechas, quando comecei a cochilar na beira do berço me levantei e fui em direção ao meu quarto e de Abigail, quando tentei abrir a porta a surpresa, ela havia trancado.
— Abigail abra essa porta — bati na porta falando alto mas ela me ignorou. — Abigail abra essa maldita porta agora! O que está acontecendo com você, qual é o seu problema? — perguntei já irritado
— Timothy é o meu problema! — ela gritou de dentro do quarto
— O que ele te fez? Ele apenas nasceu Abigail, ele sequer sabe falar ou andar, não lhe bateu nem lhe ofendeu, por que seu próprio filho é um problema? — a questionei inconformado
— Ele chora demais, grita demais, ele não me aceita, não me quer perto. — ela listou todas essas coisas com uma entonação de repulsa
— Abigail ele não está aqui comigo, está dormindo no quarto dele, eu só quero entrar e dormir, se é assim que quer não o trarei para perto de você, apenas me deixe descansar para amanhã cuidar dele. — disse já derrotado, sabia que não haveria jeito de unir ela ao bebê, pelo menos naquele dia
Ela então ficou alguns segundos em silêncio até que a porta do quarto se abriu e Abigail voltou para a cama sem olhar no meu rosto
Vi a chave da porta pendurada na parede então escondi em meu bolso, não sabia o que ela poderia fazer com Tim enquanto eu estivesse dormindo então resolvi me precaver.
Peguei algumas peças de dormir e fui para o banheiro, liguei o chuveiro e não consegui me concentrar no banho, muitas coisas em pouquíssimo tempo aconteceram ao meu redor e aquele foi o momento perfeito para assimilar todas elas, o que aconteceu na minha ausência, por que ela não quer o próprio filho? O que será que eu perdi?Tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo na minha vida, me senti perdido, como vou sustentar Timothy e Abigail? Todos os dias saindo para procurar emprego e todas as noites voltando sem respostas, agora eu preciso continuar a procurar emprego e cuidar do meu filho, e não tenho tempo para pensar no que fazer.
Claro que eu fui um péssimo marido deixando Abigail sozinha nesses meses de gravidez, mas eu tinha um motivo, se eu passasse tempo apenas farreando ou só cuidando dela eu não arranjaria um emprego nunca.
Eu bebi sim, não nego, mas eu preciso! Quando não bebo sinto que não consigo dormir, sinto minha carne tremer e tenho até pesadelos, eu preciso beber para me manter bem e estável, mas mesmo bebendo eu sempre tive compromisso, sempre resguardei o sobrenome da minha família, nunca dei motivos para que falassem mal da minha pessoa.Quando voltei a realidade vi o tempo que passei pensando de baixo do chuveiro e nem tomei banho de fato, foi então que eu me lavei rapidamente e me vesti voltando para o quarto onde Abigail estava encarando o teto, quando ela me viu disfarçou e se virou, fui até a cama e me deitei ao lado dela.
— Podemos conversar? — perguntei quebrando o silêncio
— Acho melhor não, eu sei do que você quer falar e eu não quero falar daquilo — ela foi direta.
— Daquilo Abigail? — respirei fundo chateado — Olha, não vou insistir em conversar, apenas te peço que tire leite e deixe reservado para que eu possa dar ao Tim, ele acabou de nascer não tem 48h de vida ele precisa ser amamentado — ela parecia pensativa, perdida em seus pensamentos
Tudo bem. — ela respondeu e fechou seus olhos encerrando nossa "conversa"
Por mais que não tenha conseguido convencê-la de ficar com seu próprio filho pelo menos ela aceitou me ajudar indiretamente, agora tudo o que eu preciso é dormir
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O Monstro Que Eu Criei
HorrorTimothy foi um homem que na infância presenciou coisas que nenhuma criança deveria presenciar e cresceu com as consequências dos traumas causados principalmente por sua própria mãe. Ele então se torna um adulto cheios de conflitos internos e uma dup...