4 april
David Ray White
Eu conhecia a mulher que deitava ao meu lado, não completamente, mas eu sabia do que ela era capaz, antes de sair eu escondi o revólver dela, o revólver que ela usou para matar meu irmãoEu nunca parei para pensar no que ela tinha feito, achava que deixar isso de lado e viver como se nada tivesse acontecido me faria esquecer esse ocorrido fácil, e de fato eu esqueci rápido de Anthony, mas não do que ela fez.
Imaginei que depois da nossa discussão calorosa ela fosse tentar contra a minha vida, a essa altura ela já deveria estar procurando o revólver, mas estava em minha mala e eu precisava sair de lá antes que ela se lembrasse que podia me matar com outros objetos
Eu gostava de Abigail, dizer que eu não tinha nada com ela foi algo dito no calor do momento, uma estupidez, eu realmente gostava dela
Talvez nunca fosse amor, mas paixão com certeza.
Eu sempre amei meus filhos, mesmo não parecendo eu os amava a distância, ver que ela não se importava com o filho dela me deixava desconfortável, mas quando ele morreu e ela sorriu me senti triste e confuso, eu realmente queria alguém assim do meu lado? A resposta era óbvia, aos poucos o fogo da paixão foi acabando e só restaram as coisas ruins, as desconfianças, a repulsa, o medo e o cansaço.
Abigail tem medo de ficar sozinha, tem medo de ser rejeitada, ela nunca admitiu isso, mas pelas atitudes dela é possível perceber, ela consegue ser tóxica ao ponto de matar por supostamente amar, e eu não queria ser a próxima vítima desse "amor"
Eu dei uma facada nas costas do meu irmão quando eu me interessei pela esposa dele quando ele ainda estava vivo, eu sei disso, e eu sabia que o destino iria me cobrar pelo o que fiz, eu errei e eu estava disposto a arcar com as consequências no futuro, mas eu não imaginava que estaria na mesma situação que meu irmão anos depois, as nossas únicas diferenças são que ele não pôde se defender, foi morto covardemente, ele era puro e bom e eu nunca fui puro e nem bom como o Anthony, eu nunca fui certo como ele e o que confirma isso é que eu estou vivo e ele não, os bons sempre se vão e como dizem os velhos ditados populares os ruins duram mais.
Pensar em tudo isso não iria me ajudar a voltar para minha cidade natal, eu tinha que arranjar um carro, eu precisava sair de lá e rápido, lembrei do meu outro irmão, ele não podia me ajudar, estava tão necessitado quanto eu, mas eu não iria morrer se tentasse pedir ajuda então liguei para Jeffrey
— ...O que foi? — ele perguntou receoso
— Eu preciso da sua ajuda, minha esposa... — cocei a garganta — A Adelaide pode estar morta e a Sarah também, Alfred me ligou e eu preciso ir ver se está tudo bem, você tem um carro ou algo assim? — por segundos ele ficou mudo
— Mais pessoas morreram... — ele disse com uma voz tranquila e baixa, parecia estar em choque, mas por que?
— Mais? Como assim?
— Meus amigos foram assassinados, um atrás do outro, nenhum deles me ligaram e nem aceitam minhas chamadas, acho que todos estão mortos... — ele disse ainda calmo — David, acho que alguém está matando eles para chegar a nós... E se for um castigo pelo o que eu fiz com Timothy? Pelo o que nós dois fizemos com ele?
— O que Adelaide tem a ver com isso? Não faz sentido! Você matou ele, eu apenas fiz algo sem pensar! Apenas nós sabemos o que você fez e só alguns da família estavam presentes no lago, quem saberia disso e estaria interessado em se vingar de nós? — ele não me respondeu por minutos, ficamos em um completo silêncio perdido em nossos respectivos pensamentos
— Eu consigo te arranjar um carro, mas com uma condição. — ele propôs depois de um longo tempo
— Que condição?
— Eu quero ir com você, eu cansei de me esconder e escutar que pessoas próximas de mim estão morrendo, eu quero me desculpar com todos, talvez eu encontre o túmulo de Timothy e consiga me desculpar com ele também, eu não quero mais pagar pelo o que eu fiz, e você deveria fazer o mesmo — Me surpreendi, me assustei até, desde quando ele acreditava tanto em karma ao ponto de pedir perdão para quem já se foi?
Eu acho que o medo que eu estava sentindo por conta da notícia das mortes me fizeram ficar sem emoção sobre as outras fatalidades, eu estava tão concentrado nas duas que não conseguia compreender a gravidade do que estava acontecendo com as outras pessoas
— Se você quer mesmo fazer isso tudo bem, mas eu preciso sair daqui agora, eu te ligo daqui a pouco eu vou andando até algum lugar para te esperar, ficar em casa não é mais seguro.
— Como assim? Abigail te ameaçou?
— Não, está fazendo como fez com Tony
— Como assim? — ele perguntou
— Está em silêncio, apenas esperando o momento certo para dar o bote. — falei pensando em minha família sem prestar atenção em minhas palavras
— Do que você está falando, David? — foi nessa hora que eu me atentei ao que estava dizendo, Jeffrey não sabia que foi Abigail quem matou Tony, para toda a família ele tinha se suicidado, eu então senti um frio na barriga e fiquei em silêncio pensando no que iria responder e em como eu iria justificar tudo o que tinha acabado de dizer
— Eu não sei o que estou falando Jeffrey — menti forçando uma voz de tristeza — Eu estou preocupado com a minha filha e Adelaide, só venha com o carro por favor, eu vou desligar — completei um pouco nervoso desligando o celular em seguida, se continuasse falando poderia me enrolar com a minha mentira ou ele poderia acabar descobrindo o que ela fez, eu não estava lá no momento em que meu irmão morreu, mas eu sabia a verdade e escondi, Jeffrey poderia fazer algo pois mesmo afastado ainda era um "policial"
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O Monstro Que Eu Criei
رعبTimothy foi um homem que na infância presenciou coisas que nenhuma criança deveria presenciar e cresceu com as consequências dos traumas causados principalmente por sua própria mãe. Ele então se torna um adulto cheios de conflitos internos e uma dup...