Nas horas seguintes da madrugada em que roubamos o avião dos Creeps, um galpão dos Young Folks explodiu. Não. Corrigindo: foi explodido.
Enquanto voltávamos do assalto, com a carroceria do caminhão pesada e carregada de cocaína, Norman avisou. Ele sempre avisava. Ele disse que era apenas uma questão de tempo até que os Creeps revidassem, mas não esperávamos que fosse tão rápido.
A gangue rival atacou um dos galpões da South Of Market, onde quilos de drogas eram fabricados e processados. Não fiz perguntas, não quis saber de que tipo eram ou para onde iriam se não tivessem explodido pelos ares. Eu queria saber sobre os feridos, porém devia saber que não suportaria ouvir.
Eu não conhecia muitos Folks além dos mais próximos de Zayn, que agora eu também poderia chamar de amigos. Alguns não eram estranhos, eu os reconhecia da boate e da avenida, mas não tive oportunidade de conversar e interagir.
Aquele corpo, no entanto, era familiar.
Ou o que restou dele.
Tive vontade de vomitar quando Jake explicou o ritual dos Young Folks. Eu deveria ter esperado algo assim deles, pois sempre tiveram sua própria maneira de fazer as coisas, mas levei um tempo para processar.
Muitos Folks morriam com frequência, então nem todos eram celebrados e homenageados. Estes eram cremados e tinham seus nomes pichados pela cidade, e agora, no novo QG, havia uma parede com placas memoriais.
Aqueles que tiveram maior impacto na gangue e simbolizaram algo passavam pelo ritual. Seus corpos eram colocados dentro de seus carros, no meio da avenida. Os Folks jogavam e destroçavam garrafas de bebidas em cima do carro e depois atiravam no álcool para criar um incêndio que cremasse o companheiro e seu caixão — que, neste caso, eram seus troféus conquistados em rachas.
Eu poderia pensar em mil maneiras mais amáveis e gentis de velar um amigo. Só que eu era a única incomodada ali. Não era uma Folk.
Para eles, era a forma mais adequada de partir. Os Young Folks não cediam seus corpos para a terra comer. Eles eram consumidos por bebidas e carros de corrida, na vida e na morte.
Olhando para o corpo dentro do Mustang, indaguei se os pais não mereciam receber o corpo do filho para chorar e enterrar. Mas pensando bem, os Young Folks eram mais propensos a não ter pais para lamentar suas mortes. Ou eles não queriam isso.
Eu preferiria queimar dentro do Crusher do que ver meus pais chorando em cima do meu caixão.
Zayn jogou a primeira garrafa. Era um uísque escocês. Depois dele, atiraram dezenas de garrafas de tequila, vodca e cerveja.
Não joguei nada. Virei as costas.
Quando Malik tirou a pistola do cinto e soltou a trava de segurança, abracei sua cintura. Ele esperou que eu olhasse para trás. Se eu fizesse isso, a última imagem que eu teria de Jimmy seria seu corpo chamuscado e sua pele tatuada com queimaduras da explosão.
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The Young Folks
Fanfic❝Abella Del Corneto lambia o cano da arma da morte. Seu apelido poderia ser Sagacidade, Violência, Sensualidade ou Morte, se Ab do Malik já não ocupasse a função.❞ Abella cresceu em um ambiente de negligência parental, o que a obrigou a se tornar um...