02| Eric

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Maldonado não foi o único lugar em que morei desde que deixei São Francisco

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Maldonado não foi o único lugar em que morei desde que deixei São Francisco. Nos últimos 21 meses, morei em mais cidades que poderia contar. Conheci países que pensei que não conheceria, porque nunca pensei em ir para nenhum outro lugar além da Califórnia.

Eron sempre me fez mudar. Ele não me deixava acostumar com nada, não queria que eu me vinculasse ou criasse raízes. E provavelmente eu nunca me sentiria confortável em nenhum desses lugares, vigiada e encurralada 24 horas, mas o Uruguai estava começando a ficar mais suportável.

Pela primeira vez, fiquei no mesmo lugar por tempo suficiente para pelo menos saber os nomes das ruas por onde passava. Eu tinha até memorizado os nomes de alguns de meus alunos.

E isso me incomodava. Porque em mais da metade desses meses, não tive nada a perder. Eu era um corpo vazio que Goyola movia ao redor do mundo para cumprir seus planos. Agora, se eu me apegasse e começasse a sentir estar me adaptando — por mais que minha adaptação tenha sido apenas por cansaço e desistência — eu perderia de novo. Eron iria destruir isso também.

Eu tinha medo de me aproximar de alguém. Betty não era minha amiga. Eu não poderia ter amigos. Porque seriam usados contra mim, Eron os transformaria em um estratagema e uma ameaça, jogaria com suas vidas como se fossem peças de um tabuleiro.

Eu já tinha amigos que ocupavam o espaço no meu peito. Estava aguentando tudo isso por eles. E, por muito tempo, quis morrer de pensar que enquanto eu era mantida como refém, eles me odiavam.

Incluindo Vitória.

Ela não me disse que me odiava e não vi isso em seus olhos. Porque não tive oportunidade. Só por isso.

No dia em que fui embora, saí do QG chorando e carregando Vitória nos braços. Corri para fora do prédio e não pude acreditar que consegui sair viva. Quando o motorista me viu entrar no carro, ele acelerou e eu nem tive tempo de olhar para trás. Ele dirigiu por alguns minutos e chegamos a um aeroporto particular, onde um pequeno avião e Goyola me esperavam.

Vics ainda estava inconsciente quando disseram que nos separaríamos ali.

— Sua amiga será mandada de volta para o Brasil. — Eron garantiu, cabelos grisalhos voando ao vento das turbinas — E você virá comigo.

— Não! — protestei, ainda dentro do carro e segurando o corpo inerte da minha amiga contra o meu — Ela fica comigo.

— Ela não faz parte do acordo. Estou sendo generoso em deixar Vitória ir.

Ouvir o nome dela saindo de sua boca fez meu estômago revirar.

— Foda-se a porra do acordo! Não vou deixar minha amiga nas suas mãos. Ela fica segura, ou eu não vou a lugar nenhum.

— Olhe em volta. — o português abriu os braços graciosamente. Um sorriso maligno apareceu em seu rosto — Você não tem como voltar atrás. Não há como escapar.

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