Capítulo 47: Sentiu saudades?

2.8K 478 271
                                    

Eu estava encolhida em um canto do barco. Meu rosto escondido entre meus joelhos, pra que ninguém pudesse ver o caos que acontecia dentro de mim naqueles instante. Ayla estava sentada ao meu lado em completo silêncio, enquanto Sky e Margo estavam do outro lado do barco. Tinha contado a eles no caminho de volta pro barco o que a profecia dizia.

A bruxa se recusou a me dizer qualquer coisa depois que eu vi a profecia. Eu estava lá, em um salão circular cheio de espelhos, com um fogo sagrado de tom azul no centro, rodeado pelos famosos anciãos. Vi sua discussão sobre meu mundo. Vi a profecia sendo ditada e mudando a opinião deles sobre nos ajudar.

O segundo, nascido arcadiano, será responsável por trazer de volta o poder de um dos elementos a muito tempo perdido.

Pensar que estou destinada a trazer o poder da água de volta pra esse mundo era assustador. Parecia algo grande demais pra uma pessoa como eu, que até ontem era proibida até mesmo de lutar na arena. Mas tudo faz sentido. O torneio, Misty, a busca incessante de Raven para conseguir minha ajuda.

Havia mais dois guerreiros na profecia. Mesmo que eu insistisse em perguntar quem eles eram, ela se recusou a me dizer, resmungando sobre não poder interferir demais. Na hora certa, eu iria encontrar os outros dois guerreiros. A única coisa que me disse, antes de nós expulsar da sua cabana, foi para que eu permanecesse com o mapa, porque iria precisar dele em breve.

Fiquei a viagem toda de volta em silêncio, pensando em casa palavra e frase daquela profecia. Não entendi quase nada dela, além da porte óbvia que me envolvia. Mas o restante era um emaranhado de palavras estranhas. Sky e Margo não podiam me ajudar nisso, porque nem mesmo eles entendiam cada parte dela.

Quando chegamos em terra firme, a tensão dos marinheiros pareceu se dissipar, como se eles estivessem aliviados em ter ido tão longe e conseguido voltar a terra firme com segurança. As docas estavam vazias e silenciosas quando pisamos em terra firme.

O ar frio e a claridade no horizonte deixavam claro que estava perto de amanhecer. Mas o que chamou minha atenção, assim como dos outros, foi a mancha vermelha que surgia sobre a copa das árvores, na direção do vilarejo. A linha vermelha e a sombra do que parecia uma fumaça negra subindo para o céu noturno.

—Aquilo é o que eu estou pensando que é? —Margo indagou, chegando ao meu lado.

—Fogo... —Meu coração disparou e as palavras saíram da minha boca na mesma velocidade que eu começava a correr em direção a floresta.

A lama saltava em direção às minhas roupas à medida que eu disparava para dentro da floresta. Minha respiração estava falhando e minha garganta doía pela intensidade que eu corria. O cheiro da fumaça começava a tomar conta do ar, pensando dentro de mim à medida que o vilarejo ia surgindo e as chamas aparecendo.

As casas de madeira eram devoradas pelas chamas com uma facilidade impressionante. Esse era o momento que eu mais desejava uma chuva, mas ela não veio. Nem uma mísera gota do céu. O que eu recebi foi uma tempestade de fogo, queimando tudo que tocava, se espalhando como a correnteza violenta de um rio, transformando tudo em cinzas e tristeza.

As pessoas corriam pelas ruas, tentando salvar o que conseguiam de dentro das casas. Outras corriam com baldes de água, tentando apagar as chamas que se espalhavam de uma casa para a outra. Começamos a correr para ajudar as pessoas que estavam no caminho do fogo, enquanto eu seguia em direção a casa do meu tio.

Ajudei uma mulher a sair de dentro de casa, observando as madeiras sendo consumidas pelas chamas vermelhas, enquanto o calor parecia devorar todo o ar de dentro de mim. Oscilei com o calor ao tentar correr para longe da casa, sentindo todos os meus músculos doendo. Quando olhei pra trás, a estrutura da casa estava estralando, inclinando pra frente, na minha direção.

O ar escapou pelos meus lábios quando senti as mãos de alguém agarrem a minha cintura. Meu corpo cambaleou para o lado, antes de eu desabar no chão com um corpo vindo sobre mim. Quando virei o rosto, tive um vislumbre dos olhos acinzentados de Sky, enquanto a casa desabava a centímetros de nós dois.

Quando tudo acabou, ele afastou o corpo do meu, mas ainda me segurava com força o suficiente para me dar certeza de que ele era real. De que ele estava ali por mim. Toquei as mãos que estavam na minha cintura, sentindo os lábios dele sobre minha sobrancelha. A respiração pesada e o coração tão acelerado quanto o meu.

—Tente não morrer, por favor. —Sussurrou, deslizando a mão até minha bochechas, traçando uma linha ali até minha orelha, antes de ficar de pé, deixando um rastro de eletricidade pelo caminho.

Eu fiz o mesmo. Fiquei de pé, com meus olhos ardendo e minha garganta se fechando pela fumaça. Olhei na direção que Sky havia corrido, vendo-o tentando ajudar todos que podiam, com o corpo coberto de cinzas. Mas minha atenção logo se voltou para Margo, que corria na minha direção. Os cabelos bagunçados e sujos, assim como o rosto assustado.

Ayla vinha logo atrás dela, tropeçando pelo caminho. Margo apontou para algo em cima do meu ombro, me fazendo olhar para trás, sentindo o ar ficar preso na minha garganta quando vi John e Max parados no meio do caos, olhando na minha direção com um sorrisinho no rosto.

Fitei os dois, observando o leve movimento de cabeça deles, antes de desaparecerem no meio das pessoas, indo em direção a floresta. Não demorou para Sky, Margo e Ayla pararem do meu lado, olhando para a direção que eles haviam sumido. Não precisei de um segundo para saber o que aquilo significava. Se eles estavam ali, Raven também estava. Se o vilarejo estava em chamas, só havia duas pessoas capaz de fazer isso acontecer rapidamente.

Eu troquei um olhar demorado com os três, antes de seguirmos na direção que eles haviam ido. A chuva finalmente começou a cair em Arcádia, levando parte do fogo com ela, fazendo a sujeira de cinzas grudar no meu rosto e nos meus cabelos molhados, enquanto entrávamos na floresta.

As chamas foram diminuindo no vilarejo, assim como os gritos dos arcadianos. Mas eles já não eram nossa maior preocupação e sim os guerreiros vermelhos que começavam a surgir entre as árvores. Paramos de andar a uma distância segura. Minha pulsação disparada, porque eu sabia que nada de bom sairia daquele encontro.

Principalmente quando Raven saiu de trás das árvores, caminhando casualmente até parar entre John e Max. Mas nada foi pior do que a visão do guerreiro vermelho que surgiu, arrastando Alexia pela grama morta pelos cabelos, antes de jogá-la aos pés de Raven.

—Raven... —Eu dei um passo na direção deles, mas Sky segurou meu braço. Margo tinha colocado Ayla atrás dela e já estava segurando seu arco. Raven não pareceu se surpreender com nada disso, porque apenas sorriu pra mim, como um predador que havia acabado de pegar sua presa.

—Sentiu saudades? —Indagou, com os olhos cintilando sarcasmo quando olhou diretamente pra mim.


Continua...

As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora