As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1

Capítulo 62: Tem alguém te esperando.

Dois dias depois, quando finalmente tive autorização de sair do quarto, sobre o olhar atento do meu tio, já me sentia mais do que pronta para voltar a treinar. O gramado em frente ao chalé estava repleto de guerreiro. Era noite e a maioria deles bebia e ria, enquanto dançavam e brincavam de lutar. O cheiro das comidas ali estava delicioso, fazendo minha barriga roncas, porque não tinha tido autorização de comer nada além de sopas sem gosto

Abri um sorriso quando encontrei Margo e Ayla sentadas juntas ao redor de uma fogueira, conversando de uma forma que pareciam se conhecer a décadas. As duas tinham ido me ver no meu quarto depois que eu acordei, o que nos rendeu algumas poucas horas para conversar, antes de meu tio as expulsar, resmungando que eu precisava descansar mais.

Percy estava do outro lado do gramado, escorado em uma mesa, com os braços cruzados na frente do peito, enquanto olhava na direção das duas. Olhava na direção de Margo. Parecia perdido nos próprios pensamentos, com um olhar sonhador, quase doloroso. Comprimi meus lábios, caminhando na direção dele.

—Percy? —Chamei, fazendo-o desviar os olhos dela e olhar pra mim. Um sorriso se abrindo nos lábios quando percebeu que eu finalmente havia deixado o quarto.

—Ei, que bom te ver. —Percy se virou de lado para me encarar quando me escorei na mesa ao lado dele. —Estava mesmo me perguntando quando deixariam você sair do quarto. Não estavam me deixando ir vê-la. Esse chalé já não é mais o mesmo sem você.

—Essa é sua forma de dizer que sentiu minha falta? —Indaguei, fazendo um biquinho com os lábios pra ele, o que o fez rir e balançar a cabeça negativamente.

—Claro que eu senti sua falta. Você é minha melhor amiga. —Afirmou, fazendo meu coração se contrair dentro do peito ao sentir toda a sinceridade na voz dele. —Nunca mais vá com o Raven, Zaia. Nunca mais. Não quero ter a sensação de que vou perder a única amiga verdadeira que consegui aqui.

—Mia e Margo também são suas amigas.

—É diferente e você sabe. —Percy rebateu no mesmo instante, me fazendo engolir em seco. Era diferente. Eu sabia que era. Mia era uma fada da luz, não uma guerreira. E Percy tinha sentimentos por Margo que iam além de amizade. Ele a adorava. Mais do que isso até.

—Prometo que vou tentar ficar longe de problemas. —Toquei o ombro de Percy ao dizer isso, abrindo um sorriso mais do que carinhoso pra ele. —Como a Mia está?

—Ainda de repouso no quarto. Ela estava fraca demais quando a trouxeram e a recuperação está mais lenta que a sua. Mas ela vai ficar bem. Já está até acordada. —Percy afirmou, e eu acabei abrindo um sorriso, sabendo que iria visitá-la mais tarde. Mas precisava de ar puro, depois de tantos dias no quarto.

—Quem está fazendo companhia pra ela? —Indaguei, observando-o olhar ao redor, como se estivesse checando que ninguém estava ouvindo nossa conversa.

—Amélia em alguns momentos e Margo em outros. Caio tem se esgueirado até o quarto dela em algumas noites para vê-la, quando Margo está lá e o ajuda. Amélia deixou claro que não queria a presença de nenhum guerreiro do Acampamento Vertical aqui depois que encontramos você.

—Mesmo depois de eles nos ajudarem? —Questionei, incrédula, vendo Percy dar de ombros.

—É complicado. Acho que ela só os aceitou aqui por causa de Aurora. Mas agora que a elemental do ar se foi, pra lidar com as questões relacionadas a Raven, eles já não são mais bem-vindos. —Percy suspirou, olhando na minha direção com uma expressão questionadora. —Eu, Sky, os gêmeos e Caio fomos atrás do seu tio. Não sei se alguém já contou a você. Ele estava no Chalé Vermelho.

—É, eu soube. Meu tio me contou a historia toda. —Falei, abrindo um sorriso fraco para Percy. —Queria agradecer a você e a eles por isso, mas acho que perdi a chance;.

—Na verdade, não totalmente. —Percy ergueu a mão e puxou os cabelos ruivos para trás, antes de indicar as instalações do celeiro, tentando conter o que parecia ser um sorriso nos seus lábios. —Tem alguém te esperando, desde que você acordou.

Percy se afastou assim que alguém o chamou, enquanto eu olhava na direção do celeiro, me perguntando se minha pulsação acelerada tinha alguma coisa a ver com quem eu imaginava que estava lá me esperando. Sem querer esperar para ver se eu estava certa, segui em direção a construção, desviando dos guerreiros pelo caminho, tentando não chamar a atenção demais, mesmo que alguns ali olhassem pra mim por mais tempo do que era necessário.

Quando entrei no celeiro, o lugar estava parcialmente vazio, exceto pelas baias onde alguns cavalos estavam presos. O lugar estava silencioso, mesmo com o som das risadas que vinham da frente do chalé. Me perguntei se Percy não estava errado, quando cheguei ao fundo do celeiro e não encontrei ninguém.

Passei pelas portas de madeira, observando o deposito de fardos de feno. Um vulto me fez girar nos calcanhares e olhar pra cima, observando o rapaz que estava sentado nas travas que formavam o teto. As roupas de couro perfeitamente alinhadas, além da capa cuidadosamente dobrada e solta ao seu lado.

Não pensei que ficaria feliz em vê-lo, mas senti uma estranha satisfação ao perceber que estava certa sobre minhas suspeitas de ser ele me esperando ali. Sky não disse nada quando nossos olhos se encontraram, além de pegar sua capa e pular para o chão, mesmo que a altura fosse grande o suficiente para machuca-lo. Mas para alguém que vivia em um acampamento sobre as árvores, acho que ele já deveria estar acostumado com a altura.

Lembrei do nossos último encontro, quando Sky tentou chegar até onde eu e Mia estávamos. Quando ele me pegou no colo cuidadosamente quando me alcançou, como se eu fosse algo precioso pra ele. Aquilo era impossível. Eu duvidava que pudesse existir algo que Sky gostasse mais do que si mesmo. Mas ali estava ele, me encarando como se estivesse aliviado por me ver, mesmo que o sorriso que ele abriu tenha sido totalmente sarcástico.

—Olá, meu bem.

Continua...