3

400 15 0
                                    

Existe uma lenda sobre o motivo daquele local fascinante e melancólico estar deserto, que eu contarei no momento oportuno.
Devo dizer que o grupo que formava os habitantes de nosso castelo era muito pequeno. Não estou incluindo os criados, ou os dependentes que ocupam quartos nos edifícios adjacentes ao schloss. Ouçam, e espantem-se! Meu pai, o homem mais gentil da terra, mas envelhecendo; e eu, que na época da minha história, tinha somente dezenove anos. Passaram-se oito anos desde então.
Eu e meu pai constituíamos a família do schloss. Minha mãe, uma dama estíria, morreu quando eu era um bebê, mas eu tinha uma governanta gentil, que estava comigo, posso quase dizer, desde minha infância. Não consigo me lembrar de um tempo quando seu rosto gordo e benevolente não fosse uma imagem familiar em minha memória.
Ela era Madame Perrodon, uma nativa de Berna, cujos cuidados e boa natureza compensavam em parte a perda de minha mãe, de quem nem mesmo me lembro, tão jovem era quando a perdi. Ela era o terceiro membro do nosso pequeno grupo na hora do jantar. Havia um quarto, Mademoiselle De Lafontaine, que era, como creio que vocês a chamariam, uma "instrutora de etiqueta”. Ela falava francês e alemão, Madame Perrodon falava francês e um inglês ruim, ao que meu pai e eu acrescentávamos o inglês, que falávamos todos os dias, em parte para impedir que ele se tornasse uma língua perdida entre nós, e em parte por motivos patrióticos. O resultado era uma Babel, da qual os estranhos costumavam rir, e que não tentarei reproduzir nesta narrativa. Havia, além disso, duas ou três jovens damas nossas amigas, aproximadamente da minha idade, que nos visitavam ocasionalmente, por períodos mais ou menos longos; visitas essas que eu às vezes retribuía.
Esses eram nossos recursos sociais regulares; mas é claro que havia visitas ocasionais de "vizinhos" que moravam a apenas cinco ou seis léguas de distância. Mesmo assim, minha vida dificilmente era solitária, posso assegurar.
Minhas governantas tinham tanto controle sobre mim quanto se poderia esperar que pessoas tão sábias tivessem sobre uma garota bastante mimada, cujo pai satisfazia quase todos os desejos.
O primeiro acontecimento que produziu uma impressão terrível sobre minha mente, que, na verdade, nunca foi apagada, foi também um dos primeiros incidentes de que posso me recordar. Algumas pessoas vão achá-lo tão trivial que não deveria ser registrado aqui. Entretanto, logo verão por que eu o menciono.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora