Aquele dia, Carmilla desceu do quarto bem mais tarde que de costume.
– Fiquei tão assustada noite passada – ela disse, assim que estávamos juntas – e tenho certeza que teria visto algo horrível se não fosse por aquele amuleto que comprei daquele pobre corcunda que chamei de nomes tão horríveis. Sonhei com algo preto ao redor da minha cama, e acordei completamente horrorizada, e realmente pensei, por alguns segundos, que vi uma figura negra perto da lareira, mas tateei sob o travesseiro, buscando o amuleto, e no momento que meus dedos o tocaram, a figura desapareceu, e tive certeza que se não o tivesse comigo, algo assustador teria aparecido, e, talvez, me atacado, como aconteceu com aquelas pobres pessoas de que ouvimos falar.
– Bem, ouça-me – comecei, e contei minha aventura, e ela pareceu horrorizada em ouvi-la.
– E você tinha o amuleto com você? – ela perguntou, ansiosa.
– Não, eu o coloquei em um vaso de porcelana na sala de estar, mas certamente o levarei comigo esta noite, já que você tem tanta fé nele.
Depois de tanto tempo, não posso dizer, ou mesmo compreender, como superei meu horror ao ponto de poder dormir sozinha no meu quarto aquela noite. Lembro-me distintamente de prender o amuleto no travesseiro. Adormeci quase imediatamente, e dormi ainda mais profundamente que o usual, a noite toda.
Passei a noite seguinte do mesmo modo. Meu sono foi deliciosamente profundo e sem sonhos.
Porém, acordei com uma sensação de lassitude e melancolia, que, entretanto, não ultrapassava um grau que era quase luxurioso.
– Bem, eu lhe disse – disse Carmilla, quando descrevi meu sono tranquilo – Eu mesma dormi deliciosamente noite passada; prendi o amuleto ao peito da minha camisola. Eu estava muito longe noite passada. Tenho certeza que foi tudo imaginação, exceto os sonhos. Eu costumava achar que os espíritos malignos criavam os sonhos, mas nosso velho médico disse que não era assim. Só uma febre passageira, ou algum outro desconforto, ele disse, bate à porta, e não sendo capaz de entrar, vai embora, deixando aquele alarme.
– E o que você acha que é o amuleto? – perguntei.
– Ele foi fumigado ou imerso em alguma droga, e é um antídoto contra a malária – ela respondeu.
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Carmilla - A Vampira de KARNSTEIN
VampirPrimeira tradução integral e anotada de uma das mais célebres histórias de vampiro da língua inglesa. Publicada em 1872 e primeira a ser protagonizada por uma vampira, apresenta uma densa atmosfera gótica e um erotismo subjacente que marcaram época...