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Meu pai riu, e disse que certamente era uma semelhança incrível. Mas, para minha surpresa, pareceu pouco impressionado, afastou o olhar, e continuou a falar com o restaurador de quadros, que era também um pouco artista, e discursou com inteligência sobre os retratos e outros trabalhos, que sua arte havia restaurado a luz e a cor, enquanto eu ficava mais maravilhada quanto mais olhava o quadro.
– Posso pendurar esse quadro em meu quarto, Papai? – pedi.
– Certamente, querida – ele disse, sorrindo – Fico muito feliz por você achá-lo tão parecido. Ele deve ser ainda mais bonito do que eu imaginava, se for mesmo tão parecido.
Carmilla não manifestou apreço por este belo discurso, e nem mesmo pareceu ouvi-lo. Ela estava inclinada em sua cadeira, seus belos olhos me observavam contemplativamente sob os longos cílios, e sorriu com arrebatamento.
E agora era possível ler claramente o nome escrito no canto. Não era “Marcia”; parecia ter sido escrito em ouro. O nome era “Mircalla, condessa de Karnstein”, e havia um pequeno diadema com o ano de 1698. Eu sou descendente dos Karnsteins; ou melhor, minha mãe era.
– Ah! – disse Carmilla, languidamente – eu também, acredito, sou uma descendente muito afastada, muito antiga. Há Karnsteins vivos hoje?
– Ninguém que carregue o nome, acredito. A família foi arruinada, creio, em algumas guerras civis, muito tempo atrás, mas as ruínas do castelo ficam a cerca de três milhas de distância.
– Que interessante! – ela disse, languidamente. – Mas vejam que lindo luar! – Ela olhou pela porta do hall, que estava entreaberta. – Poderíamos dar um pequeno passeio pelo pátio, e olhar para a estrada e o rio.
– É tão parecida com a noite em que você chegou – eu disse. Ela suspirou, sorrindo.
Ela se levantou, e com os braços em volta da cintura uma da outra, saímos para o pavimento.
Lenta e silenciosamente, caminhamos pela ponte levadiça, onde a linda paisagem se abria à nossa frente.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora