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Eu costumava querer fugir daqueles abraços tolos, que não eram muito frequentes, admito; mas parecia não ter energia. Ela murmurava palavras que soavam como uma cantiga de ninar para meus ouvidos, e transformava minha resistência em um transe do qual eu só parecia me recuperar quando ela se afastava.
Não gostava dela quando tinha essas disposições misteriosas. Eu experimentava uma estranha excitação conturbada, que era ocasionalmente agradável, mesclada a uma vaga sensação de medo e repulsa. Eu não tinha pensamentos distintos sobre ela enquanto duravam essas cenas, mas tinha consciência de um amor tornando-se adoração, e também repugnância. Sei que isso é um paradoxo, mas não tenho outra forma de explicar a sensação.
E agora escrevo, depois de um intervalo de mais de dez anos, com a mão trêmula, com lembranças confusas e horríveis de certos acontecimentos e situações, sofrendo a mesma provação que sofria inconscientemente na época, embora com lembrança vívida e aguda dos fatos principais da minha história.
Mas suspeito que nas vidas de todos existam certas cenas emocionais, nas quais nossas paixões são despertadas mais vivida e terrivelmente, que são as de que nos lembramos mais fracamente.
Às vezes, depois de uma hora de apatia, minha estranha e linda companheira segurava minha mão com uma pressão carinhosa, renovada repetidamente; corando levemente, olhando para o meu rosto com olhos lânguidos e calorosos, e respirando tão rápido que seu vestido subia e descia com a tumultuosa respiração. Era como o ardor de um amante. Aquilo me embaraçava, era odioso e ainda assim me dominava; e com olhos regozijantes ele me puxava para perto dela, e seus lábios quentes percorriam meu rosto com beijos; e ela sussurrava, quase soluçando: “Você é minha, você deve ser minha, você e eu ficaremos juntas para sempre". Então se jogava de volta na cadeira, cobrindo os olhos com as pequenas mãos, deixando-me trêmula.
– Somos parentes? – eu costumava perguntar. – O que quer dizer com tudo isso? Talvez eu a lembre de alguém que ama; mas não deve, odeio isso. Eu não conheço você... eu não reconheço a mim mesma quando você me olha e fala assim.
Ela costumava suspirar para minha veemência, e então se voltar e soltar minha mão.
Lutei em vão para formar qualquer teoria satisfatória sobre essas manifestações tão extraordinárias. Não podia considerá-las uma afetação ou truque.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora