– Confesso, General, que está me confundindo completamente – respondeu meu pai, olhando para ele, imaginei, com a suspeita que eu havia notado antes. Mas embora às vezes houvesse raiva e repulsa nos modos do velho General, não havia nada de irrefletido neles.
– Resta-me – ele disse, enquanto passávamos sob o pesado arco da igreja gótica, pois suas dimensões justificavam ela ter sido projetada dessa forma – apenas um objetivo que pode me interessar durante os poucos anos que me restam na terra, e este é fazer chover sobre ela a vingança que, graças a Deus, ainda pode ser realizada por um braço mortal.
surpreso. – De que vingança está falando? – perguntou meu pai, cada vez mais
– Pretendo decapitar o monstro – ele respondeu, subitamente inflamado, e em um tom que ecoou pelas ruínas vazias, e, no mesmo momento, ele levantou o punho fechado, como se segurasse o cabo de um machado, enquanto o agitava ferozmente no ar.
– O quê? – exclamou meu pai, mas surpreso do que nunca. – Cortar a cabeça dela. – Cortar a cabeça dela!
– Sim, com um facão, com uma pá, com qualquer coisa que possa cortar sua garganta assassina. Você verá – ele respondeu, tremendo de fúria. E avançando, disse:
– Aquela viga servirá para nos sentarmos; sua querida filha está fatigada; deixe-a sentar-se, e vou, em poucas palavras, encerrar minha história terrível.
O bloco quadrado de madeira, que estava sobre o pavimento coberto de grama da capela, formava um banco sobre o qual fiquei muito feliz em me sentar, e, enquanto isso, o General chamou o lenhador, que estava removendo alguns ramos que se inclinavam sobre as velhas paredes; e, com o machado em punho, o velho robusto ficou de pé à nossa frente.
Ele não pode nos dizer nada sobre aqueles túmulos, mas havia um ancião, ele disse, um guarda florestal, que naquele momento estava hospedado na casa do padre, a cerca de duas milhas dali, que podia indicar todos os túmulos da velha família Karnstein; e, em troca de algumas moedas, concordou em ir buscá-lo, se pudéssemos emprestar-lhe um dos nossos cavalos por pouco mais de meia hora. ao velho. – Faz muito tempo que trabalha nesta floresta? – meu pai perguntou
– Tenho sido lenhador aqui – ele respondeu – sob ordens do guarda florestal, minha vida toda, assim como meu pai antes de mim, e assim por diante, por tantas gerações quantas posso contar. Posso mostrar aos senhores a casa, nesta mesma vila, em que meus ancestrais viviam.
– Como a vila ficou deserta? – perguntou o General.
– Ela foi atacada por mortos-vivos, senhor; muitos foram seguidos até suas tumbas, identificados pelos testes usuais, e extintos do modo usual, por decapitação, com a estaca, e pelo fogo; mas não antes que muitos dos aldeões fossem mortos.
– Mas depois de todos esses procedimentos, realizados de acordo com a lei – ele continuou – tantos túmulos abertos, e tantos vampiros privados da sua horrível animação, a vila não ficou tranquila. Mas um nobre morávio, que estava viajando por aqui, ouviu falar desses problemas, e sendo hábil, como muitas pessoas em seu país, nesse tipo de assunto, se ofereceu para livrar a vila de seu algoz. Ele o fez dessa maneira: como a lua estava brilhante naquela noite, ele subiu, pouco depois do por do sol, as torres da capela, de onde podia ver distintamente o terreno abaixo; vocês podem vê-la daquela janela. Daquele local, ele vigiou até ver o vampiro sair de seu túmulo, depositar a seu lado as roupas de linho com que fora enterrado, e então flutuar na direção da vila para atormentar seus habitantes.
O estranho, tendo visto tudo isso, desceu do campanário, recolheu as roupas de linho do vampiro, e as levou para o alto da torre, onde subira novamente. Quando o vampiro voltou de sua ronda e percebeu a falta das roupas, gritou furiosamente para o morávio, que viu no alto da torre, e que, em resposta,
o convidou a subir e reclamá-las. Com isso, o vampiro, aceitando o desafio, começou a subir o campanário, e assim que chegou às ameias, o morávio, com um golpe de espada, separou seu crânio em dois, jogando-o para o cemitério, para onde o estranho o seguiu, pelas escadas, e cortou sua cabeça. No dia seguinte, ele a entregou, juntamente com o corpo, para os aldeões, que os empalaram e queimaram.
Esse nobre morávio recebera autoridade do então líder da família para remover a lápide de Mircalla, Condessa de Karnstein, o que fez, de modo que em pouco tempo sua localização foi esquecida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Carmilla - A Vampira de KARNSTEIN
VampirePrimeira tradução integral e anotada de uma das mais célebres histórias de vampiro da língua inglesa. Publicada em 1872 e primeira a ser protagonizada por uma vampira, apresenta uma densa atmosfera gótica e um erotismo subjacente que marcaram época...