4

266 13 0
                                    

O berçário, como era chamado, embora fosse todo meu, era um quarto grande no andar superior do castelo, com piso de carvalho. Eu não devia ter mais de seis anos quando acordei uma noite, e, olhando para o quarto, não consegui ver a criada. Minha ama também não estava lá, e achei que estivesse sozinha. Não fiquei com medo, pois era uma daquelas afortunadas crianças que são deliberadamente isoladas das histórias de fantasmas, contos de fadas, e histórias que nos fazem cobrir a cabeça quando as portas rangem de repente, ou quando o tremeluzir de uma vela que se apaga faz uma sombra dançar na parede, mais perto dos nossos rostos. Fiquei aborrecida e insultada por me encontrar, como considerei, negligenciada, e comecei a choramingar, me preparando para chorar vigorosamente, quando, para minha surpresa, vi um rosto solene, mas muito bonito, olhando para mim do lado da cama. Era o rosto de uma jovem, que estava ajoelhada com as mãos sob o cobertor. Olhei para ela com uma espécie de surpresa agradável, e parei de choramingar. Ela me acariciou com as mãos, deitou- se ao meu lado na cama, e me abraçou, sorrindo. Senti imediatamente uma calma deliciosa, e adormeci novamente. Fui despertada pela sensação de que duas agulhas estavam se enterrado profundamente em meu peito, e gritei. A jovem se afastou, com os olhos fixos em mim, então deslizou para o chão e, como pensei, se escondeu debaixo da cama.
Então, pela primeira vez, tive medo, e gritei com toda a força. Aia, criada, governanta, todas entraram correndo, e, ao ouvir minha história, não lhe deram importância, enquanto me acalmavam o melhor que podiam. Mas, criança como eu era, podia perceber que seus rostos estavam pálidos e tinham uma aparência de ansiedade, e os vi procurarem embaixo da cama, e pelo quarto, e olharem sob mesas e abrir armários. A governanta sussurrou para a criada: "Coloque a mão naquela depressão na cama, alguém se deitou ali, com toda a certeza. O lugar ainda está quente”.
Lembro-me da criada me acariciando, e dos três examinando meu peito, onde eu disse ter sentido a pontada, e dizendo que não havia sinal visível de que algo tivesse acontecido.
A governanta e as outras duas criadas responsáveis pelo berçário continuaram comigo toda a noite, e a partir daquele momento, uma criada sempre ficava no quarto comigo, até eu fazer catorze anos.
Muito tempo depois disso, fiquei muito nervosa. Um médico foi chamado. Ele era pálido e idoso. Como me lembro bem de seu longo rosto saturnino, levemente marcado pela varíola, e de sua peruca castanha. Por um longo tempo, a cada dois dias, ele vinha e me dava um remédio, que eu odiava, é claro.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora