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Acompanhei Carmilla até seu quarto, como de costume, e me sentei e conversei enquanto ela se preparava para dormir.
– Você acha – disse depois de um longo tempo – que algum dia vai confiar totalmente em mim?
Ela se voltou, sorrindo, mas não respondeu, só continuou a sorrir para
mim.
– Não vai responder? – perguntei. – Você não pode me dar uma resposta agradável; eu não deveria ter perguntado.
– Você tinha toda a razão em me perguntar isso, ou qualquer outra coisa. Você não sabe como é querida para mim, ou não acharia que qualquer tipo de confiança seria demais para pedir. Mas estou sob juramento, e não ouso contar minha história ainda, nem mesmo para você. O momento em que você saberá de tudo está muito próximo. Você vai me achar cruel e egoísta, mas o amor é sempre egoísta; quanto mais ardente, mais egoísta. Você não pode fazer ideia de como sou ciumenta. Você deve ficar comigo, me amando, até a morte; ou me odiar e mesmo assim ficar comigo, e me odiar através da morte e além. Não existe uma palavra como "indiferença" na minha natureza apática.
– Ora, Carmilla, você vai começar com suas bobagens de novo – eu disse, apressadamente.
– Não eu, pequena tola que sou, cheia de caprichos e vontades; pelo seu bem, falarei como uma sábia. Já esteve em um baile?
– Não. Como é? Deve ser encantador. – Mal me lembro, foram anos atrás. Eu ri.
– Você não é tão velha. Não pode já ter se esquecido do seu primeiro
baile.
– Lembro-me de tudo sobre ele, com esforço. Eu vejo tudo, como os mergulhadores veem o que está acontecendo acima deles, através de um meio denso, ondulado, porém transparente. O que ocorreu aquela noite confundiu a imagem, e tornou suas cores opacas. Quase fui assassinada em minha cama, fui ferida aqui – ela apontou o seio – e nunca fui a mesma depois daquilo.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora