Carmilla, de fato, parecia furiosa quando se afastou da janela.
– Como aquele charlatão ousa nos insultar assim? Onde está seu pai? Devo exigir uma reparação dele. Meu pai faria que aquele patife fosse amarrado e chicoteado, e queimado até os ossos com um ferro de marcar gado!
Ela se afastou um ou dois passos da janela, sentou-se, e mal havia perdido de vista seu ofensor quando sua fúria cedeu tão subitamente quanto havia surgido, seu rosto recuperou gradualmente seu tom de costume, e ela pareceu esquecer o pequeno corcunda e suas tolices.
Meu pai estava muito desanimado aquela noite. Ao entrar, ele nos disse que havia ocorrido outro caso muito similar aos dois casos fatais que haviam ocorrido recentemente. A irmã de um jovem camponês da propriedade, a apenas uma milha de distância, estava muito doente e fora, como descreveu, atacada de modo muito parecido e estava agora definhando lenta, mas constantemente.
– Tudo isso – disse meu pai – é perfeitamente explicável por causas naturais. Essas pobres pessoas infectam uma à outra com suas superstições, e repetem em suas imaginações as imagens de terror que flagelaram seus vizinhos.
– Mas essa circunstância é, por si só, horrivelmente assustadora – disse Carmilla.
– Como assim? – perguntou meu pai.
– Tenho muito medo de imaginar ver coisas assim. Creio que seria tão ruim quanto a realidade.
– Estamos nas mãos de Deus: nada pode acontecer sem sua permissão, e tudo acabará bem para aqueles que o amam. Ele é nosso fiel criador. Ele nos criou a todos, e irá cuidar de nós.
– Criador! Natureza! – disse a jovem dama em resposta ao meu gentil pai. – E essa doença que invade o campo é natural. Natureza. Todas as coisas vêm da Natureza, não? Todas as coisas nos céus, na terra e sob ela agem e vivem como a Natureza ordena? Eu acredito que sim.
– O doutor disse que viria hoje – disse meu pai, depois de uma pausa. – Quero saber o que ele pensa disso, e o que acha que deveríamos fazer.
– Os médicos nunca me fizeram nada de bom – disse Carmilla. – Então você esteve doente? – perguntei.
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Carmilla - A Vampira de KARNSTEIN
VampirePrimeira tradução integral e anotada de uma das mais célebres histórias de vampiro da língua inglesa. Publicada em 1872 e primeira a ser protagonizada por uma vampira, apresenta uma densa atmosfera gótica e um erotismo subjacente que marcaram época...