Enquato isso, o charlatão, de pé no meio do pátio tirou o chapéu grotesco e inclinou-se cerimoniosamente para nós, prestando seus respeitos fluentemente em um francês execrável, e em um alemão não muito melhor.
Então, pegando a rabeca, ele começou a tocar uma melodia animada, que cantou alegre, mas desafinadamente, dançando com ares burlescos, que me fizeram rir, apesar dos uivos do cachorro.
Ele então avançou para a janela, com muitos sorrisos e saudações, com
o chapéu na mão esquerda, a rabeca sob o braço, e falando sem parar para respirar, fez uma longa propaganda de todas suas realizações, e dos recursos das muitas artes que colocava a nosso serviço, e das curiosidades e diversões que estavam sob seu poder exibir, a uma ordem nossa.
– As senhoras devem desejar comprar um amuleto contra o oupire[1],
que está atacando essas florestas como um lobo – ele disse, derrubando o chapéu no pavimento. – As pessoas estão morrendo a torto e a direito e eis aqui um amuleto que nunca falha; é só prendê-lo ao travesseiro, e as senhoras poderão rir do monstro.
Aqueles amuletos consistiam de pedaços oblongos de pergaminho, cobertos de símbolos e diagramas cabalísticos.
Carmilla comprou um imediatamente, e eu também.
Ele estava olhando para cima, e estávamos sorrindo para ele, divertidas; pelo menos, posso dizer que eu estava. Enquanto olhava para nossos rostos, seu olhar penetrante pareceu detectar algo que chamou sua atenção. Logo ele desenrolou um estojo de couro, cheio de todo tipo de estranhos pequenos instrumentos de aço.
– Veja, minha senhora – ele disse, exibindo-os, e, se dirigindo a mim – eu pratico, entre outras coisas menos úteis, a profissão de dentista. Que a praga leve esse cachorro! – ele disse. – Silêncio, animal! Ele uiva tanto que as senhoras mal podem ouvir uma palavra. Sua nobre amiga, a jovem dama à sua direita, tem dentes muito afiados, longos, finos e pontudos, como um furador, como uma agulha, há, há! Com meu olhar agudo, eu olho para cima, e os vejo distintamente. Agora, se por acaso eles ferirem a jovem senhora, e eu creio que devem fazê-lo, aqui estou eu, minha lima, meu punção, meus alicates. Posso deixá-los arredondados e sem corte, se a senhora desejar. Não mais os dentes de um peixe, mas os de uma linda jovem senhora como devem ser. Hã? A jovem dama está descontente? Fui ousado demais? Eu a ofendi?
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Carmilla - A Vampira de KARNSTEIN
VampirePrimeira tradução integral e anotada de uma das mais célebres histórias de vampiro da língua inglesa. Publicada em 1872 e primeira a ser protagonizada por uma vampira, apresenta uma densa atmosfera gótica e um erotismo subjacente que marcaram época...