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" Minha querida filha estava linda. Ela não estava usando máscara. Sua empolgação e deleite acrescentaram um charme inexplicável às suas feições, sempre adoráveis. Notei uma jovem, vestida magnificamente, mas usando máscara, que parecia estar observando minha protegida com extraordinário interesse. Eu a havia visto mais cedo naquela noite, no grande salão, e novamente, por alguns minutos, caminhando perto de nós no terraço sob as janelas do castelo, também a observando. Uma dama, também mascarada, e vestida com gravidade, com ar imponente, como uma pessoa de posição, a acompanhava.
“Se a jovem não estivesse usando máscara, eu poderia, é claro, ter muito mais certeza sobre se ela estava realmente observando minha pobre querida.
“Agora tenho certeza de que sim.
“Estávamos em um dos salões. Minha pobre filha estivera dançando, e estava descansando um pouco em um das cadeiras perto da porta; eu estava de pé perto dela. As duas damas que mencionei haviam se aproximado, e a mais jovem sentou-se na cadeira ao lado da minha protegida enquanto sua companheira ficou de pé ao meu lado, e por algum tempo conversou, em voz baixa, com sua protegida.
"Aproveitando o privilégio de sua máscara, ela voltou-se para mim, e no tom de uma velha amiga, chamando-me pelo nome, entabulou uma conversa que me deixou muito curioso. Ela se referiu a muitas ocasiões em que haveria me encontrado, na corte, e em casas distintas. Aludiu a pequenos incidentes nos quais eu não pensava há muito, mas que, descobri, estavam apenas ocultos em minha memória, pois voltaram imediatamente à vida ao seu toque.
“A cada momento eu ficava mais e mais curioso para saber quem ela era. Ela resistiu hábil e graciosamente às minhas tentativas de descobrir sua identidade. O conhecimento que ela demonstrou sobre muitas passagens de minha vida me parecia inexplicável. Ela pareceu ter um prazer incomum em frustrar minha curiosidade, e em me ver debater-me em minha perplexidade, indo de uma conjectura para outra.
“Enquanto isso, a jovem, cuja mãe chamou pelo incomum nome de Millarca, quando, uma ou duas vezes, falou com ela, havia, com a mesma facilidade e graça, entabulado uma conversa com minha protegida.
“Ela se apresentou dizendo que sua mãe era uma velha conhecida minha. Falou da agradável audácia que a máscara permitia; falou como uma amiga; admirou seu vestido, e insinuou gentilmente sua admiração por sua beleza. Ela a divertiu com críticas risonhas às pessoas no salão de baile, e riu com o divertimento da minha pobre filha. Ela era muito inteligente e viva quando queria, e, depois de algum tempo, elas ficaram muito boas amigas, e a jovem estranha retirou a máscara, mostrando um rosto notavelmente belo. Eu nunca havia visto-a antes, e nem minha querida filha. Mas embora ela fosse nova para nós, seus traços eram tão cativantes e adoráveis que era impossível não sentir a forte atração. Minha pobre garota a sentiu. Eu nunca vi ninguém mais encantada à primeira vista com outra pessoa, a menos, é claro, que fosse a própria estranha, que parecia ter perdido o coração para ela.
“Enquanto isso, aproveitando-me da licença das fantasias, fiz algumas perguntas à dama mais velha.
“– A senhora me deixou completamente confuso – eu disse, rindo. – Não é o bastante? Não consentirá agora em ficarmos em igual posição, e fazer a gentileza de tirar sua máscara?
“– Poderia um pedido ser mais despropositado? – ela respondeu. – Pedir a uma dama para abrir mão de uma vantagem! Além disso, como sabe que me reconheceria? Os anos causam mudanças.
melancólico. “– Como vê – eu disse, com uma mesura, e, suponho, um riso bastante
"– Como os filósofos nos dizem – ela disse. – E como sabe que ver meu rosto lhe ajudaria?
“– Devo correr o risco – respondi. – É em vão tentar se passar por uma mulher idosa, sua figura a trai.
“– Mesmo assim, anos se passaram desde que o vi, ou melhor, desde que o senhor me viu, pois é isso que estou considerando. Millarca, aqui, é minha filha; então, não posso ser jovem, mesmo na opinião das pessoas que o tempo ensinou a serem indulgentes, e posso não gostar de ser comparada com a lembrança que tem de mim. O senhor não tem máscara para retirar. Não pode me oferecer nada em troca.
“– Peço à sua piedade para removê-la.
respondeu. “– E eu à sua, para permitir que ela permaneça onde está – ela
“– Bem, então, pelo menos me diga se é francesa ou alemã; a senhora fala os dois idiomas tão perfeitamente.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora