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seus dentes e mãos estavam apertados, ela franziu a testa e comprimiu os lábios enquanto olhava para o chão sob seus pés, e tremia continuamente, como se estivesse doente. Todas suas energias pareciam empenhadas em suprimir um ataque com o qual ela lutava furiosamente, e afinal ela deu um grito baixo e convulsivo de dor, e gradualmente a histeria cedeu. – Pronto! É isso que acontece quando se estrangula pessoas com hinos! – ela disse, afinal. – Me abrace, me abrace forte. Está passando.
E, gradualmente, foi passando; e talvez para dissipar a impressão sombria que o espetáculo havia me causado, ela ficou incomunmente animada e faladora, e então fomos para casa.
Essa foi a primeira vez que a vi exibir qualquer sintoma definido daquela saúde delicada de que sua mãe havia falado. Também foi a primeira vez que a vi exibir aquele temperamento.
Ambos desapareceram como uma nuvem no verão, e somente uma vez depois daquilo eu testemunhei um sinal momentâneo de fúria por parte dela. Vou contar como aconteceu.
Ela e eu estávamos olhando por uma das grandes janelas da sala de estar, quando entrou no pátio, pela ponte levadiça, a figura de um andarilho que eu conhecia muito bem. Ele costumava visitar o schloss, geralmente duas vezes por ano.
Era a figura de um corcunda, com as feições agudas e magras que geralmente acompanham a deformidade. Ele tinha uma barba negra pontuda, e sorria de orelha a orelha, mostrando os dentes brancos. Usava roupas castanhas, pretas e escarlates, cruzadas por mais tiras e cintos do que eu poderia contar, nos quais estavam pendurados todo o tipo de coisas. Nas costas, ele levava uma lanterna mágica, e duas caixas, que eu conhecia bem. Em uma delas ele levava uma salamandra, e na outra uma mandrágora. Aqueles monstros costumavam fazer meu pai rir. Eram compostos por partes de macacos, papagaios, esquilos, peixes e ouriços, secos e costurados com grande cuidado, e causavam um efeito assustador. Ele tinha uma rabeca, uma caixa com instrumentos para invocar espíritos, um par de lâminas e máscaras presas ao cinto, e muitas outras caixas misteriosas penduradas ao seu redor. Na mão ele levava um cajado negro, com anéis de cobre. Seu companheiro era um cachorro vadio de aparência grosseira, que seguia logo atrás dele, mas parou, desconfiado, na ponte levadiça, e logo começou a uivar funestamente.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora