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De minha parte, eu estava deleitada. Estava ansiosa para ver e falar com ela, esperando só que o médico me desse permissão. Vocês, que vivem em cidades, não têm ideia que como conhecer um novo amigo é um grande evento na solidão que nos cerca.
O médico não chegou até quase uma hora, mas eu não era mais capaz de ir para a cama e dormir do que de alcançar, a pé, a carruagem na qual a princesa trajada de veludo negro havia partido.
Quando o médico desceu para a sala de estar, foi para dar boas notícias sobre a paciente. Ela já estava sentada, seu pulso estava bastante regular, e parecia perfeitamente bem. Ela não havia se ferido, e o pequeno choque aos seus nervos havia sido inofensivo. Certamente não haveria risco em eu vê-la, se nós duas desejássemos; e, com sua permissão, mandei perguntar se ela me permitiria visitá-la em seu quarto por alguns minutos.
O criado retornou imediatamente para dizer que não havia nada que ela desejasse mais.
permissão. Pode ter certeza de que eu não demorei em tirar proveito dessa
Nossa visitante ocupava o mais belo dos quartos do schloss. Ele era, talvez, um pouco pomposo. Havia uma sóbria tapeçaria na parede oposta à cama, representando Cleópatra com as víboras no seio; e outras solenes cenas clássicas também eram exibidas, um pouco desbotadas, sobre as outras paredes. Mas havia gravuras em ouro, e cores ricas e variadas nas demais decorações do quarto, mais do que o bastante para redimir a melancolia das velhas tapeçarias.
Havia velas ao lado da cama. Ela estava sentada na cama, sua bela figura esguia estava envolvida pela seda macia da camisola, bordada com flores e forrada de espessa seda acolchoada, que sua mãe havia colocado sobre ela quando estava desmaiada no chão.
O que teria sido que me atordoou e me fez recuar um ou dois passos quando cheguei ao lado da cama e comecei a cumprimentá-la? Vou lhes contar.
Eu vi o mesmo rosto que havia me visitado na infância, que continuava muito vívido em minha memória, e sobre o qual pensei tantas vezes, com horror, por todos aqueles anos, quando ninguém suspeitava em que eu estava pensando.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora