37

83 9 0
                                    

Seria em vão tentar explicar o horror com que, mesmo hoje, me recordo do que aconteceu aquela noite. Não foi um terror transitório, como o que um sonho deixa atrás de si. Ele pareceu aumentar com o tempo, comunicou-se para
o quarto e para a própria mobília que cercara a aparição.
No dia seguinte, não pude suportar ficar sozinha nem por um momento. Eu devia ter contado a Papai, por dois motivos opostos. Por um lado, achei que ele riria da minha história, e não poderia suportar ser tratada como uma piada; e por outro, achei que ele poderia pensar que eu fora atacada pela misteriosa doença que invadira nossa região. Eu mesma não tinha tais ilusões, mas como fazia algum tempo que ele era quase um inválido, tive medo de alarmá-lo.
Eu estava bastante confortável com minhas gentis acompanhantes, Madame Perrodon e a vivaz Mademoiselle De Lafontaine. As duas perceberam que eu estava nervosa, e contei a elas o que pesava em meu coração.
preocupada. Mademoiselle riu, mas achei que Madame Perrodon pareceu
– A propósito – disse Mademoiselle, rindo – o caminho das limeiras, atrás da janela do quarto de Carmilla, está assombrado!
– Bobagem! – exclamou Madame, que provavelmente achava o tema bastante inoportuno – quem contou essa história, minha querida?
– Martin disse que veio até aqui duas vezes antes do amanhecer, quando o velho portão do jardim estava sendo consertado, e duas vezes viu uma figura feminina andando pela avenida das limeiras.
– E deveria mesmo, enquanto houver vacas para ordenhar nos campos do rio – disse Madame.
– Me arrisco a dizer que sim; mas Martin escolheu ficar assustado, e nunca vi um tolo mais amedrontado.
– Você não deve dizer uma palavra sobre isso a Carmilla, porque ela pode ver aquele caminho da janela do seu quarto – intervi – e ela é, se isso for possível, mais covarde do que eu.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora