A estranha carta se encerrava nestes termos. Embora nunca tivesse visto Bertha Rheinfeldt, meus olhos se encheram de lágrimas com aquela notícia repentina. Fiquei perturbada, além de profundamente desapontada.
O sol estava se pondo, e era crepúsculo quando devolvi a carta do General para meu pai.
Era uma noite clara, e caminhamos mais, especulando sobre os possíveis significados das violentas e incoerentes sentenças que eu acabara de ler. Precisávamos caminhar quase uma milha antes de chegar à estrada que passa na frente do schloss, e naquele momento a lua brilhava intensamente. Na ponte levadiça, encontramos Madame Perrodon e Mademoiselle De Lafontaine, que haviam saído, sem seus chapéus, para aproveitar o maravilhoso luar.
Elas estavam engajadas em uma animada conversa quando nos aproximamos. Juntamos-nos a elas na ponte, e nos voltamos para admirar a linda cena.
À nossa frente estava a clareira pela qual havíamos acabado de passar. À nossa esquerda, a estreita estrada serpenteava sob grupos de árvores de aparência nobre, e desaparecia de vista dentro da floresta. À direita, a mesma estrada cruza a íngreme e pitoresca ponte, perto da qual fica uma torre em ruínas, que um dia guardara aquela passagem. E, além da ponte, o terreno se eleva abruptamente, recoberto com árvores, e exibe nas sombras algumas rochas cinzentas cobertas de hera.
Além do relvado e terrenos baixos, uma fina camada de névoa se deslocava como fumaça, marcando as distâncias com um véu transparente; e aqui e ali podíamos ver o rio brilhando fracamente sob o luar.
Não se poderia imaginar uma cena mais doce e agradável. A notícia que eu acabara de receber a tornara melancólica; mas nada poderia perturbar seu caráter de profunda serenidade, e a glória e imprecisão mágicas do panorama.
Eu e meu pai, que apreciava o pitoresco, ficamos olhando em silêncio para a vastidão abaixo de nós. As duas boas governantas, de pé um pouco atrás de nós, discursavam sobre a cena e sobre a lua.
Madame Perrodon era gorda, de meia-idade, romântica, e falava e suspirava poeticamente. Mademoiselle De Lafontaine, fazendo jus a seu pai alemão e se considerando psicológica, metafísica e um pouco mística, afirmou que a lua estava brilhando com uma luz muito intensa, o que se sabia ser indicação de atividades espirituais especiais. Aquele brilho da lua cheia tinha muitos efeito.
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Carmilla - A Vampira de KARNSTEIN
VampirePrimeira tradução integral e anotada de uma das mais célebres histórias de vampiro da língua inglesa. Publicada em 1872 e primeira a ser protagonizada por uma vampira, apresenta uma densa atmosfera gótica e um erotismo subjacente que marcaram época...